domingo, 8 de novembro de 2009

Verdades...


Um tema de conversa do jantar familiar, foi a frontalidade. Tenho cá para mim, que a frontalidade é coisa de gente. Que se preze, e que se orgulhe de o ser. Vale sempre mais uma verdade, mesmo que um bocadinho a atirar para o amargo, do que uma mentira piedosa, que mais não faz do que encobrir, temporariamente, situações mais obscuras. Mas ainda assim, julgo ser necessário algum savoir faire, e sentido de oportunidade, a fim de não magoarmos quem nos ouve. Recordo-me como se fosse hoje, de um episódio que marcou a minha adolescência. O meu namorado, que anos mais tarde passou a marido, para actualmente assumir a posição de ex marido ( muitas posições, portanto), andava caído de amores por mim. Eu, na fase do tudo cor de rosa, tudo corações e love is in the air, escrevo-lhe, armada em Florbela Espanca, qualquer coisa semelhante a um soneto de amor. Não cumpriria de certo as normas de escrita, mas ainda assim, foi escrito e inundado de paixão, do meu (ainda) coração de menina. Entreguei-lho, cheia de orgulho pela minha obra de arte, e fiquei a observá-lo a ler, o que para mim, eram as mais doces palavras do mundo. Quando termina a leitura, olha-me nos olhos, e quando eu já esperava um beijo, ou alguma palavra de agrado, lança-me um tens aqui um erro ortográfico. Assim, a frio. Ok, ok, é certo que nunca fui mestra em Português. É também certo que o erro lá estava. Mas será que não poderia ter saído nada antes, e o erro vir depois? Não sei, digo eu. A quem a experiência assumiu carácter de eternidade. Quem sabe, por ela, nunca mais ninguém será bafejado, por uma carta de amor de minha pessoa. Porque estas coisas traumatizam, ora pois. E eu entendo-me é com os traumas alheios, não é cá com os meus. Eu, que até me ajeitava para essas coisas das cartas. Desperdício...
Serviu, e vendo a parte boa das coisas más, para hoje ter consciência, estendida a qualquer situação, que verdade, sempre. Mas na altura certa. A nua e crua, lançada tipo míssil, magoa. E nós não andamos aqui para magoar ninguém... Digo eu, mais uma vez.

3 comentários:

  1. Com os anos até se vai percebendo que há coisas que mais vale guardarmos para nós. Com os anos vai-se aprendendo que a frontalidade, como outra coisa qualquer, também pode existir em demasia e que muitas vezes serve mais quem desabafa do que quem fica a saber coisas que, se calhar, até dispensava...e depois, em muitas matérias, a verdade é algo bastante relativo . Nem sei bem se existe «A verdade», se calhar, na maior parte das vezes, existem «As verdades» :)

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  2. Percebe-se um dos motivos para o estatuto de ex :)

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  3. ...

    (uma inssibilidade XXL)

    ...

    Mas tiveram um filho maravilhoso.

    ...
    Como diz, e bem, a minha avó: "há males que vêm por bem".

    :))

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