quinta-feira, 15 de julho de 2010

A Dona Rosa

A Dona Rosa tem três filhos dados a quem os quis, que ser mãe não era para ela. Não que não os amasse incondicionalmente com aquele coração de mãe, que acompanha com um cérebro atrofiado por demais, para de lá perceber o que tem de ser feito. Dá-los, foi o que melhor soube fazer, e eu acho que sim, ainda lhe sobrou alguma lucidez, que lhe permitiu concluir a sua dificuldade em acudir necessidades de gente pequena, que berra e grita sem se explicar, e ela já a si mal se entende, quanto mais. Anda por lá pela aldeia sem rumo e sem vida. Tem por norma um chapéu salpicado a cal, que vai auxiliando as velhas que têm muros brancos imaculados e pouca força para deles cuidar. Hoje caiava um, de blusa de alça atada na cintura, um legging preto, e o tal do chapéu. Sorriu-me como é hábito, quando por ela passo. Há quem desdenhe a sua vida, a sua postura despreocupada, o seu ar de mulher fácil meio estranho e desengonçado. Outro dia via chorar, estranheza tamanha me assolou, nunca tinha acontecido eu ver. Disse-me que lhe tinham chamado puta, aquela ali do café. Com palavras a acalmei, e tentei o melhor que soube, entrar naquela cabeça estranha, e afaga-la um pouco. No fim agradeceu-me, e voltou a sorrir, no meio dos disparates que dizia, numa balburdia de emoções que queria expelir, quase sem conseguir. Há gentes de choro fácil e de sorriso fácil também, nada a ver comigo, com pena minha, que reprimir emoções é do pior que há. Quando as encontro gosto sempre de as ver sorrir, e nem entendo quem queira o contrário, que mais não faz que acentuar um estado, por si só já mau que chegue.

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