quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Encaixes e dúvidas

Gosto de noites sossegadas. Gosto de me deitar, fechar os olhos, e adormecer depressa, antes que me tomem de assalto, os pensamentos vagabundos da minha existência, que todos temos alguns, não constituindo eu, qualquer tipo excepção à regra. Não constituo em nada, porque deveria constituir aqui, sendo que em nada me destaco, assumindo a normalidade como um estado permanente, onde qualquer tipo de genialidade ou bestialidade me fogem a bom fugir, deixando-me marinada no meu Eu simples e prático, nuns dias adaptado, noutros dias não. Nas noites em que tal acontece, em que permito a entrada a tais pensamentos furtivos, uso levantar-me, num instinto de protecção inerente a mim, que a deixar-me ali, em estado de indolência perante tal invasão, mais não consigo do que uma submissão que em nada me apraz, nem aqui, nem em qualquer outro lado, pelo que lhe fujo, sempre que posso. Por esta altura, e a ser lida por algum colega de profissão atento e treinado, correrei o risco de ser apontada como fugitiva de pulsões internas, mas não se aquietem, que nem é o caso. Penso-as quando assim tem de ser, quando a necessidade impera e a minha vontade quer, e isso me basta, não me parecendo em nada prudente, a obrigatoriedade do pensamento, quando apenas a elas apetece. Olho por norma a televisão, preciosa aliada, que sempre encontro qualquer coisa que me entretenha o espírito, que pode ser a Anatomia de Grey, ou um qualquer outro programa no National Geographic, que trate de bicharada. Outra noite tratava salmões que fugiam dos ursos, estratégicamente colocados na subida do rio, exactamente nos locais onde os pobres peixes são obrigados a saltar. Esticam a pata, apanham-nos e comem-nos de uma assentada, numa supremacia e voracidade tremenda. Fez-me lembrar as leoas, que correm na savana atrás dos magros antílopes, esses, pobres de Cristo, ainda mais limitados, que uma vez sinalizados, de pouco lhes vale fugir, que dificilmente escapam com vida.
Nesta natureza que se diz perfeita, existe sempre a presa e o caçador, o superior e o inferior, o que vive e o que morre. Nessa mesma noite, quando o sossego chegou, sonhei que comia salmão assado no forno, com oregãos e sumo de limão. Tu também estavas, a atormentar-me o espírito. Quando acordei, nem bem percebi, em que ponto da cadeia me encontrava.

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