quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Quentes e boas e batatas doces


Talvez tenham corrido já uns 25 anos. Na casa de primeiro andar da minha avó, Dona Maria Carmina, o terraço estendia-se muito além da habitação, pelo que eu passava tempos consideráveis a brincar em cima de mantas, enquanto cozinhava papas de massa derretida em água, que depois dava ao gato, que nunca comia, vá lá saber-se porquê. Neste dia, especificamente neste dia, embora também em muitos outros de data incerta, passava o Homem da castanha e da batata doce, ouvido por mim, sempre em primeiro plano, dado encontrar-me invariavelmente no terraço.
Ambas eram transportadas em dois cestos de verga compridos, presos numa Macal Minarelli, que calcorreava vagarosa as estradas esburacadas, tal o peso da carga, distribuída entre castanha, batata, assador, e condutor, espaçoso, por sinal. A buzina vinha encastrada no veículo, e consistia numa bola de borracha vermelha, que ele apertava com força, fazendo sair da corneta anexa, um som estridente, que avisava da sua chegada. Num ápice, no largo junto ao Café Central, juntavam-se as velhas e as novas, de avental florido ou bata de botões, munidas de um saco de pano bordado com atilhos por cima, a fim de transportarem o pitéu. Minha avó comprava invariavelmente um cartuxo de castanhas assadas na hora, e um kilo de batatas doces, enquanto eu pulava na sua volta, aguardando que logo ali me fosse dada uma batata docinha como o mel.

Hoje, a castanha sabe-me igual ou quase, especialmente as que compro na rua. A batata, confesso, muitas vezes não me satisfaz. Apanho-a por norma mirrada e estreita nas bancas do supermercado. Valem-me as incursões da minha mãe pela praça, e pela banca da Dona Luciana, recheada de batatas gordas e grandes, que cortamos à fatia, e comemos acompanhadas de agua pé doce. Prefiro-as à castanha. Desde sempre.

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