quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sérgio

Veste uma camisa listada, um casaco bordeaux e uma calça mais ou menos do mesmo tom. Usa uns óculos pretos de massa grossa, que poderiam ser para o estilo, mas não são. Nota-se muito que não são. Até aqui tudo certo. Posso até parecer critica nos devaneios que por cá deixo, vou largando uns apartes, quando mais nada me ocorre e me apetecer tecer alguma consideração sobre qualquer coisa, que a não ser séria, pode ser moda, mas nada mais do que isso. É quando fala que me entorpece as ideias. Já encontrei gente nova com setenta ou oitenta de BI, gente curva mas engrandecida, munida de uma liberdade sem tamanho e uma capacidade de inspirar e expirar a vida tal e qual ela é. Não são muitos, que o crescimentos e a evolução podem tornar as pessoas chatas e macambúzias, com os azares, as agruras e os azedumes próprios da vida, pelo que só os que são compostos por matéria específica, adaptável e maleável, conseguem passar pelo tempo e manter a jovialidade e a alegria, enquanto crescem em responsabilidade e em substância. Mas agora estes inversos, de gente de vinte com sentir e pensar de gente de sessenta ou setenta, é que de facto não encontro muitas vezes. E fico arrepiada, enfartada, não gosto de me deparar com estas realidades de pessoas que crescem à velocidade da luz, e que sem passar pela irreverência e pelos sonhos dos vinte, saltam directos para a faixa da resignação. E pelo decorrer do discurso percebe-se que a postura não calha assim devido a este ou àquele tema que em específico pode fazer doer, mas estende-se a toda uma vida, a toda uma envolvência, a sonhos pouco sonhados, a objectivos limitados, a prisões construídas dentro de um corpo que o prendem mais do que uma jaula a sério. Fiquei aturdida, quase assustada. Senti-me na presença de um ser estranho, retirado de um livro velho e amarelado, munido de pasta castanha e rigor militar. Não gosto de rigores excessivos. Não simpatizo com militares, salvando as devidas, por inerências familiares que merecem todo o meu respeito. Não que tenha medo a estas gentes ornamentadas a severidade, não é isso. Sou eu o problema, que me sinto de imediato impotente para dar de mim, pois nunca serei recebida. A entrada está fechada, blindada, guardada no casulo da perfeição conseguida, e dos dias que correm iguais, sem libertações manifestas ou acessos de excesso. É o que julga. Uma impossibilidade de entendimento para um ser livre como eu. Nunca conseguiria viver sem excessos e libertações soltas. Nunca os conseguiria prender no meu corpo. Ele também não consegue, ninguém o consegue. Mas se não fosse conhecedora desta limitação humana, quase juraria que sim.

1 comentário:

  1. Isso, quando rebentar vai cheirar tão mal que ninguém aguenta por perto! E a forma dissimulada de controle?! ufa!

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