terça-feira, 9 de novembro de 2010

Dos tempos internos, e de como o cansaço pode chegar tarde...

Ele cansou-se da guerra. Enquanto tal nem aconteceu, dividiu o seu tempo entre cá, a Bósnia e outras missões, onde esteve como voluntário, a fim de conseguir amealhar frutos para o sustento da família, com a maior preocupação centrada no filho, um pequeno ser com uma deficiência motora considerável, que necessita de apoios diversos, alguns de despesa avultada. Nem bem se lembra de alguma noite se deitar, sem ensopar de lágrimas o travesseiro, numas lágrimas teimosas e grossas, que lhe saiam dos olhos contra a sua vontade, enquanto na garganta se apertava um nó tamanho, que só desaparecia já no sono. Noites havia, em que o tal nem chegava, que nem bem bastava as distâncias que a vida lhe dava, para também agora o sono se lhe fugir a contragosto, que ao menos enquanto dormia, esquecia, ou melhor ainda, sonhava, que se encontrava cá, no seu Pais, em sua casa, com a sua mulher e o seu menino. Nesses dias, em que o sono teimava, o nó não saía. Cansou-se, tal como disse. Cansou-se porque nem queria a distância, nem queria a saudade, coisa que nem sabe bem como definir. Cansou-se das lágrimas na almofada que lhe secavam no rosto enquanto o nó se sumia, cansou-se do medo, que nem era bem da guerra, que de resto, nem perigo sério correu, mas de que o seu menino nem estivesse bem. Cansou-se e julgou prudente o regresso, ainda que com as consequências esperadas de uma maior contenção, para que nada faltasse. Voltou.
Nem bem correu como o desejado, que a sorte, é qualquer coisa que a vida nem lhe reservou, vá lá saber-se porquê, anda mal distribuída a maldita, que a uns bafeja a todo o instante, a outros, dá-lhe um sopro magro e somítico de longe a longe, tão fraco e insignificante, que mal se vê.
Ela já se tinha cansado antes, de um cansaço denso e sem fim. Nem mais lhe apeteceu partilhar aquela guerra por ele escolhida e vivida de perto, e por ela aceite e vivida ao longe.
Hoje vê o seu menino com frequência, dá-lhe o apoio da presença. As lágrimas e o nó continuam cá, as noites em claro idem.
Num mundo perfeito, o cansaço teria surgido a par e passo.

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