quinta-feira, 22 de julho de 2010

Isabel

Encontro-a ontem de ar risonho e aspecto anafado. É assim desde que a conheço, e já contam largos anos. Não a via há um tempo, e gostei que acontecesse, porque é das que me engrossou a lista dos seres felizes, que nem são muitos. Tem um marido músico, que corre o mundo a tocar atrás de grandes nomes do Fado Português. Tanta música lhe deu em novo, que a coisa pegou julgo que para sempre, expressão linda e enigmática esta, que ainda não se me deu a conhecer. Numa existência apregoada de simples, encontro-a por norma de sorriso nos lábios, olhar terno e calmo, num misto de alegria e ternura, que de resto, nem sempre encontro nos olhos das gentes, deveras atafulhados, em mágoas e preocupações. Tenho a mania de ler olhares, entre outras manias assim, umas mais estranhas, outras ambiciosas, outras banais de mais, que também me dou a banalidades. Preocupações também ela terá, decerto que sim, mas nem sei que lhe faz, que em nada transparecem. Em meia dúzia de minutos que tivemos, muito se disse, numa amena cavaqueira, já olhada de lado pelas minhas amigas, por demais fartas de esperar-me, que sempre que encontro alguém, perco-me nas palavras. O marido dela, esse, na calma que a música lhe dá, seguiu caminhos sem se incomodar, esperando-a mais na frente, também ele de olhar tranquilo, como se esperar a mulher nada o afligisse, esta intrigou-me, confesso. Dizem que a inveja é um pecado mortal, chamemos-lhe então outra coisa, que de resto, o que lhes sinto nem é cobiça, mas admiração.

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