quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Vozes de comando

Cláudia era uma Mulher forte e decidida, numa fortaleza que estendia, sem querer, é bem que se diga, ao seu exterior, sendo que apresentava um aspecto possante e rude, com raro sorriso, que a surgir, vinha em tom amarelado. Cheguei a julgar, que lhe fugia a medo, à sua completa revelia, que mal aparecia, e ainda a graça ou algo poderoso que lho tivesse arrancado, estava em evidência , e já o pobre se esvaia, mais depressa do que o que tinha surgido, dando lugar ao ar carrancudo e sério de sempre. Usava óculos pretos em massa, que lhe carregavam o ar pesado, juntamente com as camisolas de lã grossa que teimava em envergar parte considerável do ano, quer fosse Outono, Inverno ou Primavera, deixando-as apenas no Verão, por completa impossibilidade de ligação.
Na sua volta encontrei alguns tipos de pessoas, tipos distintos, vários, muitos mais do que julguei existirem no inicio.
O respeito exacerbado surgia por parte de alguns, sendo que nestes, o receio da sua voz de comando era tal, que nunca ousavam abrir boca contra alguma ordem dada por sua Excelência, e se o faziam, que o considero possível, tal a ferocidade das ordens que dava, umas vezes acertadas, outras vezes não, mas nas quais não recuava nunca, que de resto, nem se permitia a si própria tal contradição, faziam-no no devido recado, onde ninguém os ouvisse, nem que fosse uma pobre mosca que passasse, podia a dita ganhar voz, e fazer chegar a tão temível figura, as manifestações de revolta, coisa que jamais poderia acontecer, sob pena de represálias severas.
Existiam os que a respeitavam mas refilavam baixinho nas suas costas, coisa que nem nunca descobri se tinha consciência ou não, que a tê-la, fingia que a não tinha, acto típico de quem muito manda sem precisão nas ordens que dá, que a enfrentar o corajoso refilão, necessitaria de sustentar o que mandou, coisa que nem sempre lhe seria fácil, sendo que o mais prudente, era a ignorância, fosse ela real ou não.
Surgiam ainda os que a confrontavam, poucos, muito poucos assim se diga, que a fazerem-no, necessitavam de sustento interno forte, que sua Excelência, tinha o apoio patronal, pelo que quem a afrontava, mais cedo ou mais tarde, corria sérios riscos de ser dispensado.
E por último, entre mais umas ou outras pequenas variações nas vertentes que atrás defino, surgiam os que por norma não contestavam, tinham algum, ou muito medo, obedeciam no que podiam, numa vã tentativa de agradar, mas que acima de tudo, lhe ambicionavam os traços de carácter, coisa que se tornava visível, mal lhes era permitido pisar em alguém, de nível inferior. Nem bem sei se o que ambicionavam, era a posição de confiança atingida, coisa que nem bem me parece, se a vontade de sentirem a sensação que idealizavam dentro de si próprios, e que Dona Cláudia deveria sentir amiúde, ou seja, a autoridade poderosa, causadora de medo, por onde passava.
Não gosto de autoridades, mas julgo gostar ainda menos, dos fracos que a ambicionam.
Embora no fundo, no fundo, fracos sejam ambos.

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