sábado, 22 de agosto de 2009

O carrinho da leitura...


Ontem, sem esperar, surge-me uma memória de infância. Daquelas que já não me assaltavam, julgo que há anos. Veio de mansinho, clandestina, e engraçado como a presença de pormenores se fez notar, assim, como se tudo tivesse sido vivido ainda há pouco. Não sei o que a fez emergir. Mas sei o quanto me fez sorrir, só de se fazer lembrar.

Em criança, residia com os meus pais numa aldeiazita no sopé de uma Serra linda de morrer; com carreirinhos de pedra branca, por onde passeei inúmeras vezes. Longe de cidades, no meio do nada. Sim, as minhas origens são essas mesmo.
Ficava aos cuidados da minha avó, que bordava, costurava, e aturava as manias do meu avô, hipocondriaco e mulherengo de nascença. Muito defeito para um Homem só, mas enfim, era, e é, o amor da vida dela.
Uma das parcas animações da aldeia, era uma carrinha, que por lá passava uma vez por semana. Uma carrinha carregadinha de livros, sob a custódia da nossa querida Fundação Calouste Gulbenkian, de nome Biblioteca Itinerante. O objectivo primordial, era levar livros e Histórias, a sítios, onde de outra forma, decerto não chegariam. Tinha um toque engraçado quando chegava, a assinalar a sua presença. Lá dentro, um Mestre de Barba Branca, orientava a criançada, e aconselhava o que de melhor havia para nos fazer sonhar. Tinhamos direito a escolher três livros, que levavamos para casa, e entregariamos na semana seguinte. Por vezes, o tal mestre, reunia-nos e contava-nos umas histórias de encantar, com um ar misterioso e enigmático. Daqueles, de contos de fadas... Era assim como que uma carrinha mágica; a mais mágica de todas, embora existisse outra que me fazia sorrir. A do vendedor ambulante que tinha uns chupa chupas de cereja que eram uma delícia.

Obviamente, acabei a deambular por uma série de outras viagens à minha infância; lembrei o meu baloiço, feito com uma corda num ramo de oliveira, a casa velhinha da minha bisa, que recordo com um carinho enorme; o jardim da casa dela, recheado de violetas pequeninas, que emanavam um cheiro delicioso; o meu cão Piruças, e o vadio Camões, baptizado assim por ser cego de um olho; a minha gata Lolita; a casa da minha querida N., que me embalou horas a fio, me viu nascer, baptizar, crescer, e que ainda hoje deixa cair um lágrima quando me vê, e revivemos juntas tanta e tanta coisa; a minha escola primária, que recordo com uma terna saudade...

Porque sou do hoje, do amanha, é certo. Mas porque foi o ontem que fez a minha História e tudo o que sou. E é tão doce recorda-lo...

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