quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Incompreensões tamanhas

Gertrudes não gosta do banho. Desde sempre que se lavava todos os dias com um paninho molhado, embebido em cheirinho doce, retirado do frasquinho especialmente escolhido para o efeito. Passava por onde considerava necessário, dando privilégio às mãos, à cara, com forte incidência na boca, aos sovacos e às partes intimas. Isso chegava-lhe, sendo que o banho surgia apenas e só uma vez por semana, aos Domingos, dia da missa, altura em que enchia o regador dependurado na casinha exterior à habitação, de água morna, e metia a touca na cabeça, para que fosse possível passar-se naquela água corrente, aparada num alguidar de plástico cor de rosa, que posteriormente despejava nos vasos das flores, sardinheiras, maioritariamente.
A cabeça era lavada no salão da Dona Rosa, uma vez por mês, e era seca com rolinhos pequenos, que a deixavam com uns caracóis miúdos e tesos, que ela enchia de uma laca suficientemente poderosa para lhe manter o penteado intacto ou quase até à próxima ida. Durante a noite, segurava-o com uma rede que atava na nuca, que protegia o cabelo da almofada.
Não sabe cá o que são comichões ou outras aflições que agora lhe apregoam poder ganhar. Nem bem percebe o motivo pelo qual no fim de velha, necessita de alterar os seus hábitos higiénicos, mantidos desde sempre, tendo sido até considerada por todos, Mulher zelada e extremamente cuidada. Não lhe agrada de todo o banho diário, debaixo de um chuveiro que corre, quando o seu paninho muito bem lhe chegava, ainda para mais agora, no Inverno, sujeita até a apanhar mal respiratório, vindo de alguma ponta de ar mais atrevida. Não entende sequer, o que faz toda a gente querer lavar-lhe o cabelo amiúde, muito para além da vez mensal a que ainda se permite na cabeleireira, por ora uma outra, que se desloca ao Lar onde habita, também ela profissional capaz e competente.
Modernices.

1 comentário:

  1. LOL Realmente o abismo entre os hábitos não tão antigos como isso e os de agora é, neste país, imenso! O meu avô morreu sem compreender esta mania de se tomar um banho diário. E mais! morreu convencidíssimo que isso faz muito, mas mesmo muito, mal à pele.

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