sábado, 20 de novembro de 2010

Escolhas

Casou cedo, que de resto, que mais fazer, quando se habita uma casa que nem é nossa, numa família que nem nos pertence, numa terra estranha e sombria. A paixão nem era por ai além, mas chegava para despoletar um friozinho de bem estar que nem sequer conhecia, melhor do que qualquer outra sensação que habitualmente sentia. Ela era loura e de pele branquinha, dedicada a ele, e dizia amá-lo. Nem foi preciso pensar muito, que o que tinha a perder era pouco, quase nada, para não dizer nada de todo, e o que eventualmente poderia ganhar, caso o casório lhe corresse de feição, poderia compensar os magros anos a que tinha sido sujeito por imposição da vida, esta malfadada coisa da qual as pessoas se queixam amiúde, incluindo ele próprio, quando algo corre menos bem. "É a vida. É a vida".
Não correu. Hoje, afirma a pés juntos, que caso volta-se para trás, não teria cometido esta insensata escolha, que a idade já lhe trouxe conhecimentos mais do que suficientes para perceber que o casamento para ser proveitoso, necessita de mais do que de uma empatia momentânea e morna, aliada ao escape a algo do qual se foge por não se querer. A sustentabilidade destas ligações, construídas à força da necessidade e não do amor, é débil e frágil, e mais não fazem do que uma existência sem sabor, subjugada ao dever da obrigação de dar o sustento a quem já se pôs cá neste mundo, e também de resto, partir agora para onde, como e em busca de quê.
Pelo que o que por ora detém já conhece, embora confesse, já tinha esquecido a essência, até porque agora existem algumas nuances, os filhos, para que se entenda, a atenuar o estado indolente, que ainda assim se impõe, à sua completa revelia.
Casou cedo, é um facto. Hoje, porém, tem uma casa que nem sente dele, uma família que nem é bem sua, numa terra estranha e sombria. Nem diz que escolheu mal, embora o consciencialize, que estando escolhido, escolhido está e a lamentação, nem é bem arte das suas. Chamou-lhe então desabafo, numa preocupação que detecto com frequência, em atribuir nomes apaziguadores, a sentimentos importantes.

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