Um tema de conversa do jantar familiar, foi a frontalidade. Tenho cá para mim, que a frontalidade é coisa de gente. Que se preze, e que se orgulhe de o ser. Vale sempre mais uma verdade, mesmo que um bocadinho a atirar para o amargo, do que uma mentira piedosa, que mais não faz do que encobrir, temporariamente, situações mais obscuras. Mas ainda assim, julgo ser necessário algum savoir faire, e sentido de oportunidade, a fim de não magoarmos quem nos ouve. Recordo-me como se fosse hoje, de um episódio que marcou a minha adolescência. O meu namorado, que anos mais tarde passou a marido, para actualmente assumir a posição de ex marido ( muitas posições, portanto), andava caído de amores por mim. Eu, na fase do tudo cor de rosa, tudo corações e love is in the air, escrevo-lhe, armada em Florbela Espanca, qualquer coisa semelhante a um soneto de amor. Não cumpriria de certo as normas de escrita, mas ainda assim, foi escrito e inundado de paixão, do meu (ainda) coração de menina. Entreguei-lho, cheia de orgulho pela minha obra de arte, e fiquei a observá-lo a ler, o que para mim, eram as mais doces palavras do mundo. Quando termina a leitura, olha-me nos olhos, e quando eu já esperava um beijo, ou alguma palavra de agrado, lança-me um tens aqui um erro ortográfico. Assim, a frio. Ok, ok, é certo que nunca fui mestra em Português. É também certo que o erro lá estava. Mas será que não poderia ter saído nada antes, e o erro vir depois? Não sei, digo eu. A quem a experiência assumiu carácter de eternidade. Quem sabe, por ela, nunca mais ninguém será bafejado, por uma carta de amor de minha pessoa. Porque estas coisas traumatizam, ora pois. E eu entendo-me é com os traumas alheios, não é cá com os meus. Eu, que até me ajeitava para essas coisas das cartas. Desperdício...
Serviu, e vendo a parte boa das coisas más, para hoje ter consciência, estendida a qualquer situação, que verdade, sempre. Mas na altura certa. A nua e crua, lançada tipo míssil, magoa. E nós não andamos aqui para magoar ninguém... Digo eu, mais uma vez.
Com os anos até se vai percebendo que há coisas que mais vale guardarmos para nós. Com os anos vai-se aprendendo que a frontalidade, como outra coisa qualquer, também pode existir em demasia e que muitas vezes serve mais quem desabafa do que quem fica a saber coisas que, se calhar, até dispensava...e depois, em muitas matérias, a verdade é algo bastante relativo . Nem sei bem se existe «A verdade», se calhar, na maior parte das vezes, existem «As verdades» :)
ResponderEliminarPercebe-se um dos motivos para o estatuto de ex :)
ResponderEliminar...
ResponderEliminar(uma inssibilidade XXL)
...
Mas tiveram um filho maravilhoso.
...
Como diz, e bem, a minha avó: "há males que vêm por bem".
:))