sábado, 31 de julho de 2010

Violência doméstica


E quando se julga tudo estar bem, descobre-se que nem assim é, por muito que aparente ser. Temos o dom (?) de ocultar o que nos envergonha, ou que por alguma forma nos atinge tanto, que nem queremos que se saiba, e de resto, também para quê. E conseguimos transparecer a calma e a tranquilidade, quando o que se sente por dentro é o pavor e o desespero, o que julgo que bem feito, o disfarce, diga-se, nem é para todos, mas enfim, há quem o consiga. Considero por momentos, estar presente uma terrível mentira de má fé, de tão incoerente me parecer. Oiço a história, incrédula, quase me parecendo um boato, daqueles que surgem assim, sem se saber como, embora na maioria das vezes, até esses, têm um qualquer fundo verdadeiro. Não concebo que nos dias de hoje e dentro de uma sociedade que se diz de primeiro mundo, aconteçam situações de violência doméstica, física e psicológica, de forma repetida e terrivelmente nefasta para a vítima. Custa-me a entender a sujeição, muitas das vezes não absolutamente necessária, mas ainda assim, talvez até o seja um pouco, que de alguma forma, e quando o motivo não é familiar ou financeiro, algo, seja que algo for, segurará a vítima ao agressor. Percebo ainda menos, o que faz um Homem agredir uma mulher, admitindo também o contrário, obviamente. Um Homem e uma Mulher de vidas estruturadas, nível económico e cultural, que ainda que estes não constituam sinais de tranquilidade e respeito, deveriam ajudar um pouco, tenho para mim. O que será que lhes dá, para além do gozo da posse, completamente descabido numa mente saudável? Só justifico então com doença, que mais faça. E as doenças curam-se. Ou não, que temos as outras, as incuráveis, e estamos então perante alguém que chegou a um fim, ainda que não físico, ao menos social, que quem assim exerce tão terrível poder, está num estado limite dentro da sociedade. Estou incrédula. Nem devia, mas estou.

Passeios

Eu e a mana estivemos em planos futuros, que não nos podemos ajuntar sem pensar em passeio, que duas saímos nós. Nos planos, percorremos viagens virtuais a Israel, Jordânia, Egipto, Turquia, Indonésia, Quénia, Índia, e por aí fora, que os destinos a conhecer são mais que muitos, apenas toldados pelas bolsas, que não fosse isso, e já estaríamos por ora a rumar para qualquer um deles. Sinto-me particularmente atraída pelo Safari no Quénia, que, ao invés do que os que me conhecem possam pensar, é uma das viagens que me povoa os sonhos. Tendas, leões e animais selvagens no meio da selva, perseguem-me há muito. Nem eu me entendo muito bem, que nem sequer sou muito dada a bicharada perigosa, sendo até portadora de alguns medos assumidissimos, incluindo borboletas, animal terrível, como sabem, e estava aqui mais do que pronta, para rumar para lá, dormir em tendas e palmilhar de jipe todo o trajecto. Dizem que sonhar não faz mal a ninguém e eu concordo. Ir até lá, ou a qualquer outro destino agora já, tenho para mim que também não me faria mal algum, mas enfim. Tanto desfiz nas palavras do Senhor nosso Presidente, que acabei por lhe fazer a vontade, ainda que à minha revelia. Sou uma Patriota eu.

Nadas

É Sábado. Nem me apetece ir para a praia que se quer com calor, mas não com atafulhos de gente. Já li jornais, já comi gelados, já li livros, já dormi muito. Porque às vezes sabe-me bem o sossego e a fresquidão do meu lar. Tenho dias, em que a correria me assola, quase como se o nada fosse isso mesmo, nada, e eu precisa-se encher-me de coisas. Sei o que isto significa, claro que sim. Porém, quando me permito aos nadas, sinto-me bem. Deveria fazê-los mais vezes. Engraçado é, que o pequeno também já gosta dos nadas, que ele enche ao sabor da vontade, de gormittis, xenox, legos e assim. Vou até ali agora encher-me com ele.

Feio

"Se morresse amanhã já não ia mal servido. Não tive uma vida má, fiz tudo o que queria", disse numa entrevista à "Pública", em Junho de 2009. ( I online)

Continua alguma mágoa em mim, nem sequer porque o conhecia, pois não era o caso. Mas pela luta, pela coragem. Ao menos disse isto, que espero verdade. E que todos o pudessem dizer assim.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Errar

Pega no telefone e liga-me, num pedido estranho como só ele. Nesta vida, é bem certo, que quem muito sobe ou julga subir, quando desce, perde o amparo do orgulho, até porque as subidas, quando nada sustentadas, têm destas coisas. Às vezes, arrisco dizer que nem subidas são, que isto de subir é um tanto ou quanto delicado, há subidas e subidas, pseudosubidas, e pelo menos para mim, verdadeiras subidas, as do espírito, essas sim, que nos acompanham para sempre, em nada como as outras. Oiço-o, com a minha tradicional calma, que nos entretantos abanou, por me apetecer perguntar-lhe se já desceu ao Mundo. Não o fiz, simplesmente porque achei que nada ganharia, senão o tradicional sorriso parvo com que ficamos, quando concluímos alguma certeza, já por nós certa há muito, mera presunção. Diz lá então, pergunto, após o desabafo, do que precisas? Precisava de uma orientação, de um favor, de um destino há muito procurado, por há muito se ter perdido nestes caminho da vida, que às vezes, até se iluminam, mas que na ganância da grandeza, parece nem ver-se a luz, terrível cegueira esta, a de quem não quer ver. Na incredulidade que me inundou, consegui proferir qualquer coisa, comprometendo-me ainda a dar uma ajuda, há muito tencionada, até hoje rejeitada. Com a clareza de que, a ter vindo a tempo, fosse pelas mãos de quem fosse, que até poderiam ser as suas, se não ocupadas com realidades fictícias, se teriam percorrido outros caminhos, tido outros destinos, que pareceram em tempos nada valer, para agora, tudo serem. O aprenderás com os erros assume aqui todo o sentido. Que se aprenda, ao menos que se aprenda. E que se interiorize que o Homem, é um ser social. Tão, mas tão social. E que sozinho, apenas envolto em si e nas suas faculdades, fica no aquém.

Lutas

Porque existem daquelas que nos vencem, mesmo quando se luta com todas, todas, mas todas, as forças.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Hoje vi amor

Chega-me a cuidadora e a sobrinha, e sorriem-me, como se em mim depositassem toda a confiança do mundo, ainda que sem me conhecerem. Deve ser mais ou menos o mesmo sentimento, que me acompanhou quando deixei pela primeira vez o meu filho no infantário, e o entreguei a alguém credenciado, obviamente, mas estranho, estranho demais para entregar em sossego, o meu bem mais precioso. A sobrinha fala, conta da doença em estado terminal do tio já nos oitenta, e pergunta-me das nossas capacidades, que existem, de tanto que são necessárias. Muitos já acompanhei assim, estranha vocação para a grande maioria, uma bênção que trago comigo, digo eu. Consigo passar-lhe alguma tranquilidade, por pouca que seja, ao ponto de me ser confiado o Senhor.
Entre as conversas, vão surgindo lágrimas no rosto da cuidadora, que arrisco, meio a medo, a questionar, pela emoção que encerravam dentro. Mas a Senhora era vizinha? Sorriem-me ambas, a suposta vizinha e a sobrinha, que me diz num sorriso terno, não, não era só. Era uma companheira de há algum tempo. Estas lágrimas que vê são amor.

É sempre lindo o amor. Aos oitenta é muito lindo. E acreditar e lutar por um, num final de vida, nem sei como definir.

Era uma vez o Homem


Ontem vejo um DVD da série Era uma vez o Homem, que o meu filho segue religiosamente. Um episódio que trata terras Americanas, descobertas de ouro, e escravatura. Aquilo que se vê, nada é, que são desenhos animados, ainda que fieis, sendo que se fica a anos luz de distância das duras realidades vividas por aquelas pessoas. Fico sempre na dúvida da minha sensatez, em lhe permitir a tomada de consciência de gentes tão baixas, mesmo que numa série infantil/juvenil. Que ainda existem aos magotes, ainda que hoje mais disfarçadas, ou às vezes, arrisco dizer, nem por isso. Acabo por deambular internamente, e por concluir que o conhecimento de realidades, mesmo que trágicas, terá sempre maior beneficio do que prejuízo, ainda que na dose certa, obviamente, que as tenras idades ainda não se protegem convenientemente de agruras extremas.
Vimos os dois, falamos os dois, concluímos os dois que há gente boa e gente má, que é bom saber-se desde cedo, e tenho para mim, que ele até já sabia disso. E reforçaram-se os ideais de igualdade, que nas sociedades actuais, numa incongruência terrível da evolução (?) humana, nunca é demais apelar ao que deveria ser um básico bom senso, muitas das vezes esquecido, em prol de interesses mesquinhos e poderosos. Aproveita-se a deixa, e incluem-se outras desigualdades, as Mulheres e o Islamismo. O seu olhar muito aberto e intrigado diz-me que ainda é uma criança, coisa que às vezes quase esqueço, perante a sua sede de saber. Ficamos então por ali.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Amores para sempre

Espicaça-me este forte aperto no peito que se acende fundo, ainda que eu às vezes, nem queira. O que funesto julgamos ser, nada disso é, quando o cravo que nos deixa se começa a tornar incómodo de fausta envolta. Quando o que quero mesmo, nem são as tuas alegrias, os teus bons momentos, os teus sorrisos, que também os querendo nem os quero só. Preciso dos teus maus momentos, dos teus maus humores, do teu acordar mal disposto. Preciso das tuas dores, porque te quero segurar na mão, porque me apetece amparar-te, como se mais nada fosse, poético, não é? Dizem por aí que a paixão quando serenada, nos pode deixar assim, e que isto se calhar é amor, aquele da tristeza e da alegria, da saúde e da doença, que eu até já jurei uma vez, e pequei, tamanho sacrilégio para uma que se julga devota do Senhor. Ainda para mais que agora, embora por vezes ainda em latente negação, a outro juraria outra vez, com uma certeza maior, uma vontade muito superior, e uma crença muito mais profunda na jura que faria, que nós humanos, no pecado da incerteza futura, juramos assim. Muito embora sabendo, que aquela coisa do para sempre, que nos amima a alma, porque nos abriga num abrigo perfeito, é tão frágil como nada mais. Ou será um dia, que hoje, o meu para sempre era para sempre mesmo. Tão, mas tão para sempre.

Hermínia, minha tia

Hermínia era uma menina de aldeia, boas famílias, religiosas. Por meandros regidos pelo coração, que ninguém entende, bem sabem, perdeu-se de amores por um Homem bastante mais velho, de ar carrancudo e feitio difícil, do qual muito se queixou ao longo dos anos de casório, até que se acomodou à escolha feita. Ainda vem do tempo em que quem escolhe, escolheu, e em que o casamento era para a vida, até porque, também ela não era perfeita, que nasceu de ventre seco, e nem seria qualquer um que se acomodaria assim a não deixar descendência, constituindo pois este, fundamento mais do que fundamentado, para ser abandonada para todo o sempre, se o escolhido ambicionasse constituir família, para além da esposa. Deus foi-lhe portanto generoso, que lhe trouxe alguém disposto a ultrapassar tamanho defeito, pelo que só poderia estar-lhe grata, a aceitar de bom modo e dedicação, o marido que lhe deu. Em pequena, cheguei a frequentar-lhes a casa, e lembro-me de a achar bonita, e de o achar asqueroso, quando regressava, vindo do trabalho, com os pés inchados a pedir consolo. Prontamente ela lhe arranjava a bacia de água com sabão clarim, os afundava e massajava com uma dedicação tremenda, enquanto ouvia as queixas da gota, do reumático e do ácido úrico. Fez-se aquilo, ouvia eu, dizeres da minha avó, que muito de perto vivia a história, ou não fosse cunhada querida e do coração.
Hoje olho a família, fraca que seja, que continuam dois, e vejo dois velhos em vez de um. Um, já muito velho, ainda mais cocho, ainda com mais gota, ácido úrico e reumático, para além de outros males, decorrentes da velhice. Ela, já desdentada, embora ainda sem idade para isso. Povoada por um desleixo de morte, que a apanhou ainda em vida, para não mais se largar, fico sempre na dúvida, se é o desleixo que é poderoso em algumas gentes, se são algumas gentes, que são por demais fracas, perante a sua presença. Talvez porque se gastem de mais em coisas vãs, que as sugam e lhes levam a existência, como se essa, grandiosa coisa, se pudesse assim desperdiçar, e sensato fosse, entregar vidas de mão beijada a alguém. Nem sei bem o que ela sente ao olhar para trás e para os anos de dedicação. Nem sei se o amor que lhe sentiu, foi forte o suficiente, pra lhe acartar alguma felicidade, em tão limitada existência, e no meio dos desafogos, que todos temos, é certo. Se assim foi, que admito possível, dado a estranheza do coração, um bem haja para ela, que foi feliz. E que eu me debruce bem sobre o amor, a felicidade e a vida, que estou longe, mas tão longe, desta quietude.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Saltos


E perguntam-me algumas como aguento um dia inteiro, incluindo minha querida mãe, nada dada a estas coisas. Os saltos de meio metro, diga-se. Minhas caras, uma simples explicação, que se enquadra na perfeição em muitos sacrifícios de Mulheres, daquelas que são vaidosas, uma chatisse, podem crer. Aguento os saltos, porque gosto de me ver assim, um tanto ou quanto mais elevada, com uma outra figura, que rasteira não consigo nem perto, porque o meu metro e sessenta e cinco não deixa, o malvado. À custa deles, elevo-me. Doem-me os pés, claro que sim, as pernas e tudo, obviamente, mas fico grande pra caraças, e por isso, sacrifico o bem estar. Mas nós, Mulheres vaidosas, somos assim. Quem diz assim, diz de lenço ao pescoço debaixo de calor a fim de compor a toilette. E diz de saia em dias de frio de rachar. E diz de casaco tailleur, em dias mornos, porque assenta como uma luva por cima daquela camisa. E diz de cabelo solto, em dias tórridos, a cozer o pescoço, porque os apanhados nem nos favorecem. E outras coisas que ninguém entende senão nós. E já a minha querida avó dizia que o brio é coisa poderosa, e é, que ela tinha sempre razão. As Mulheres que nem são vaidosas e os Homens nunca vão entender isto. Deixem lá, o melhor é nem tentarem, que se eu saltar fora do meu corpo e me olhar de fora, elevada e direita que nem um fuso, mas quase a morrer de desconforto, também não me entendo lá muito bem. Não é ignorância vossa, é mesmo vaidade minha.

Maria, rara em mim

Maria era uma mulher dura. Dura por fora e dura por dentro, coisa até rara, quanto mais assim emparelhada. Desde cedo ficou sozinha com dois filhos homens, que o marido, esse, assustou-se com tamanha rudeza, que de resto, nem lhe daria o aconchego pretendido nas noites de inverno, palavras dela, não minhas. Dedicou-se por vocação e precisão a tomar conta de velhos, que levava para a sua própria casa, onde os zelava com cuidado e dedicação, com a preciosa ajuda do filho mais novo, que desde cedo mostrou gosto pelo ofício. Quem já é duro de nascença, perante vida também ela dura, fortalece ainda mais, e estamos hoje perante uma mulher quase de ferro, nota-se a léguas. Têm-lhe um respeito extremo, quase que arrisco dizer um medo de morte, que perante um olhar de reprovação, todos ou quase os que a circundam, Homem ou Mulher, recuam no dito que possa ter ofendido Senhora Dona Maria, matriarca da família e arredores, que manda e desmanda como bem lhe aprouver. De fora levantam-se vozes críticas aos métodos, à postura rígida, ao império que construiu pela sua força, porque se acha abusar da boa vontade alheia, porque se diz explorar quem tem o azar de com ela se cruzar, porque se diz crescer à custa dos outros. Bem certo será, que a conheço de perto. No íntimo também lhe reprovo, nem são de gente, os métodos coercivos, que de resto, nem suportaria, sabendo ainda que muitos dos que os suportam, o fazem muitas vezes por necessidade extrema. Daquela mesmo extrema. Os outros resistentes são os da conveniência, se é que me explico. Ainda assim, e quando a encontro, como ainda ontem, gosto de a ouvir falar. É das raras que internamente condeno, no parco direito que me assiste à condenação alheia, para no fundo, ainda que só em parte, conseguir admirar. Pela força, especialmente por ela.

Laços


Há laços que se perdem no tempo, ainda ontem, alguém que leio falava deles, e sendo assim pensei. Ainda para mais, aguçou-se a ideia pela quase quebra de um bem próximo, que pena tenho que assim seja. A família, e a bem ser, deveria constituir sempre uma fonte de laços e de proximidades. A mim, que me faz todo o sentido que assim seja, que a ela recorro quando fraquejo, sendo também a ela que me dirijo quando estou mais feliz. Nem serei lamechas, que de resto, não sou assim em nada, que não me perco em demasias, precisando, não obstante, do essencial. Do saber se estão bem, do telefonema, do almoço ou jantar sempre que possível, e com alguma frequência. Tenho por perto que nem seja bem assim, que não raras vezes, a distância física impõe-se, e chega a inundar por dentro, como se fosse quase um mal necessário, que erro crasso me parece, a mim, que me encontro bem próxima de gentes de longe e tão longe de gentes de perto. Poderei também eu ter culpa no cartório, mas não me parece, deixando um pequeno beneficio da dúvida, para algum erro que possa eventualmente ter cometido. De resto, e aí sim, talvez erre, nem sou de rogar presenças, defeito por demais claro, que me tem roubado muito, que nos entretantos já descobri, que os rogos podem ter efeito quando bem rogados. Devia aceita-los também eu, mas sabem-me a obrigação e ainda não me consegui habituar a eles. Talvez devesse. Também entendo, que dentro das mesmas famílias, possam existir personalidades incompatíveis, que o mundo tem perfeições, mas não assim tão perfeitas. E que quando isso acontece, o melhor, talvez seja mesmo optar pela cautela da distância, em vez de se forçarem situações incompatíveis, e com possibilidades fortes de desencadear conflito, palavra maldita. A isto chamo adaptação, esta sim palavra mágica, urgente, e às vezes quase impossível.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Avós

Hoje é o dia dos Avós. Tenho em mim, que assumem uma importância tamanha, que complementa a dos pais. Foram parte importante do meu crescimento, e hoje, são parte importante do crescimento do meu filho. Dois dos meus já partiram, e tenho-lhe imensas saudades, que a falta que lhe sinto é indescritível. Pena tenho, que muita gente se esqueça deles, como se pela idade, já nada valessem. O assinalar o dia é só uma atenção, que nem sou muito dada a estas coisas. Pela minha parte, e em consciência tranquila, assinalo qualquer um, sempre que posso. A todos dias felizes.

Apontamentos


Ontem havia uns novos programas de moda, uma final de dança, mas nada disso me apeteceu. Num dia tórrido, que nem me correu de feição, precisava de mais para me acalmar o ânimo. Num zapping, daqueles que fazemos sem buscar nada em concreto, parando aqui e ali, chego à SIC Mulher, e às receitas de Mafalda Pinto Leite. Não gostei nem desgostei. A receita até me animou o estômago, que de resto, ainda que não sendo de muito alimento, também não é por demais exigente. Obviamente que não acorda para a vida com uma bolacha de água e sal, mas qualquer pastel de nata lhe chega, para o pôr a sorrir. Um amor esta parte do meu corpo, haja alguma fácil de aturar, que bem mereço. Adiante. Uma pizza de mascarpone, baunilha e morangos pareceu-me bastante bem, e está na lista das próximas experiências.
Ainda assim, e num simples apontamento, julgo que falta uma imagem própria, na Senhora cozinheira. Lamber dedos, não lavar mãos, e besuntar-se um bocadinho, são para outras praias, e aí, tal a naturalidade, resultam na perfeição. Feito assim, meio a medo, soa a insosso, e perde a graça.

domingo, 25 de julho de 2010

Dualidades

Estas histórias de vida intrigam-me ainda que hajam muitas, e por vezes, até bem perto. O que me confunde, nem será bem a causa, mais ou menos nobre, nem importa, têm uma causa e pronto. O que me confunde à séria é a adaptabilidade mental de quem vive duas vidas, grande feito, que eu, pela parte que me toca, ocupo-me bem que chegue apenas e só com uma, chegando por vezes a pedir sossego. Na revista Index desta semana, encontro uma história do género que trata a vida de uma Mulher "normal", que afinal tem particularidades que muito poucos conhecem. Onde se intercala o papel de mãe, e se finge uma profissão para os que a circundam, que nem sequer existe, com o papel de prostituta, que exerce com uma ambição desmedida por um poder económico sonhado, pelo qual é capaz de viver duas realidades, satisfazer muitas existências e muitas vontades. Que estranha forma de vida esta, que muito mais me intriga do que as que vivem apenas e só do sexo, porque precisam, porque querem, ou porque gostam. O que me incomoda, se é que tenho o direito ao incómodo sobre a vida alheia, não é o que se faz, que resto, a história reza assim, mas existem muitas outras sobre outros motes, que igualmente me intrigam. É a dualidade, o fingimento, o agora vivo assim, e logo vivo de outra forma. O agora sou esta, para logo ser aquela. Nem sei bem o que daí decorre, que em termos mentais o poder é quase infinito, e poderá ser, que a adaptação a duas vidas seja mais fácil do que julgo, que ignorante me assumo nos assuntos da mente, nada mais me resta, perante tal complexidade. Ainda assim, não me ocorre a possibilidade de alguma coerência interna, numa vida onde o que agora se diz e se faz, dentro a pouco se assuma mentira. No beneficio da incerteza, nem sei se lhes louvo a capacidade de adaptação a roçar o infinito, se lhes lamento o desassossego constante de quem vive duas vezes dentro de um mesmo corpo. E fico assim, no incerto.

sábado, 24 de julho de 2010

Gomas


Hoje banais, mas nos meus tempos de criança seriam quase um luxo. Umas pequenas borrachinhas de cores, banhadas em açúcar, que conheci pelas mãos do meu tio, em termos embarcadiço. Ninguém sabia lá na aldeia o que aquilo era, e eu mesma, ainda que me tenha sido bem explicado, desconfiava da inocuidade daquelas coisas esponjosas, que vai-se a ver, e eram doces como o mel. Ficaram-me para a vida, e continuam a fazer-me as delícias, embora não as ataque como antigamente, que nem sei bem porquê, apoderam-se do meu abdómen, antes nem me acontecia nada disso. Mas hoje comprei um saco. Tenho-o ali escondido, a ver se me esqueço, que tenho para mim, que não é um bom dia para lhe pegar. Eu sou assim, tenho dias.

Lugares

Ele não quer vir, vê o Dartacão, e eu tive azar na hora escolhida, que às vezes escolho mal. Insisto, numa saudade já sentida porque me falta o beijo da noite, o aconchego na manta, o remoinho no cabelo pela manhã. Poucos dias foram, mas chegou para que assim sentisse, que faz-me falta quem gosto, sou assim. Por insistência de alguém subo, não vá ter de esperar um bom bocado pelo beijo ansiado. Entro no corredor que nem via há anos, passo pela mesma porta, pela mesma mesa, entro na mesma sala, e encontro as mesmas coisas, mais uma, menos uma. Ele está sentado no puf da sala, bem de fronte para o ecrãn e sorri, com a ingenuidade, ainda latente dos sete. Anda mãe, senta-te e vê comigo. Dou-lhe um abraço, encosto-me a ele um pouco, nem olho muito em volta, por nada de especial, talvez por educação e respeito. Pergunto umas coisas, ele responde meio a fugir, enquanto fixa o olhar na TV, e me diz em tom animado, que eu também via aqueles quando criança. E via, e gostava também. Dou-lhe o beijo de despedida, vou por onde entrei, acompanham-me à porta, nem era preciso, que bem sei o caminho. Saio, e volto a casa. Não te incomodou?, pergunta-me alguém. Nada, respondo, podendo até estar a mentir, mas nem foi o caso. Há lugares e lugares, concluo. E há lugares que já foram e agora já não são. São sítios, talvez.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Senhor Delegado


Já há muito desconfio desta que hoje, é para mim quase verdade absoluta. Quem muito apregoa ser, em qualidades, mérito e outras que tais, nem tanto é, que a gabarolice não mais traduz, que uma vanglória interna do que se ambiciona sem se ser. Ainda que assim seja, não raras vezes, o espírito é por demais convicto para nos deixar desconfiar, e com treino de quem usa, transmite-se, nem sei bem se a propósito ou não, uma credibilidade infausta, ténue e frágil, encoberta por uma capa daquelas que há quem seja mestre em criar, qualidade (?) que nem me atinge, vá lá saber-se porquê. Daí sendo, os meus pés ficam atrás, às vezes tempo de mais, dizem-me vozes, daquelas que ainda confiam cegamente até prova, mais que provada, do contrário.
O Senhor Delegado, que encontro ontem ao acaso, já nem o via há muito, é um exemplo. Sempre me lembro de o ver enaltecer grandezas internas, como se em tudo fosse perfeito, desde princípios a qualidades, a profissionalismo e outras que tais. Havia quem o venerasse, que mais fazer perante tanta perfeição humana, e havia ainda quem o odiasse, ou lhe desse indiferença, que tanta bazófia, nem poderia ser bom sinal. Hoje, mais velho, ainda de bigode e já quase careca, apresenta a fragilidade característica deste tipo de pessoas a que me refiro. Um não sei que diga, nem sei que faça, quando a idade já tolda e já não permite grande criatividade heróica, pelo menos de sustento. E onde nos caminhos nada de concreto emergiu, que quem constrói farsas, com o tempo, não construiu nada.
Senti tanta pena do Senhor Delegado, eu, que nem sou dada a elas.

Homens

Nem gosto de assim ser, já por cá o disse. Ajunto-me várias vezes com mulherio, sob diversos pretextos, hoje jantar de despedida de uma profissional do ramo, que ruma com a sua prol para a capital do País, que bem que ela faz. Entre a alheira de Mirandela, a picanha, coisa mais corriqueira nem deve haver em jantar de mulheres, o requeijão com doce, e o remate da farófia com canela, esta sim, acepipe digno de referência, vai-se regando o manjar com rosé, que nem aprecio assim muito, e termina-se com amarguinha e limão, essa, mais uma vez, já da minha praia. As conversas, essas, são as que me traem, e que vou salpicando de sorrisos mornos, porque os acesos não têm cabimento aqui. Em cerca de duas horas de janta, muito soube de tanta gente, que grande parte já esqueci. Desde as notícias da ordem, já sabidas por quase todas, aos segredos dos Deuses, que nem sequer são tão secretos assim, os temas rondam o habitual escarafuncho na vida alheia, para gáudio de (quase) todas as participantes. Trago por norma comigo uma sensação estranha de peso, em vez da leveza que vejo nos restantes rostos, que não critico, de forma alguma, que com pena não fico assim. Lembrei-me do meu tempo de Casa Pia, onde os jantares mensais, ou mais vezes ainda, sob um qualquer pretexto, fraco que fosse, me tranformavam as noites em amenas paródias de conversas que me deixavam assim, leve. Onde a grande maioria dos participantes, eram do sexo oposto, grande companhia que são, e que louvo sempre que posso. Que me perdoem, caras senhoras, que apreciam por demais jantares no feminino. Uma ou outra vez no ano, no dia da mulher ou em qualquer despedida de solteira. Nos restantes, um Homem que seja, faz falta. A mim, pelo menos, que mais facilmente falo da crise ou assim, eu, que nem gosto dela.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Não há coincidências?

E é quando a desistência quase me assola, que um qualquer chamamento interno, despoletado nem sei bem de onde, mas de algo externo a mim, sei que sim, me surge e me agarra com unhas e dentes, quase me prende, que sufoco. Esta coisa da luta que nem sabemos se queremos mas que nos impele num misto de teimosia e vontade, tem quês de existência. Hoje por exemplo, ouvi algo que me impeliu a seguir, num caminho que em nada teve a ver com a conversa, mas que me orientou de forma precisa, ainda que o mentor, nem tenha dado por isso. É mágico este acontecimento, de quando certas pessoas nos mostram luzes sem pedirmos só porque nos falaram, e porque nos deram algo que precisávamos de ouvir. Acontece-me pouco, faz-me falta, ainda para mais de forma despretensiosa, fantástica coisa, de rara que é. E é exactamente aqui que ponho em causa os acasos e em que me apetece acreditar que o Universo é um mundo de energias perfeitas que nos conduz cuidadosamente, sem darmos por isso. Claro que depois o livre arbítrio e outras grandezas, boas e más, depende, tomam conta de mim, acordo, e concluo que não é nada disso, e que são só coincidências, que elas existem, claro.

...

Hoje fui à Terra dos Sonhos. Fiquei lá.

Camel


Comprei uma camel quase assim. Não, a minha não é Birkin, que ontem não me apeteceu.

Isabel

Encontro-a ontem de ar risonho e aspecto anafado. É assim desde que a conheço, e já contam largos anos. Não a via há um tempo, e gostei que acontecesse, porque é das que me engrossou a lista dos seres felizes, que nem são muitos. Tem um marido músico, que corre o mundo a tocar atrás de grandes nomes do Fado Português. Tanta música lhe deu em novo, que a coisa pegou julgo que para sempre, expressão linda e enigmática esta, que ainda não se me deu a conhecer. Numa existência apregoada de simples, encontro-a por norma de sorriso nos lábios, olhar terno e calmo, num misto de alegria e ternura, que de resto, nem sempre encontro nos olhos das gentes, deveras atafulhados, em mágoas e preocupações. Tenho a mania de ler olhares, entre outras manias assim, umas mais estranhas, outras ambiciosas, outras banais de mais, que também me dou a banalidades. Preocupações também ela terá, decerto que sim, mas nem sei que lhe faz, que em nada transparecem. Em meia dúzia de minutos que tivemos, muito se disse, numa amena cavaqueira, já olhada de lado pelas minhas amigas, por demais fartas de esperar-me, que sempre que encontro alguém, perco-me nas palavras. O marido dela, esse, na calma que a música lhe dá, seguiu caminhos sem se incomodar, esperando-a mais na frente, também ele de olhar tranquilo, como se esperar a mulher nada o afligisse, esta intrigou-me, confesso. Dizem que a inveja é um pecado mortal, chamemos-lhe então outra coisa, que de resto, o que lhes sinto nem é cobiça, mas admiração.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Nada ou pouco a dizer

"Alguns dos mais importantes nomes da cultura portuguesa estão a tomar posição contra a rejeição, na semana passada, de uma proposta que previa a atribuição do nome do escritor José Saramago, recentemente falecido, a uma rua da cidade do Porto. A homenagem ao único Prémio Nobel da Literatura de língua por- tuguesa, sugerida pelo vereador da CDU, Rui Sá, foi inviabilizada pelos votos da maioria PSD/PP na Câmara do Porto, mas, para além de algumas tomadas de posição individuais, existem já pelo menos dois documentos reclamando a reavaliação da proposta.", No Público Online

Nem tenho muito a dizer. Para quê prestar homenagens aos grandes que temos? Oh, perdão. Outra ideologia, tira-lhe grandeza. Deve ser isso, que para ser grande por cá são precisos requisitos, nada relacionados com capacidades intrínsecas, muito relacionados com sectários. Compreendo.

Pressas


Pelo caminho encontro um pastor, daqueles das histórias, com ovelhas, cão e cajado. Veste uma camisa aos quadrados, boina, e apoia-se no pau de marmeleiro, tal qual uma imagem que tenho de um livro de nome Martim e a Cabra Branca, que em tempos me fez delícias, e que habita hoje a estante do meu filho. Nem se vêm muito estes cenários, ainda que por terras aldeãs, me encontre com frequência. As ovelhas hoje já quase nem pastam, já ninguém ou poucos são pastores, que a criação cria-se em cativeiro, de forma rápida e pouco eficaz, evoluções dos tempos, claro que sim. Se outrora eu disse-se à minha bisa que os coelhos da coelheira dela, iriam anos mais tarde crescer em metade do tempo, e com metade do trabalho, ela chamar-me-ia doida. Se lhe disse-se ainda que as suas gordas galinhas comeriam hormonas que lhe duplicariam o tamanho, numa lua, que bem chegava, perguntar-me-ia, se estava em Marte, ou o que de estranho se teria assolado de mim, para proferir tal barbaridade. Poder-lhe-ia ainda dizer que o sabor ficar-se-ia pela metade, que é bem verdade, com pena minha, que canja de galinha de capoeira é canja de galinha de capoeira. A rapidez é uma mais valia nos tempos que correm. Tudo se faz, se trata e se desenvolve num ápice, para nos restar um conjunto de realidades sem sabor, tudo, pela pressa, incluindo as relações. Talvez seja um mal necessário, nem sei bem que diga. Quanto a mim, e focando somente a cozinha, gosto de tempo e de calma, ainda que o pitéu seja de aviário, que às vezes calha assim, que as avós já não criam, já nem se usa grandemente. Remendo o mal da pressa alheia, com umas boas duas horas de guisado, que apuram qualquer galo deslavado, pelo menos um bocadinho mais. Quanto a outras pressas falemos depois, que hoje não é dia.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Boatos

Ouvi dizer que lá para o Meco a coisa esteve caótica. Já tive outro ânimo para enfrentar multidões e pó, e confesso que me encontro assustada. Dizem por aí, que estas marés de acalmia, coincidem com um avançar de idade, onde a paciência para a confusão se perde, e onde o sofá passa a ser um aliado. Não pode ser isso que me está a acontecer. Ou então pode.

Das conversas tomo II

Em nada a ver com as que falo ali atrás existem as outras. As que são por demais necessárias e das quais fugimos como quem foge de uma qualquer coisa que nos pode queimar, que não sabemos muito bem se queima ou não, tendo quase por certo que sim. E porque lá dentro de nós, também nos podemos queimar à séria, e preferimos por vezes a ignorância de um estado ainda que implícito, do que a sua tomada de consciência, que a surgir, não mais poderemos fingir que não existe. Porque nós fingimos para nós mesmos, claro que sim, que a ingenuidade nem sempre, ou melhor quase nunca é intrínseca, assumindo por demais vezes, um constructo interno defensivo, de extrema utilidade. Que nos envolve em uma capa estranha, protectora, meio opaca, com laivos de transparência de onde fugimos num ápice, não vamos nós, nem que por um instante, ver claramente. Terrível seria. Depois por vezes, surge o dia em que a conversa sai, e em que a emergência externa do que já sabíamos interiormente, não nos permite mais a indiferença, embora eu tenha para mim, que há quem consiga a indiferença para a vida, nem sei se feito se falha. Nesse dia, em que o chão se nos foge, deveremos apenas e só dizer a nós mesmos, que a única diferença é a consciencialização. E que tudo o resto, já existia antes.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Dias

Há dias estranhos, em que nem devíamos sair de casa. Ou melhor, estranhos ao ponto de nem em casa devermos ter estado. Há dias estranhos, portanto. Apenas e só.

Dos empregos, dos trabalhos, e do nada se faz que assim é que é bom

A par com a tal da crise, que não gosto nem de falar, já sabem, deparo-me com episódios caricatos, dignos de quadro de honra. Eu, um humilde ser na casa do trinta, mãe de filho, farto-me de trabalhar, valha-nos isso. Às vezes, não tanto quanto queria, que mais umas consultazitas não me fariam mal nenhum, e a malta precisa de orientação, acreditem. Se me surgissem, desfazia-me, como de resto, me desfaço sempre, em simpatias e soluções de horário, que pode ser logo às sete da matina, se tiver que ser, que levantar o couro cedo da cama dá saúde, já dizia a minha avozinha. A limitação, é ter lá por casa um dorminhoco inveterado, com o qual me vou desenrascando, às vezes com ajuda de chantagem, eu sei que não se faz, mas a lei manda desenrascar, e eu desenrasco-me, pronto. Intrigam-me por isso certas gentes, na minha faixa etária ou na anterior, maioritariamente, com as quais é necessário um quase requerimento, a fim de as fazer trabalhar. Que me levam um mês a entregar um orçamento, que me marcam serviços para não aparecer, que me dizem que podem para depois levarem um chá de sumiço eterno, apenas quebrado se for eu a tomar a iniciativa. Éh pá, fico intrigada, pois claro que fico. E leio jornais e falam em desemprego e em jovens licenciados que taditos não têm onde trabalhar e assim. E sabendo e assumindo, que muitos casos serão isso mesmo, não terem onde, também conheço muitos dos outros. Dos que não trabalham, porque não apetece. Porque hoje dói o costado, porque amanhã tá calor e na praia é que se está bem, porque ao fim de semana é para descansar, trabalha tu, que bem parva és. E a modos que é isso. E a modos que me apetece, quando me prometem para depois me falhar, senta-los todos ao redor de uma mesa, e ler-lhe em voz pausada a Crítica da Razão Pura de Kant, que é para eles verem bem o que é penar. Só assim, para começar.

Ingratidões

Ontem na praia que fiz a meio da tarde, entre ventos e turbas de gente, vejo um cão abandonado. Um pequeno cão branco que corria sem destino no meio dos veraneantes, que o iam sacudindo, ou fazendo uma festa, depende. De um lado e de outro surgem comentários a respeito do fenómeno, incluindo os tradicionais coitadinho, tão lindo e abandonado, que sempre me confundiu, como se só os lindos fossem dignos de pena. Percebia-se claramente pelo desnorteio, que era cão de casa, perdido há pouco. Apresentava algum desmazelo, dado ser de pêlo branco, entretanto já encardido e despenteado. Intriga-me quem abandona animais, embora saiba ser frequente, e assunto já mais do que rebatido. Não se adquire um animal porque tem de ser, adquire-se por vontade própria, e todos sabemos que nos dão trabalho, e nos exigem tempo e paciência, logo, se não temos, não devemos assumi-los, parece-me simples. O cão lá da casa é o menino dos meus olhos. Um bicho branco e pequeno, de personalidade um tanto ou quanto travessa. Veio para junto de nós, na gravidez do meu pequeno, e mal ele nasceu, guardava-o com um afinco fenomenal, passando horas ao lado do berço. Abana o rabo quando chegamos, deprime se alguém se ausenta por tempo maior, e percebe imediatamente se estou menos bem. Em tal caso, encosta-me o focinho, e nada faz, como que para me dizer que está ali, apenas e só. Dá-me muito o meu cão, e acredito que todos os cães o farão, é deles. Muito mais do que o que nos exigem. Deveríamos estimá-los, quanto mais não fosse por isso. Abandonar animais é uma hedionda forma de ingratidão humana.

domingo, 18 de julho de 2010

Conversas e empenhos

Amenas conversas são sempre frutíferas, julgo todos acharem que sim. Nem sempre se proporcionam, que as corridas dos dias castram-nos a paciência, e quando são permitidas, devemos aproveita-las. Gosto quando surgem do nada, porque nos possibilitam num ambiente calmo e desprogramado, entrar aqui e ali de forma natural e em nada forçada. Por norma, correm melhor até em assuntos sérios, do que as que começam com um precisamos de falar, porque às vezes precisamos, mesmo que essa necessidade seja apenas e só porque sim. Daí, a importância que dou ao tempo, à paciência e à partilha, nem que seja de pequenas coisas, porventura até já sabidas por ambos, mas que no dia a dia, se calam, porque nem calha falar. Porque as intimidades e as partilhas, surgem assim. No como estás, no como correu o dia, mesmo que se saiba o estado e o decorrer. Nunca me parece desperdício o que se possa partilhar, e intriga-me de sobremaneira quem dispensa estes momentos, só porque tudo julga saber. Como se possível fosse, tudo saber-se, que ingenuidade tamanha essa. Tenho para mim, que um decorrer sem partilhas, nos deixa no morno, no baseado em pouco e em pouco sustentado. Porque o novo que surge, e surge sempre, pode começar a ser pertença apenas de um, e muitas das vezes sem a consciência clara de que a intimidade se perde, e se começa a caminhar sozinho, deixando aqui de lado os exageros, em nada saudáveis, obviamente. Parece que não o conheço, e partilhei com ele toda uma vida, oiço dizer amiúde, não raras vezes em contexto de consulta e de algum desespero de incompreensão. No conselho que me pedem, como se eu fosse sabedora de algo, deixo por norma este, que até julgo sensato, e que hoje mais uma vez usei. Fico sempre com a sensação de que toda a gente o julga saber, para no fundo poucos o porem em prática. Não se faz. Quando detemos as quase certezas, devemos usa-las, sob pena de, na sua falta, nos restarem as consequências, já esperadas e em nada prevenidas. E é que não custa nada, nem sequer é como o desporto. Um empenho em palavra, apenas e só.

Shrek

O filme do Ogre verde surpreendeu-me. Esperava a história do costume, e deparo-me com crises existenciais retratadas em forma de desenho animado. Demasiado rebuscada para crianças, parece-me a mim. Ou então não, que talvez seja bom que conheçam desde cedo, determinadas situações. Um filme adaptado aos tempos modernos, será isso.

sábado, 17 de julho de 2010

Lendas


As lendas têm um qualquer quê que nem se explica, assim como os mitos. Realidades ou nem tanto, verdades ou simples invenções do imaginário humano, certo é que nos levam ao pensamento, e a mim, qualquer coisa que me desafie, assume-se, claro que sim. Em tempos de escola, tudo quanto tratava de lendas me seduzia, pelo fascínio que me criava e pela incerteza envolvente. Ouvi muitas pela boca da minha avó, que me contava amiúde a da Rainha Santa Isabel, que no regaço, transformou o pão que dava aos pobres em rosas, perante um Rei seu marido, que em nada apoiava a sua vertente humanitária. Surge agora uma em filme, pelo qual já anseio. A da Papisa Joana, livro que li em tempos já idos, sobre uma suposta Papisa, que nem se sabe ao certo, ter existido ou não. Reza a lenda que chegou a pontífice, tendo sido descoberta quando pariu em público, num trajecto feito a cavalo, tendo sido por isso assassinada por uma multidão em fúria, que enganos daqueles seriam sacrilégio, puníveis apenas com morte. A lenda é contestada, como de resto só podia, pela Igreja Católica.

Ainda não estreou por cá. Aguardo-o com expectativa.

Ignorâncias

A poder pararia o tempo, numa estratégia definida e pensada em prol de mim, num egoísmo supremo, coisa que nem é hábito meu. O Mundo às vezes trata-me mal, numa incompreensão tamanha, como se eu merece-se tal trato, e dele não bem cuidasse. Mentira, grande mentira que vivo numa adaptação quase perfeita ao que me circunda, numa aceitação sem limites ao que se me oferece, sem resignação passiva, mas com um respeito essencial. Ainda assim, sinto não raras vezes, que me esforço em vão, perante tudo o que gira ao contrário de mim, como se a tal união da trama fosse verídica e não só uma canção. Há mais canções de suprema verdade, onde me leio e releio sem limites, e que posso ouvir repetidas vezes sem me fartar, tal o conforto que encontro, e as semelhanças que acarto na minha existência. A música sempre foi minha aliada, hajam coisas assim. Um dia ainda me permito o tal do egoísmo sem fim, só para saber como é, embora se bem me conheço, depressa o abandonarei, que o desconforto que se apoderará de mim, será decerto tamanho, muito superior ao de agora, em que atenho e em que respeito, ainda que com a perca considerável que acarta para o meu ser. Vivo assim, idealizo outras formas, mas depressa concluo, o que de mau me aconteceria, se tal fosse. Julgo-me suprema, por vezes, senão experimentaria, em vez de julgar por sabidas realidades que não me pertencem. Talvez porque às vezes, não muitas mas algumas, será mais de gente, ficarmos na ignorância de certos estados assim. Até porque nunca nos é permitido tudo.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Ainda do tal


Nem sou muito a favor da estagnação, até porque nem acredito nela, que o que não evolui retrocede, nunca se fica igual indefinidamente, até quem parece ficar. Nas relações também assim funciona e no amor romântico também, que ou avança, ou recua, igual para sempre não me parece. Dai a necessidade de avanço, de percurso, de evolução, sob pena de se entrar numa rotina tenebrosa, não raras vezes ainda inundada de sentimento. De um sentimento que já nem se sabe onde arrumar, porque se encontra igual há muito tempo, e deixamos de saber que se lhe faça. Igual, nem diria, perdoem-me a incoerência que transmito, cabeça a minha. Um tanto ou quanto diferente, já talvez em retrocesso, porque não cresce no sentido devido. E isto do sentido devido é lógico por si só, que nenhum amor começa pleno e digno de nome. Num percurso coerente, a paixão chega primeiro, para inundar dois seres de borboletas na barriga, de sorrisos parvos e de palavras doces. Que segue num fio que conduz a uma aproximação real e concreta por dentro, e não só por fora, característica fulcral do estado apaixonado. E essa coisa da proximidade interna, já no amor, tem que se lhe diga, que a externa é inerente à condição humana, que com a ajuda hormonal, não necessita de esforços maiores. A interna, essa, onde a evolução continua e onde se segue ao infinito, já são necessários quês, e nos entretantos, também já a externa pode precisar de ajuda, da tal evolução, para não se entrar no temido retrocesso, que até aí pode acontecer. Complicados que somos, e eu sou também e estou ali no estado morno. Se desafios existem, o amor é um deles, que parece ler-se claramente para num ápice nos estranhar, que nos assola de forma arrebatadora, para depois nos largar, que nos leva ao fim do mundo para depois nos deixar. Queria ainda acreditar em Shakespeare e naqueles ditos que soam bem, que hoje mais não me parecem do que manifestações puras do mundo dos sonhos, onde habita um Peter Pan, e onde existe a Terra do Nunca, os Dragões e os duendes das Crónicas de Narnia. Fazia-me bem acreditar nele, e eu merecia acreditar, que quase deixo de lutar.

"Conservar algo que possa recordar-te seria admitir que eu pudesse esquecer-te."

William Shakespeare

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Dona Rosa

A Dona Rosa tem três filhos dados a quem os quis, que ser mãe não era para ela. Não que não os amasse incondicionalmente com aquele coração de mãe, que acompanha com um cérebro atrofiado por demais, para de lá perceber o que tem de ser feito. Dá-los, foi o que melhor soube fazer, e eu acho que sim, ainda lhe sobrou alguma lucidez, que lhe permitiu concluir a sua dificuldade em acudir necessidades de gente pequena, que berra e grita sem se explicar, e ela já a si mal se entende, quanto mais. Anda por lá pela aldeia sem rumo e sem vida. Tem por norma um chapéu salpicado a cal, que vai auxiliando as velhas que têm muros brancos imaculados e pouca força para deles cuidar. Hoje caiava um, de blusa de alça atada na cintura, um legging preto, e o tal do chapéu. Sorriu-me como é hábito, quando por ela passo. Há quem desdenhe a sua vida, a sua postura despreocupada, o seu ar de mulher fácil meio estranho e desengonçado. Outro dia via chorar, estranheza tamanha me assolou, nunca tinha acontecido eu ver. Disse-me que lhe tinham chamado puta, aquela ali do café. Com palavras a acalmei, e tentei o melhor que soube, entrar naquela cabeça estranha, e afaga-la um pouco. No fim agradeceu-me, e voltou a sorrir, no meio dos disparates que dizia, numa balburdia de emoções que queria expelir, quase sem conseguir. Há gentes de choro fácil e de sorriso fácil também, nada a ver comigo, com pena minha, que reprimir emoções é do pior que há. Quando as encontro gosto sempre de as ver sorrir, e nem entendo quem queira o contrário, que mais não faz que acentuar um estado, por si só já mau que chegue.

Ajudas

http://coconafralda.blogspot.com/2010/07/ajudar-tia-preta.html

A quem puder ajudar... Existem causas nobres, sim senhor...

Da fuga

O excerto abaixo deixou-me feliz, como vão deixando algumas poucas coisas, quando pego o jornal. Tenho fases, que não muitas, em que me farto de os ler. Todos, sem excepção. Porque encontro a crise sem fim que nos inunda os dias. Porque encaro o aumento de impostos, o congelamento dos salários, o endividamento consequente. Porque os jornais de papel e os televisivos tratam do estado do Mundo e do País e o estado do Mundo e do País estão menos bem, e o bom que existe, porque existe, quase se abafa nos meandros das tormentas relatadas e na grande desgraça que nos assola, vinda daqui e dali. Na leitura, que sem ânimo vou fazendo, dou por mim na procura, quase inglória de um episódio que me anime. Que me faça acreditar que o Mundo ainda é habitável, e que mais existe para além da crise e afins. Nem costumo falar cá nela, que a evito ao máximo, não me faz falta. Encontro no dia a dia gente que quase vibra ao sabe-la, que a digere com sofreguidão, porque da desgraça, fala-se sempre com emoção, coisa estranha esta. Mantendo o esclarecimento que considero necessário, fujo-lhe sempre que posso. Evito pensar quando compro, que o IVA subiu, e que o meu salário não. Olho-a assim, meio de esguelha, com respeito, mas com distância, e espero manter a postura, sem me assolarem os laivos de loucura que por aí vejo. Mantenho outras relações assim, meio ao longe e meio ao perto, numa distância necessária e eficaz. Equilíbrios, diria, que não tendo todos, consigo alguns.

Da educação

"Um empregado paquistanês devolveu cerca de 39 mil euros (50 mil dólares) que terão sido esquecidos num hotel por um hóspede.
Essa Khan, de 51 anos, terá encontrado o montante em dinheiro vivo no quarto de um trabalhador japonês, no Serena Hotel em Gilgit, na província de Punjab, no Paquistão.
Tendo como base as ideias de “dever” e “educação familiar”, o empregado - que apenas ganha uma média de 314 euros mensais - defendeu que “os tempos são difíceis para todos”. O empregado salientou ainda que “isso não significa que deveríamos começar a roubar e tomar coisas que não nos pertencem.”
Kahn já recebeu, entretanto, um prémio pelo governo como forma de prestigiar a sua honestidade. O autor do gesto filantropo já sublinhou que pretende desta forma ajudar a erguer a imagem do Paquistão: “Eu quero que as pessoas ao redor do mundo saibam que há muita gente boa no Paquistão – não são todos terroristas aqui”."
Jornal I

Porque é bom saber que ainda há gente assim.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Birras


Grande parte das que conheço, afoga iras, desilusões e outros senãos, em limpeza e arrumação. Descobri que sou diferente há muito. Leio, como desmesuradamente ou não como nada, depende, passeio, vejo montras, e afins. Nunca, com a neura, passo duas máquinas de roupa a ferro, como a minha amiga F. A assim ser, até convidaria gente a arreliar-me, que seria um ver se te avias cá em casa, com dispensa directa da Dona L, o que, convenhamos, me dava um jeitão fenomenal.

...

A desilusão trata um sentimento atroz. Porque surge quando algo esperamos e algo não vem. Porque no nosso Eu mais recôndito, tentamos arrumar o porquê de não ter vindo, e não raramente encontramos razões centradas em nós, porque poderemos ser nós a falha, e a reacção o cansaço. Deveríamos ser mais brandos connosco, tenho para mim, e eu incluída. Que na curva do tempo, que pode ser longa, mas chega, percebo quase sempre o porquê de me ter desiludido. Não é por culpa minha, nem sequer por culpa do outro. É por culpa da ignorância que espera de mais, do pouco que há para dar. Um dia aprendo, que estou quase lá. Ou então não, que talvez seja a ilusão o móbil da vida, e na sua perca, tudo se perca atrás.

Sabonete


No seguimento do Benamôr, que de resto nunca fez parte da panóplia, realço outra relíquia, essa sim, sempre presente em mim. Não colecciono, mas gosto de os ter. Posso usar ou não, tenho dias em que sim, outros em que prefiro o gel. O Sabonete é um pedaço de doçura em cheiro que me escorrega das mãos, como tantas doçuras. Herdei o gosto do meu avô materno, que sempre tinha vários no fundo da banheira, do Feno, ao Rexina. Eu podia escolher o cheiro que mais me agradasse, e ficava-me por norma no cheiro a rosas, que ainda hoje recordo como o cheiro da cara dele, logo após fazer a barba.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Incongruências


Há coisas que amamos sem sabermos porquê nem para quê, que por norma, o amor tem um qualquer propósito. Incongruências internas, com algum móbil decerto. Gosto de retrosarias, que se faça, e encontrei hoje umas fotos lindíssimas no The Lisbon Diary. Gosto do cheiro, das cores, das velhas e velhos que atendem por detrás do balcão de madeira, que tem de ser também ele velho e gasto, sob pena de se perder o encanto. Tecidos em pilha, eu que nem mando fazer. Botões de vários tamanhos, eu que nem gosto de os coser. Novelos de linha âncora, eu que nem bordo ou mando bordar. Não compro lá nada, mas gosto de entrar, ver e cheirar. Existem mais coisas assim, que me causam encanto, como as drogarias, por exemplo, daquelas à séria, raríssimas, onde ainda se vende loção de rosas avulso, e creme Benamôr.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Versatilidade e assim, disse-lhe eu

A ausência da chama da vida assume lugares perigosos, quando se afasta de vez. O excesso da calma que todos ambicionamos no dia a dia de correria, é para muitos um sério problema. O equilíbrio, parece palavra simples, para uma quimera se tornar, quando analisada na essência. Em tudo assim é, e no bem que tanto se anseia também o poderá ser, quando o bem deixa de ser um bem e passa a ser um problema. Ouvindo o que me diz, percebo profundamente o que a perturba. Tudo ou quase tem, para me dizer que tudo lhe falta. Apesar do tudo que parece ter. Porque o excesso de tudo já não enche a alma, se é que alguma vez encheu. Poderíamos ser mais simples, tenho para mim. Poderíamos internamente conseguir equilibrar o que nos dão e procurar o que não temos. Amiúde, deixamos-nos andar. Numa vereda centrada no óbvio, no fácil, no que se nos apresenta, estado que mais não faz com o tempo, do que uma comodação ingénua, e perigosa por demais, porque nos atem. Nada se procura, porque parece ter-se tudo até aquele dia em que o tudo, volto a dizer, deixa de o ser, altura em que por vezes, o atrofio já se apoderou da nossa alma, e pouco sabemos fazer, para escapar ao infortúnio do óbvio que nos encheu, e que entretanto nos vazou. O segredo, se é que ele existe, e se é que o detenho, ufana ousadia a minha, é a versatilidade e a ambição, que quanto mais as conseguirmos, mais seremos felizes. Quaisquer das duas sem exageros, que esta vida permite alguns, mas nada destes assim. Malvada, que só nos ensina à palmatória, e discreta, ainda em cima.

Do trigo limpo

Num misto de divagações, surge o tema que não se sabe bem ser qualidade ou defeito. Existem coisas assim, feitios marcados por determinadas características ambíguas, ao ponto de serem detentoras de várias interpretações, de acordo com quem analisa, ou de acordo com a situação em questão. Cá para mim, que sou da clareza, mais do que qualidade ou defeito, que de resto, penso nem abrangerem tudo, considero essencial a capacidade de assumir posições, quer elas sejam a favor, ou contra a corrente. Fico muito mais mal vista, pelo menos numa primeira abordagem, do que os santos que acordam, para depois se escapulirem discreta e ardilosamente. A minha mãe bem me diz, que eu não sei habitar por cá.

Aprendizagens

Hoje é segunda e regresso de férias. Hoje é segunda, ausentei-me uma semana, e numa meia hora que aqui estou, já descobri umas dez situações que não deveriam ter acontecido. Não pensem que neste momento me julgo grande e insubstituível, que sei não ser, ninguém o é, e ainda bem. Neste preciso momento, julgo que ensino mesmo muito mal. Deixo-me a mim mesma um pequeno benefício de dúvida, ponderando a possibilidade, de nem todos quererem aprender, pois poderá ser esse o caso.
Vou agora mergulhar a sério na desgraça. Se sobreviver, volto mais tarde.

sábado, 10 de julho de 2010

Barbaridades...

- Olha o homem do saco. Olha, vem lá para te buscar. Olha o velho, olha o velho!!!
Primeiro, pensei que isto já não existia, ainda julguei que de seguida, viesse o olha o papão, tão em voga na minha época de criança. Segundo, não percebo o porquê de assustar crianças com o velho. O velho, sim, porque existem pessoas velhas, embora o termo possa ser outro, tem muito mais de bom do que de mau. O aspecto, pode ser rude, mas por norma, o interior é sublime, e ama crianças como ninguém. É por estas e outras, que determinadas situações teimam em acontecer.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Males

Ainda que tentando compreender tudo, transcendem-me coisas a mais, talvez para me fazer lembrar que Deus há um e é se for. A necessidade de fustigar gente que às vezes nem se conhece, com as maleitas do fígado, do coração e do intestino, não sei a que vale. Quem ouve acena que sim, numa concordância delicada, e emana ares de espanto, perante tamanha desgraça. Tenho memória vivaça, aguda, que me transporta em grande aqui e ali. Lembro-me bem da tia Augusta, dona do café central de certa aldeia, a par com muitos outros que todas elas têm um. A tia Augusta gostava de apregoar os males que a apoquentavam, a ela e aos seus, a viva voz para quem a quisesse ouvir, e para quem não quisesse, e que por azar estivesse nas redondezas. O mal varicoso, que lhe comia a perna aos poucos. O mal do estômago, que lhe azedava a boca e o espírito. O mal do intestino que lhe entupia as entranhas e lhe causava suores nocturnos dignos de referência, e a fazia bebericar todas as manhãs, um copo de água aquecida com farelo de dar às galinhas. Tanto lhe ouvi o pregão, que se calhar -la na rua, ainda me ocorrem de cor, os males por que perguntar. Ninguém acalmava as suas dores, enfados ou aflições. As velhas apenas ouviam, e exclamavam uns àààhhhh, pobre de ti Augusta. Se calhar o cerne de quem ouve é esse, julgar coitado o outro, e sortudo a si, mas nem deve funcionar sempre, que muito acontece, o rol da desgraça alheia, contagiar quem ouve, que por sua vez, encontra dentro da sua terrível existência, mal mil vezes pior.
A quem fala, deve libertar a alma, já que no corpo, tudo sustenta.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Juízos

Um já tinhas idade para ter juízo empurra-me ao pensamento, como se fosse preciso motor de arranque. Não, não tenho, e muito me orgulho, que no dia em que só isso tenha, serei a mais profunda das infelizes. Em tempos, ainda nova, já se assolavam de mim pequenos episódios, reveladores de uma mente que se formava, um tanto ou quanto rebelde. Que trocava as voltas às gentes que exerciam poder sobre si, com alguma arte e ardil, se assim entendesse, levar avante o seu propósito, tivesse esse juízo ou não. Intensificou-se, podia ter passado, mas não, que muito me tem dado esta vertente vadia que me povoa a alma quando a sinto atafulhar. Nada de inconsequente, ou que me leve ao infortúnio. Tenho algum dom no que toca ao peso e medida, sempre tive, e espero que me acompanhe, que se passar, fará falta, claro que sim. A continuar a acompanhar-me, poderei levar adiante a vida, sem ter aquele juízo sério, que me amoldaria a isto ou aquilo, de forma precisa e infausta. Não quero. Assim sendo, continuarei caminho, acompanhada das minhas temeridades. Quanto à idade do juízo, julgo que a tal não vira até mim. Tenho-lhe medo, respeito, e ao absoluto quero-lhe distância, que os absolutos podem ser opressores, e não me dou nada com essas coisas demasiadas. Se chegarei aos noventa ou perto também não sei. Sei que se chegar, continuarei a não ter idade para ter juízo. Ou pelo menos, assim espero.

Alive

Começa hoje o Alive. Eu tinha bilhete para dia 10, que vendi quando planeei a viagem. Agora estão esgotados. Pronto, por ora, é só isto.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Meandros dos dias...


As falhas de planos empurram-nos para outros, que podem nem ser o pretendido, mas são qualquer coisa, e assim nos impelem. Deveríamos daqui tirar lições para a vida, dado que em muita situação assim é, e quando algo corre mal, é necessária, apenas e só, a capacidade de mudar direcções, coisa que parece fácil, mas não é não senhor, que a nossa mente enquanto programada, é pior do que a dos burros que só andam em frente. Nestas férias estranhas e em nada planeadas já se fez sei lá o quê, incluindo ver trilhos de dinossauros perdidos na serra. Sobe-se a uma altura considerável, e vê-se bem lá no alto as patas daqueles bichos tamanhos, podendo inclusive passear-se no meio das próprias pegadas, redondas e gigantescas, na beira do meu pequeno pé. Até ao local, passasse por sítios que são meus, que tenho alguns, dos quais me esqueço, relembrando-os sempre que lá passo. E ainda bem que me esqueço, senão a minha pobre mente, de tanto que por cá tem, já teria colapsado, perante a imensidão de significados, deixados aqui e ali. A fonte Moreira, onde lavei roupa com a minha avó, é uma delas. Esfregada com sabão clarim, para depois corar no sol, enquanto lanchávamos na sombra próxima. No fim do lanche, a história do mama na burra, que ouvi cem mil vezes, e da qual me esqueci há muito, não consiguindo ainda hoje perceber, esta terrível falha, da minha triste memória. A fonte quase não tinha águas, que o calor a seca por demais, mas ironicamente, na minha fonte, por demais seca e árida, algo caiu. Empurrei para dentro, que nisso sou mestra, ou melhor, era, que a malvada teimou. No regresso, passasse na ponte da pedra do rio Alviela, nos olhos de água, onde a criançada encalorada se banha ao sol das sete. Não me banhei por falta de preparo, que julgo que hoje teria quebrado o jejum das águas gélidas, tal o calor que se sentia. Ainda lá enfiamos os pés, no meio das pedras alvas e do lodo que as envolvia. Soube que nem nozes pelo fresco e pela memória. Por fim o jantar na casa dos velhinhos avós, onde no terraço e afins, encontro coisas intemporais, daquelas de que sempre me lembro, que resistem ao tempo, numa provocação directa ao meu ser, como se o bandido, só passasse por mim e não por elas. O banco de uma qualquer matéria que se desfaz há anos, mas que ainda não terminou. O vaso de barro, já sem flores e com menos cor, mas imponente como sempre. A máquina de costura bernina, tapada com a mesma capa, essa, já a dar de si. Os gatos que nascem aos magotes das gatas perdidas na vida, e que se ajuntam no final da tarde, na doce espera do que será o jantar, depositado fielmente, e em quantidade suficiente, por Dona Maria Carmina, sejam eles dois ou vinte. O sítio do meu baloiço que carunchou faz tempo, o malvado. A pereira que dá pêras do tamanho de um figo, porque sempre lhe ataca a moléstia, coisa que a minha avó, chegou a pensar ter-se apoderado de mim, tal era o meu estado de semi raquitismo enquanto gaiata.
Janta-se. Vê-se a Espanha a ganhar e com muito mérito. Regressasse, numas férias plano B, que me estão a encher a alma. Temos mesmo, é de a deixar encher, que nos entretantos da vida, já julgo que as almas vazias, são almas que não o sabem fazer.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Da praia


A praia estava boa. Entretive-me a observar, enquanto o pequeno piolho se rebolava nas águas gélidas, onde eu pouco mais ponho do que um pé. Deparo-me, mesmo na minha frente, com uma senhora na casa dos cinquenta com tatuagens. Várias, desde uma de tamanho considerável nas costas, passando por uma no tornozelo, outra no ombro, e nem sei se alguma mais. Este carácter definitivo da arte de pintar o corpo assusta-me. Por experiências diversas, concluí que o para sempre, é uma expressão um pouco frágil para ser levada a sério. Por norma já não a profiro à boca cheia, e uso a devida cautela. Quando o para sempre é mesmo para sempre, fico a modos que assustada. Não que a dita senhora me parecesse desconfortável, que provavelmente aqueles desenhos que já foram uma obra de arte num corpo bonito, e que agora mais não são do que um defeito, num corpo deformado, já fazem parte de si. Talvez até o desconforto fosse meu e não dela, que acontece em muito boa situação, pode bem ser esse o caso. Na hora do almoço almoça-se na barraquinha da praia. Uma salada, um sumo de pêssego, e chega, que a tarde não está para brincadeiras, e é necessário manter o rebento dentro de água, tão cedo quanto possível. Ou isso, ou ter de jogar raquetes até cair para o lado, debaixo de um sol escaldante, que não apetece mesmo nada. Reparo nos entretantos na antipatia dos senhores da esplanada, que atendem com ar de enfado quem por lá decide almoçar. Compreendo o calor e o mar ali ao lado, mas ainda assim, não me parece razão suficiente para tamanha antipatia. Quando o mundo der uma volta ( ainda sonho, sim), uma das coisas que deveria mudar era o humor das pessoas que trabalham.
Já na areia, levo a cadeirinha para a beira do mar, e vejo os surfistas na sua arte. Não sou esquisita quando admiro artes, e consigo apreciar quase tudo.
Agora estou por casa. O telefonema intercontinental trouxe-me algumas novidades, incluindo a de que a ilha se assemelha a uma lua. Já começo a julgar que me tentam poupar, esnobando a delicia que gozam. Não sei, digo eu.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

...

Sentada no sofá da sala, vejo ondas de calor lá fora. Descubro que as férias também podem ter parte chata, quando a temperatura sobe aos quarenta e motivos fortes nos cerram, ainda que temporariamente. Só ao fim do dia, largo a garrafa de água e ouso sair, má hora o fiz, que o calor era ainda abrasador. Os planos de amanha é chegar à praia bem cedo, dado que já nos permitem. Preciso dela. E preciso de mais coisas, que parecem acenar ao longe, enquanto me fogem. Assim, como nos sonhos.

domingo, 4 de julho de 2010

A Dona Aurora

Hoje vi a Dona Aurora. A Dona Aurora é uma velha muito velha que abriu em tempos uma discoteca, já para aí nos oitenta. Bordava à mão e tomava conta do negócio, coisas que em tudo tinham a ver, como decerto constatam. Pensei que já por cá não andasse, que deve contar noventa e muitos, bem perto de cem. Ia direita, como sempre, alta e magra tipo aipo, com os seus brancos cabelos ao vento. Em tempos fomos colegas de profissão, num curso de rendas e bordados, onde ela ensinava a bordar, e eu dava umas luzes de desenvolvimento pessoal, a senhoras que bordavam por imposição. Em vésperas de meu casamento, ela teimou que lhe comprasse linho para me bordar uns lençóis à mão, a mim, que nada ligo a bordadura. Uma senhora bordadeira, logo me disse minha mãe. Faz o favor de aproveitar. Por estima lhe levei o linho, a fim da dita me postar as iniciais do casal, no que haveria de me cobrir o leito. Passados uns tempos os lençóis chegaram, apenas com a minha letra, coisa que deveras me teceu intriga. Minha querida, melhor pensei, e julguei por bem deixar só o C. Serão para ti, e para quem tu quiseres, hoje e sempre, que nesta vida as coisas podem mudar. Sorri-lhe e agradeci. Era uma velha muito velha expedita como só ela. Temo que com os anos não sobrem muitas velhas assim, que farão falta. Dos lençóis, confesso, não lhe senti o toque. Guardo-os com estima, que são lindos para quem os souber apreciar, numa arca recôndita, em conjunto com outras recordações.
A Dona Aurora não me conheceu. Deve estar senil, ou algo do género. Sorriu-me no vazio, e em resposta. Dizem que ainda borda. A discoteca já fechou.

Crónica de férias assim

Pela manha, ruma-se a um sítio por demais conhecido. As malas semi feitas, semi, porque não dava para mais. O contentor tinha muita gente, uma aflita, outra um bocadinho menos. Nos corredores um ambiente estranho, macas espalhadas, médicos de sorrisos e outros de caras sérias. Os médicos não deviam ter caras sérias, chegam a assustar quem para eles tem de olhar, na desesperada espera de uma resposta, que parece nunca vir. Que queremos e ansiamos, num misto estranho de sensações fortes e antagónicas. Tenho para mim que muitos não têm a real noção do que se sente nesta espera, ou decerto teriam um outro ar, mais tranquilo, menos assustador. Ou sou eu, talvez seja isso, que os vejo assim, e eles nem são. Procuro agora alternativas, por entre as idas ao médico que poderão surgir, para alimentar a sede de um pequeno ser que queria estar longe daqui. Na tal da nobre tarefa, tento tranquiliza-lo com uma tranquilidade que nem tenho, e tento dizer-lhe que fica para a próxima, quando até queria, embora já pouco, que tivéssemos ido desta. Deixa lá, vais de outra vez, diz-me a minha querida avó ao longe, como que a querer conformar-me, a mim, de por terras lusas ter ficado. Como se o meu real problema fosse esse. Esse é a ninharia, só assanhada pela intranquilidade de quem me assalta a toda a hora. O resto, o problema, -de ter solução. Que quando os verdadeiros se solucionam, os pequenos deixam de o ser.

sábado, 3 de julho de 2010

Adenda

O sorriso está tímido. Está, mas está tímido... E o chapéu foi com a mana. Ela merece o meu chapéu.

Férias

Estaria eu na eminência de partir para férias, se a vida não me tivesse trocado as voltas. Vai a família, lá para terras de África, eu e rebento, ficamos por cá. Uma estranha doença, incógnita, por enquanto, resolveu manifestar-se agora. Ser mãe também é isto. Habituada às adversidades, mantenho o sorriso, apenas perturbado pela preocupação. Resta-me desejar boa viagem aos que foram para a terra das mornas. Embora de férias, vou manter-me por cá. Até já.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Dos anos que por cá trago

A nossa sociedade e grande parte das que conheço, teimam em encobrir a idade feminina, com engenho e arte, incluindo, para não dizer especialmente, as próprias mulheres. Percebo que o façam, e em tom de brincadeira, também eu já o fiz muitas vezes. Talvez até tenha já passado, uma fase pouco digna , em que com alguma mestria, teimava em ocultar os anos, como se o parecer mais nova, muito me desse. Hoje, e feliz de o ter conseguido aos trinta, orgulho-me como um raio da idade que tenho. Digo-o à boca cheia para quem me quiser ouvir, e se desilusões houver, paciência, que também eu me desiludo com imensa coisa. Há que aguentar, que o mundo é feito delas. Logo, caro Senhor E, tenho mesmo 33. Aquele número dos Mercedes do Continente, se bem se lembra. No entanto estou quase nos 34, estou velhota, portanto, nada crente na canção do bandido, que desdenho até mais não. Canções comigo, só bem cantadas e sob minha permissão. Coisas assim do género de chuto, a ver se cola, ui, que me deixam danada. Podia ter ido noutro sentido, que o efeito teria sido o mesmo, mas este sentido da idade, irrita-me ainda mais. Teve azar no tema, meu anjo, deixe-me que lhe diga. Logo, não gostei nada do facto de me ter dito, que uma Senhora não deve revelar a idade, sob pena de perder o encanto e o mistério, impropério que terminou, numa delicadeza fictícia, que não tinha sido o meu caso, como se eu lhe tivesse perguntado alguma coisa. Logo percebeu, que se não o perdera até aí, de imediato o perdi. É que o meu mistério é muito selectivo e direccionado, e não se perde nunca e em nada com determinadas personagens pouco dignas, que por azares de percurso e de labor, me vão cruzando o caminho, e com as quais eu sou do mais assertivo que existe na face da terra. Temos pena, sou assim. É a vida. Adeus e bom dia.

Profissões

Passo no cabeleireiro de manha bem cedo, por ossos do ofício, ainda que estranho pareça. Em tempos, os da ambição de bailarina, cantora e outras assim, cabeleireira também fazia parte da minha lista. Tinha a ver com vaidade e beleza, logo, por norma, seduz qualquer moçoila, na idade dos sonhos. Depois passou, e ainda bem. Não sei como seria, se logo pela manhã, tivesse de ouvir, à semelhança de hoje, os discursos da praxe, proferidos por Senhoras de cabelo armado qual capacete, que têm sempre uma história mirabolante para contar, como a da Dona S, que roubou o marido da Dona L, ou a da Fulana tal, que vai de férias, não sabem com o dinheiro de quem. Era pessoinha para, em prejuízo do meu negócio e sustento, lhes encarapinhar o cabelo até ao infinito, ou de lhes fazer madeixinhas azul petróleo, ou até, quem sabe, provocar uma queda galopante, bem por cima da zona da testa. Se tivesse escolhido ser cabeleireira, teria sido o meu fim.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Memorial

A noite clara rendeu um filme, um episódio de Clínica Privada, coisa mais fútil, mas que muito me agrada, e um bom avanço no Memorial de um Convento. Se há coisa que me fascina eram os hábitos e costumes de outras eras. O Rei que casava com a Rainha, prometida em tempos por um outro Rei, que seria o Pai, com uma qualquer conveniência emergente. O objectivo dos esposos seria constituir família, com um varão de preferência, e se tal não acontecesse avançava-se com novos ensaios, no dia e hora marcada, sob a guarda da criadagem que rondava os aposentos reais. Retrocedendo aos tempos em que lia livros de História de Portugal, e via os documentários do José Hermano Saraiva, que sim, gostava muito de ouvir, lembro-me das usanças de outrora. Lembro-me por exemplo de que não eram as mães que criavam os filhos, que eram entregues a amas, incumbidas dessa nobre tarefa. Os Homens por caças e guerras, assim se perdiam, e as Senhoras entre chás, costuras, e outras inúteis tarefas, se preenchiam, deixando o que de mais precioso tinham, em mãos alheias, terrível pecado, que nem à confissão ia. Embora me causem apelo os costumes, quase todos me causam ainda estranheza, pelo vazio que deveria existir naquelas gentes, os vazios perturbam-me, já sabem. E isso nem chegando a entrar na plebe, de vida miserável, embora mais animada, tenho para mim.
Desde esta minha época de interesse pelo que é histórico, que as vidas perfeitas dos Príncipes e das Princesas me causam algum enfado, como de resto, quase tudo o que é perfeito, se é que isso existe.
Quanto ao Memorial, vale a pena, que nem sei como, ainda não o conhecia a fundo. Diferente do que já tinha lido do Autor, mas igual na genialidade da escrita.

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