Falou-se neles, nos velhos, que hoje são muitos, prevêem-se muitos mais. A população envelhecida parece ser encarada de ânimo leve, como se nem constituísse um problema, num País onde poucos nascem, e onde se morre cada vez mais tarde. Por obra da evolução, por certo que sim, principal responsável pelo alongamento da esperança de vida, que apenas não nos ensina, e agora, o que é que fazemos? Ou melhor, até talvez ensine, que a ordem natural será essa, seremos por certo nós, nem todos, mas muitos, que nem bem o tomamos, que existem coisas difíceis de aprender. Compreendo.
E como tal, os que não sabem, despejam os velhos aqui e ali, onde se possam albergar longe dos olhos, sendo que ficam assim também, longe do coração, ditado antigo, por certo já o ouviram dizer, se não neste, num outro contexto, nem importa qual, importa sim, o que significa. Corre-se, bem sei, também eu corro, como toda a gente, nem mais nem menos, que no fundo, e admitindo as devidas variações do quotidiano individual, todos corremos, todos vivemos e todos lutamos, trabalhamos e prosseguimos, é assim a vida, e quem lhe escapa ao meandro, algo lhe falta. A diferença poderá ser, que enquanto uns correm enquanto mantém de perto as origens, quanto mais não seja num perto longe, necessário quando a vida nem permite grandes proximidades, outros correm mais longe, longe o suficiente para nem sentirem quem por lá ficou, que já pesa, já exige, e já não dá. Nem por aqui me perco com percursos insanos, que possam ter dado origem a afastamentos, sendo que serão sem dúvida a minoria. Falo dos outros.
A suprema revolta surge-me, quando me dizem, numa justificação que me dão com o intuito de se apaziguarem a si mesmos, que a doença chegou, e eles, os velhos, estão ali porque ali estão, e já nem sentem a falta. Porque nestas coisas dos laços, a falta, deveria ser sempre de ambos os lados. Há muito, descobri que não.
Fiz as contas, e concluí que ficarei velha, nessa época em que seremos muitos mais.
Bravo, mais uma vez. Desde que assisti aos envelheceres dos meus entes, de outros,e na presença do meu próprio envelhecimento, que me tornei muito sensível à total falta de sensibilidade de uns. Como se envelhecer não fosse inevitável.
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