quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vinculação

O DN de hoje toca-me numa ferida que nunca sarei. Tenho mais destas, não muitas, mas as suficientes para que determinadas partes de mim sangrem de vez em quando. E não aprecio propriamente as vozes que proferem, desconhecedoras do que falam, só pode, que com o tempo se banalizam determinadas situações, como se possível fosse, quem lida com o sofrimento alheio, se habituar a ele como se habitua a picar um ponto, a seriar papéis ou a desenhar casas de habitação. A diferença está apenas em que o encaramos, ponto final. Somos talvez corajosos, talvez realistas, mas nunca desligados.
Pegava-lhes já tarde. Doze, treze, por aí, quando a vida já lhes tinha dado voltas suficientes para que se sentissem sacudidos por todos, excluídos de muitos locais, até do seio familiar. Por motivos diversos, que eram muitos. O estudo publicado hoje, começa mais cedo. Nos primeiros meses de vida, e nas constantes perturbações de vinculação que vão emergir. Talvez seja até um termo pouco abordado, a não ser por nós e por mais uma ou outra classe que lhe reconhece a importância. Está errado. A vinculação adequada, tal como afirmava Bolby, na sua extraordinária teoria do apego, é um dos primeiros sustentáculos de uma boa saúde mental, que se inicia no berço e que evolui ao longo do crescimento, num conjunto de vínculos que construímos com o tempo. E neste seguimento poderemos pensar, que vínculos construirão crianças, e posteriormente jovens, que se encontram num permanente processo de ganho e de perca? E que segurança sentirão eles num mundo que lhes dá e lhes tira com a velocidade da luz? Como crescerá saudável um bebé, sem uma figura disponível e permanente de referência? Como receberá ele amor, de alguém que hoje está e amanhã já não está, e a quem ele não pertence, por disponibilidade que esse alguém até possa ter?
Não questiono boas vontades, mas também não vivo de ilusões. A institucionalização deveria ser sempre um último recurso, e investida, quando realmente necessária, até ao infinito, por forma a garantir a quem vem ao mundo por azar, um crescimento minimamente favorável.

( Samuel tinha treze. Uma mãe que não via há meses e que chamada por mim, estranhamente, compareceu. Entrou e saiu sem olhar para o filho. É só um exemplo, mas tenho muitos mais. E não, nunca me consegui habituar a isto.)

4 comentários:

  1. Antígona, pois é. Mas é uma realidade presente, e por vezes próxima. E faz-se tão pouco neste campo. Mas tão pouco mesmo...

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  2. Concordo, também tenho dificuldade em habituar-me às coisas más... acho que até devia ser ilegal!!! Se nos habituarmos, se as banalizarmos não fazemos nada para alterar o estado das coisas e isso sim está mal!

    Cata
    http://longoriotranquilo.blogspot.com/

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  3. cf, nem imagino o que seja enfrentar essas historias cara a cara, e muitas vezes não conseguir soluções para elas...

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