terça-feira, 14 de junho de 2011

Desenvolvimentos Inversos

Toda a vida o acatou, que os dissabores, exigências, ou outras contrariedades, sempre lhe entraram no corpo, para de imediato encontrarem lugar para se aninharem, e ali permanecerem, anos e anos a fio. Umas foram destilando, devagarinho, entrando no âmbito do esquecimento, uma tremenda mais valia que possuímos, e que nos permite um crescer coerente. A lembrarmos tudo o que nos acontece, a termos presente todos e quaisquer factos por nós já passados, ficaríamos por certo submersos em tristeza, que estas lembranças, as menos boas, são detentoras de um qualquer poder, muito forte e vinculativo, que nos marca cá dentro, por vezes, mais até do que as coisas boas, que se acomodam de forma mais leve, e que facilmente absorvemos, para delas se fazermos pessoas. Ele não gostava de quadros de parede. Não gostava de cortinas às flores, de copos de cores, de passeios à beira do mar. Nasceu forte e enrijecido, ou então assim se fez no crescimento, embora ela quase que jure, que já deve ter vindo ao mundo em tal preparo, que a densidade da sua existência é de tal ordem, que só pode ser fado premeditado, tecido por alguma entidade suprema, forte o suficiente para tal gente construir. Ela, sempre se submeteu. Era para isso que tinha sido feita, que era dona de casa, mãe de filhos, mulher dedicada. Os anos e a vida, moldaram-lhe o corpo e a alma. Hoje, a força física deixou de lhe ser um préstimo, transformou-se, quiçá, na força que lhe povoa a mente, que não existe por ora contrariedade, à qual se submeta. Sua vontade, é hoje tida na devida consideração, consideração essa que nunca houvera existido, mas que agora lhe nasceu por dentro. Olho-a e sinto algum receio. Não por ela, mas por mim. Afinal, os progressos inversos à ordem de sempre, podem ocorrer. Por revolta, por crescimento, mas quem sabe, também por cansaço.

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