sexta-feira, 6 de abril de 2012

Lembranças de Páscoa

Era um menino e costumávamos brincar com o seu nome. Adérito, filho, volta, estás perdoado..., preiteando assim um Herman de quem gosto mais ou menos. Adérito vinha do Príncipe, um sítio onde não havia tratamento de hemodiálise para a sua mãe, uma senhora magra e escura, com um sorriso aberto e muito claro. Tinha uns caracóis rebeldes e guardava também no corpo alguma dessa rebeldia, como se o cabelo não a conseguisse absorver toda, e os restos se tivessem espalhado e deitado ares de graça, que emergiam por vezes, quando contrariado. Gostava da vida que o tinha acolhido de forma torcida. O pai não o reconheceu, a mãe adoeceu e trouxe-o para longe do que conhecia e do que era seu. A ambição por outros mundos, comum a tantas crianças, não era dele. Gostava dos carros quase sem rodas, do ar da sua terra, da sua avó de quem morria de saudades.

Nunca mais o vi, e já faz muito tempo. Tenho pessoas que deixei assim, nos caminhos, e que me fazem falta à existência. Gostava ao menos de o saber bem, mas nada sei. Lembro-me dele especialmente nesta altura, porque adorava amêndoas de chocolate. Adérito podias, senão voltar, ao menos dizer qualquer coisa. Um disparate este meu querer, que mesmo que o quisesses, nem sabes onde me encontro.

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