sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Faltas

Falou-se neles, nos velhos, que hoje são muitos, prevêem-se muitos mais. A população envelhecida parece ser encarada de ânimo leve, como se nem constituísse um problema, num País onde poucos nascem, e onde se morre cada vez mais tarde. Por obra da evolução, por certo que sim, principal responsável pelo alongamento da esperança de vida, que apenas não nos ensina, e agora, o que é que fazemos? Ou melhor, até talvez ensine, que a ordem natural será essa, seremos por certo nós, nem todos, mas muitos, que nem bem o tomamos, que existem coisas difíceis de aprender. Compreendo.
E como tal, os que não sabem, despejam os velhos aqui e ali, onde se possam albergar longe dos olhos, sendo que ficam assim também, longe do coração, ditado antigo, por certo já o ouviram dizer, se não neste, num outro contexto, nem importa qual, importa sim, o que significa. Corre-se, bem sei, também eu corro, como toda a gente, nem mais nem menos, que no fundo, e admitindo as devidas variações do quotidiano individual, todos corremos, todos vivemos e todos lutamos, trabalhamos e prosseguimos, é assim a vida, e quem lhe escapa ao meandro, algo lhe falta. A diferença poderá ser, que enquanto uns correm enquanto mantém de perto as origens, quanto mais não seja num perto longe, necessário quando a vida nem permite grandes proximidades, outros correm mais longe, longe o suficiente para nem sentirem quem por lá ficou, que já pesa, já exige, e já não dá. Nem por aqui me perco com percursos insanos, que possam ter dado origem a afastamentos, sendo que serão sem dúvida a minoria. Falo dos outros.
A suprema revolta surge-me, quando me dizem, numa justificação que me dão com o intuito de se apaziguarem a si mesmos, que a doença chegou, e eles, os velhos, estão ali porque ali estão, e já nem sentem a falta. Porque nestas coisas dos laços, a falta, deveria ser sempre de ambos os lados. Há muito, descobri que não.
Fiz as contas, e concluí que ficarei velha, nessa época em que seremos muitos mais.

1 comentário:

  1. Bravo, mais uma vez. Desde que assisti aos envelheceres dos meus entes, de outros,e na presença do meu próprio envelhecimento, que me tornei muito sensível à total falta de sensibilidade de uns. Como se envelhecer não fosse inevitável.

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