quarta-feira, 31 de março de 2010

Das leituras, porque eu tinha mesmo de dizer isto...

Encontro-me, por ora, embrenhada na última obra adquirida, por demais real e precisa. Muitas das gentes que com eles lidam no dia a dia, estão a anos luz desta crua realidade. O ritmo acende-se, o hábito instala-se, e vê-se chegar mais um, ou vê-se partir, que isto depende do dia, das luas e do tempo. Mais um apenas, e não mais alguém. Há pessoas a quem o hábito tolda, que parecem apagar-se para o mundo e para o sofrimento alheio. Talvez para se protegerem, o que não deixa de ser, muitas das vezes um egoísmo cruel. Chega o francisco, como chega o mauel ou a maria. Deixados por alguém, que ás vezes se preocupa, outras vezes não, ninguém sabe, mas também não importa, porque é só mais um, que fica ali, entregue a outrem, a quem não se dói. Já sabia que ia vibrar com a história. Talvez esteja a acontecer em maior intensidade, do que eu imaginava.
No meu dia a dia, tento protege-los e apagar-lhe aquele sentimento de inutilidade, de desprezo, de fim. Faço questão, absoluta, de acompanhar a chegada, de fazer o acolhimento, de manter o mesmo espaço a todo o custo. Picuinhices, dizem alguns, que deveriam ser obrigados a experimentar o sentimento de vazio que povoa aquelas cabeças velhinhas e perdidas, mas quem sabe um dia. Do que já li, admito que me fascina a capacidade realística do autor. Que ou acompanhou de perto, muito de perto, alguém nas circustâncias, ou tem uma sensibilidade fabulosa, para captar uma realidade assustadora, que foge, na maioria das vezes, a quem os cuida. Talvez a sapiência, esteja na capacidade de ver e sentir, mesmo que ao longe. Que quando sensível, ultrapassa quem vê de perto, com olhos distantes, coisa que existe por aí em demasia. Estou a amar a leitura. Entendo-a a 100%. Não fosse a extraordinária capacidade de escrita do autor, e quase diria, que poderia ter sido eu a escrevê-la.

terça-feira, 30 de março de 2010

Compras


As compras têm poderes escondidos. Cientificamente comprovados, e com especial incidência no género feminino, o da futilidade, ora pois. Sempre me deleitei com a quantidade de Homens que encontro, nas entradas das grandes lojas femininas. Com ar de enfado, muitas das vezes abanando um carrinho de bebé, com um pequeno ser aos berros lá dentro. Este fenómeno, tem maior expressão, no tempo dos saldos, ou em época natalícia. Mas dura todo o ano, embora numa escala mais reduzida. Comprovei hoje. Pela minha parte, e como o ser que me acompanha é um pirralho de sete anos, não tenho a sorte de ser largada ao meu devaneio, dentro das referidas lojas. A incursão, é por norma deveras controlada. Entre um estou farto, um olha aqui mãe que giro ( horrível por norma, ou no mínimo espalhafatoso), e um deixei cair isto, consigo por norma, vislumbrar qualquer coisa, assim, meio de esguelha.

Sentida

Tenho algumas manias de beleza, confesso. Uma delas, centra-se no meu cabelo, que me molda airosamente o rosto. Não pode estar demasiado curto, nem demasiado escuro; demasiado claro também não gosto, ganho um ar falso, e não gosto de falsidades, nem por dentro, nem por fora. Pelo telefone, estranhei não me pedirem foto, para tratar de um certo documento, mas enfim, lá rumei. Para descobrir quase em pânico, que a foto, era no sítio, tal e qual Cartão de Cidadão. Eu, por norma munida da minha querida maquilhagem, levava a cara mais lavada que um prato, acabadinho de sair da máquina. As minhas sardas, andam por cá, pois andam, mas ainda deveras tímidas, com esta preocupante falta de sol. Comecei a tremer, e a moça do atendimento, deve ter percebido o meu estado de aflição. Deu-me uns segundos, para eu me deslocar à casa de banho, e tentar compor esta terrível desgraça. Compus, ou melhor julguei que tinha composto. Mal me posto de fronte à máquina, começam a mandar-me afastar o meu querido cabelo. Nas orelhas, na testa. Recomeço a tremelico. Ainda por cima, sou portadora de um magno sinal azul, acima do meu olho direito, que escondo ardilosamente, com o cabelo que agora me mandam afastar. Concentrei-me, com esforço hercúleo, e a imagem foi captada. Com jeitinho, e perante o tamanho da desgraça ali impressa, solicitei outra, ao que ela acedeu. A segunda não ficou melhor, mas o meu descaramento, não chegou para solicitar terceira, e lá fiquei eu. CF, de cara pálida, e ainda por cima de cabelo para trás, num documento importantíssimo. Está muito bem, diz-me a Senhora, ao que eu sorrio, quase conformada, e já a pensar, se calhar são os meus olhos exigentes. A foto do pequeno J, também não ficou por demais favorecida. Faço-lhe uma festa e vocifero, Calma meu querido, a mãe está muito pior. Pois estás, nem sei bem o que tu pareces responde-me, com um sorriso de orelha a orelha.
A minha auto estima está sentida, a minha foto está mesmo uma desgraça, e eu como chocolate desalmadamente. Concluo que esta coisa da sinceridade infantil, poderá estar intimamente ligada à engorda.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Férias


Diz que estou de férias, pronto, é isso. O que digamos me fazia uma falta imensa. Talvez sejam mesmo elas, as principais responsáveis, pelo facto da minha lágrima ontem não ter saltado olho fora. Um bem hajam para elas, portanto. Logo pela manha, ruma-se ao cartório. Não, não vou casar, não pensem, outros assuntos me lá levam. Sorrio, com o ar de arquivo das senhoras que por ali trabalham. Tudo aquilo cheira a mofo, incluindo elas, que são ainda um tanto ou quanto lentas, as pobres. Têm no entanto a capacidade, de se rirem dos tremendos disparates que vão dizendo e fazendo. O que as faz, à sua maneira, umas pessoas felizes, mesmo quando eu internamente lhes corto na casaca. É esta uma das magias da vida. Podemos pensar o que quisermos, e sorrir ao mesmo tempo, fazendo com que, quem está de fronte a nós, não imagine o que nos vai na alma. A isto pode chamar-se nomes feios, mas eu não me importo, que estou longe da perfeição. Para além disso, tivessem elas tratado o assunto com maior prontidão, e o meu espírito desocupado, não se teria debruçado, sobre tantos pormenores. A culpa, é unicamente delas, convenhamos.
A pedido do rebento, ruma-se ao cinema, para vislumbrar como treinar o seu dragão. Confesso que achei um must. Uma história com bons e maus, com conversões e lições de moral, como se quer. Levei pontapés na cadeira, com bastante veemência, e ainda com um pacote de pipocas em cima, mas enfim, são simples acidentes, nada mais, de quem se aventura nestas coisas.
Como necessito de um agradinho, depois de suportar a criançada, rumo até à livraria, e já cá canta aquele ali em cima, escritinho a direito, tal como eu gosto.
Vou até ali, por-lhe a vista em cima. Coisa que me inquieta é ter um livro novo em casa.

domingo, 28 de março de 2010

Uma Mulher não chora

Sou boa a adaptar-me, dizia eu. E sou, claro, que não digo baboseiras. Digo o que sinto, e muito sentido. No meio desta adaptação dos dias, surgem os desadaptados. Não que sejamos nós a desadapta-los, nada disso, que o nosso caminho é sempre o mesmo. É quando alguém se julga no direito de nos avivar a memória, e trazer ao cimo, o que tanto queremos esquecer. É quando alguém se julga no direito de nos chamar tristes, quando nós somos alegres. Ou tentamos ser, ou nos adaptamos. E é nesses dias, poucos, mas demais, que me apetece negar este nome.

sábado, 27 de março de 2010

Infidelidades, ou porque eu também tinha de falar nisto...


Esta coisa das fidelidades, a mote da revista nós, tem que se lhe diga. Já cá falei delas, mas é um tema tramado este. Cada vez mais acho, que fiéis são os cães, e pouco mais, que esses sim, abismam na nossa ausência, e não vão logo de rabo alçado, em busca de novo dono. Em esforço considerável, das quatro Mulheres lá de casa, um esforço sério e reunido, diga-se, analisando diversos casais das redondezas das quatro ( muitos portanto), concluímos, com alguma estranheza, que necessitamos de tempo considerável, para apontar um casal digno de referência. E digno de referência, trata casais sem infidelidades declaradas, o que não quer dizer, obviamente, que elas não existam clandestinas e feitas assim com jeitinho. Vivemos hoje, numa sociedade onde muito se trabalha, e pouco se investe nas relações. Onde o tempo de deleite é cada vez menos, e a paciência para a conquista do que já é nosso (?), não abunda. Para além disso, o conceito de felicidade e realização, está muito mais abrangente, e as pessoas acham que podem avançar e experimentar outras situações, se a que têm em casa, não as faz felizes. O tédio é um inimigo dos potentes, e nada há a fazer quanto a isso. Ou melhor, haver, há, mas exige esforço, e nós não vivemos nessa era. A nossa geração, dizia-se há uns tempos, que é rasca. Eu na altura não acreditava, mas agora, já penso melhor. E então, no meio do facilitismo, do desrespeito, e do umbigo no expoente máximo, é hora de animar a malta. Aqui e acolá, e logo à noite estamos todos juntos outra vez, porque assim é muito mais fácil. Na mesma casa, na mesma mesa, e se for na mesma cama melhor. Se não for, fica um na cama outro no sofá, mas não há problema, porque ninguém vê, e assim se vai vivendo, no lar doce lar, dentro das quatro paredes. Conclui-se ainda, que mesmo alargando o âmbito da nossa análise, e recuando a tempos de outrora, a fidelidade era também um caso sério, daqueles muito sérios, com outras nuances de fundo, mas sério. Enfim, é um problema abrangente.
A par de tudo o que se acha, e o que se lê sobre este assunto, eu, sempre muito ciente e clara, e fiel ás minha ideias, bato no mesmo ponto. Constatei ainda nas minhas leituras, que há mais gente a pensar assim, o que me faz sentir deveras acompanhada. Parece-me muito melhor, a fidelidade de carácter, de gente, de atitude. A fidelidade a nós mesmo, e a busca da felicidade, que duvido muito que esteja, nas facadas constantes ao matrimónio. O não estarmos bem, vamos mudar, em vez de enganar, soa-me bem que se farta. A quem não se adaptar a esta minha teoria, faça o favor de ser infiel à vontade, onde bem lhe apetecer. Se no final de contas, ficar tudo satisfeito, parece-me a mim muito bem. Já sabem que eu sou da boa paz. Falo falo, falo falo, mas sou da boa paz. Sou é fiel, pronto.

Só um aparte

Isto de se ser entendida em mentes, ou quase, pronto, tem que se lhe diga. Dá-nos trabalho 24 horas, quanto mais não seja ao telefone. Nada temos a ver, por exemplo, com um canalizador, que não opera à distância. O nosso leque, é muito mais abrangente, e não necessita de presença física obrigatória. Um telefone, ou um msn, e o contacto está feito, e vamos lá ver se me dizes qualquer coisa que me anime o espírito, que estou que nem posso. Temos ainda subjacente, aquela coisa da ética, que nos iguala aos Padres dentro de um confessionário, e que faz com que, o que quer que nos seja dito, seja alvo do maior sigilo. Tudo isto leva, a que eu, CF, detenha um espólio considerável de informação alheia, de pessoas amigas, familiares, ou nada disso, que de mim se socorrem, para as suas análises e projecções mais profundas.
Tudo isto parece muito giro, mas nem sempre é. A disponibilidade sempre pronta, é como qualquer outra coisa sempre pronta, cansa, e consequentemente, não é eficaz. O guardar sigilo, é muito fácil nas pessoas alheias, mas no que toca à malta do burgo, fia mais fino. Mas eu esforço-me amigas, eu esforço-me.
No final das desvantagens, vem uma parte boa, que tem tudo a ver aqui comigo. Tenho a permissão alheia, de dizer o que quero, o que penso e o que acho, a pedido, claro, que de outra forma, recuso-me.
Na envolvência, ás vezes excedo-me. Mas quero que saibam, que amo todos os que acompanho de perto. Os meus, os que se socorrem de mim pela proximidade. Não julguem cá, que porque vos digo que a vossa atitude aqui ou acolá, foi do mais deplorável que podia ter sido, vos vou amar menos. O melhor, será não levarem o que digo muito a sério, ou, se levarem, não se esqueçam de que eu não espero demais de ninguém. Nem de mim, quanto mais de vocês. Sou só um bocadinho desbocada, pronto. É isso.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Na minha cozinha


Há quem não consiga cozinhar sempre da mesma forma. Comigo, as coisas funcionam sempre. Bons ingredientes, tempo, e as minhas mãos, e o resultado, é invariavelmente bom. Não costumo salgar, ou deixar insosso. O arroz não coze de mais, e o pato, nunca seca no forno. O refogado não queima, o peixe não pega, e a sobremesa não fica doce de mais. Gostava que na minha vida, mais coisas fossem assim. Em condições ideais, fins perfeitos e saborosos.
Nessa falta, vou começar a passar mais tempo dentro da minha cozinha.

porque eu também tenho dúvidas...

ás vezes interrogo-me. não concluí ainda, se sou feliz porque sou mesmo, ou se sou boa a adaptar-me.

Dúvidas

Namorei à janela, diz-me. Roubou-me dois beijos antes de me pedir. Esta coisa do pedir, era gira. Como se as pessoas fossem propriedades de outrem, e necessitassem de autorização para serem levadas dali. Fiz-me ao feitio dele, continua, não foi ele que se fez ao meu. Mas nunca me faltou nada. Deu-me tudo, tudo... Oiço-a com atenção, e nesta parte, assumo, uma ponta de inveja. Não sei se ele hoje me vê, mas se vir, decerto sofre com o meu sofrimento. Ando por esta vida há anos demais. Não precisava de ainda continuar cá. Os que me fizeram mal, já pagaram muito. Faltam alguns, que ainda irão pagar. Nos meus momentos de desespero, penso em qual será o meu fim. Eu, que olho para esta gente, e sinto satisfação com o mal que lhe acontece. Sinto-me feliz, com a infelicidade deles. Decerto, Deus terá guardado, um castigo para mim.

Diz ela que teve um casamento perfeito. Diz ainda que, à parte disso, teve uma vida de sofrimento. Assume prazer, na infelicidade dos que lhe fizeram mal, sem reservas, o que me causa admiração, não é para todos, convenhamos. Tem 96, e medo do fim que se avizinha. Não do fim em si, mas do modo do fim. Todos os dias, lido com eles, e os admiro. Concluo, amiúde, que viver não é fácil, é dificíl. Mas viver, aos 96, quase sozinho no mundo, e carregado de rancor, deve ser ainda mais difícil. O rancor é mau por tudo. Pode ler-se, no que atrás descrevi.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Rádios


Tenho para mim que sou embirrenta. Não há toa, mas por razões imponentes, que não me deixo levar em ninharias, faço questão. Existem coisas que não suporto, é isso. Enfio-as no saco, e tudo quanto ronde o género. Programas de rádio, por exemplo, daqueles com interlocução com o público, que oferecem isto e aquilo, à troca de karaokes desafinados, repetições de frases exaustivas, ou frente a frentes renhidos, entre Homens e Mulheres, repugnam-me à séria. O rádio do meu carro, anda por norma em modo on. Suporto as notícias, embora actualmente, as novidades sejam poucas, e o mais do mesmo, se assuma. Ouço Músicas alegres, tristes, mexidas, paradas, antigas, modernas, Portuguesas, ou não. Enfim, nesse âmbito, não me apontem o dedo, que o ecletismo povoa-me, um bem haja para ele. Tolero os passatempos via net, ou mesmo via sms. Oiço entrevistas, sugestões, agenda e por aí fora. Tudo ( ou quase, vá) me agrada, incluindo algumas vozes fantásticas, que por lá habitam ( e saudades de algumas que já se foram). Como vêm, sou embirrenta, mas nem me encaixo na pior espécie, o que é fantástico, digamos. Os concursos. Esses, é que me tiram do sério, e me fazem mudar de posto de imediato, mesmo que logo a seguir venham os Muse, e eu corra o risco de perder o fabuloso início de Starligth. Preço alto, eu sei, mas pago o que for.
Hoje, chuvada na testa, logo pela manhã. Sonho terrível, com o tal do guardião atroz. Pé na lama, quando deixo o rebento. E no embalo da música, surge-me o Ernesto. Só perdoo a RFM, pela fabulosa ideia, tida há pouco, das doidas por malas. Que também tem por lá uma parte gira de um telefonema, onde tem de se gritar do outro lado, qualquer coisa estranha. Mas nisto das malas, perdoo tudo. Julgar-me-ia até capaz, de dançar a Macarena, em cima de uma mesa redonda, de fato aos folhinhos cor de rosa, bem de fronte ao George Clooney. Tudo por uma Louis Vuitton, uma Chanel clássica, ou algo do género. Coisas de Mulher.

Sonhos

Freud dizia que o sonho, é o guardião do sono. Anda atroz, o meu guarda. Estou a pensar seriamente em troca-lo por outro.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Sons

Há coisas que nos perseguem, e os sons, são uma delas. Na vinda, apanho numa qualquer rádio, os meus James, com Born of Frustration. Diz-me tanto, mas tanto. Como outras, ou outros sons apenas, que nem só de música vivem os meus ouvidos. Como o som do meu baloiço, quando pequena, no qual passava horas a fio; o som do miar da minha gata; o som do balde a bater no fundo do poço, de onde a minha mãe tirava água; o som dos pedais da minha bicicleta; o som da máquina de costura da minha avó, ritmado e melancólico, como ela. O som do fado, ouvido horas a fio no gira discos velhinho do meu avô, grande responsável pela minha aficção; o som do corvo lá de casa, chamado Jacob; o som das árvores do jardim; o som do mar; o som do meu filho a mamar. O primeiro choro, quando ele nasceu; o som do meu cão a abanar a cauda, quando chego; o som da mota do meu primeiro namorado; o som da porta, por onde fugia de noite, só para lhe dar um beijo, que rangia em demasia, no meio do silêncio. O som da minha flauta, por demais desafinada, perante as outras. A voz da minha mãe a chamar-me; a voz da minha professora primária; a voz de gentes, que não oiço há muito. O som das cascatas dos Olhos d'água. O barulho dos mergulhos na piscina da casa dos meus amigos. O som das panquecas que frito para o nosso lanche; o som dos teus passos, inconfundíveis. E outros sons, imensos sons.
Por ora, o silêncio reina no espaço. No meu consciente, todos os que descrevi, já soaram um a um, como de resto, soam muitas vezes. A memória, é uma capacidade fantástica, que nos aconchega tremendamente. Perder qualquer faculdade, será sempre situação dramática. A perda da memória será das piores, diria eu.

Obsessões


Estou deveras preocupada comigo. A minha obsessão por chocolate, encontra-se, por ora, no seu expoente máximo. As amêndoas, assumem-se, de momento, como as minhas piores inimigas. Tudo quanto é doce, me acena com força, e quase me persegue. Na casa de chá, para onde me dirijo dentro de momentos, existem uns scones divinais. Se isto fosse numa outra pessoa, diria que andavam por cá, carências de afecto. Como sou eu, não é nada disso.

Maluquices

Portugal tem uma incidência brutal de doenças Pisquiátricas, diz o I de hoje, e digo Eu a toda a hora. E digo brutal, porque para mim, um em cada cinco, é deveras significativo. O leque é elevado, e dentro, cabem doenças mais e menos graves. O preocupante, para além de outras questões, é que a abordagem, é muitas das vezes feita pelo Médico de Família, que por boa vontade que tenha, não domina o assunto. É mais ou menos o mesmo, que pormos um Médico de Clínica Geral a realizar intervenções cirúrgicas.
O resultado, não escandaliza tanto, é um facto. O desgraçado até já era maluco.

terça-feira, 23 de março de 2010

Patentes

Hoje, tive uma visita importante. Diz-se. Surgem-me dois enormes seres, de elevadas patentes, com ar de superioridade. A patente é levada da breca, e propícia a essas coisas da superioridade. A minha disponibilidade, é sempre a mesma, faço questão. Para estes, e para outros, porque gente, é sempre gente. Inicio abordagens diversas vezes, em diversos contextos. Não sinto a necessidade de aplicar um ar distante, sério, frio, a não ser que, por algum factor externo me obriguem a isso, o que garanto, não será bom. Tive uma boa meia hora, para lhes arrancar um sorriso. Falei até à exaustão, primeiro que se manifestassem qualquer coisa. Não sei se haveria necessidade. No final, o nível já era idêntico, o que exigiu algum trabalho da minha parte, na tentativa, frutífera, de manter a simpatia sozinha. Excesso de energia, diria eu, para convencer aqueles dois grandes Senhores, que sou tão Senhora quanto eles. Ou um bocadinho mais até.

Opiniões

Quando leio por aí, relativamente ás Escolas, que determinados factos sempre aconteceram, banalizando um problema sério, fico preocupada. Entre agressões a alunos, e agressões a professores, temos de tudo um pouco. Não vivi no passado, pois não. Mas tenho para mim, que na época do meu pai, talvez fosse ele a fugir da régua do professor, e não o professor aterrorizado com o meu pai. E a disciplina seguia escola fora, até ao recreio, sob pena de castigos severos. Nenhuma das duas é desejável, obviamente. Os extremos são sempre extremos, e o oposto atingido por ora, é tão preocupante como o extremo de medo e excessivo respeito, vivenciado pelos nossos pais e avós. Há trabalho a fazer, claro que sim. Sério, direccionado, de fundo. Algum, já a ser feito, mas não a maior parte. Cada um julga o que quer, claro. Mas enfiar no mesmo saco a sociedade e os comportamentos actuais, juntamente com as gerações de outrora, parece-me menos. Muito menos. No mínimo, revela-me gente que não pensa nos assuntos, e pensar nunca fez mal a ninguém. E estar calado quando se vai dizer um profundo disparate, também me parece giro.

Pensamentos

Seguindo a linha do desejos, apontava outro desde já. Esta coisa de saltitar de mente em mente, faz-me pensar assim, durante a noite, enquanto os outros dormem. Sim, sou do contra. Em vez de dormir, acampo no sofá, com chávenas de chá, e faço coisas pela humanidade. Penso e assim. Para bem ser ( expressão da minha avó, que eu amo, a expressão e a avó ), o desconhecido não nos assustaria. Assumir-se-ia, como uma passagem, uma nova era. Mas não. O desconhecido, é para o ser humano, algo desconfortável. Porque a nossa mente necessita de familiaridade, adaptação, conhecimento. Onde nos acomodamos, encaixamos e encalhamos, no bom sentido, claro. Esquecemos, que a nossa capacidade de adaptação tem um poder infinito. Extremamente desperto enquanto crianças, um pouco menos na adultez. Mas ainda assim, infinito, e capaz de se adaptar, reconhecer, reencontrar. O fim de algo, implica sempre um novo começo. Que por desconhecido que seja, não será necessariamente mau. Não raras vezes, o que detemos, é, esse sim, menos bom. Mas é nosso, já o conhecemos, e encaramos aquela verdade absoluta e extremamente castradora, do antes assim que pior. E ficamos. É uma característica do Homem, é um facto. Tão intrínseca, que decerto será quase intransponível. Quase. Não intransponível, que no nosso Mundo existe pouca coisa assim.
Ás vezes tenho dias destes, em que escrevo cartas para mim mesma. E depois leio uma e outra vez.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Quereres

Bom, seria eu eu ser boa a controlar os meus vícios. Com alguma felicidade, concluo que não tenho muitos. Talvez por isso, apresento-me com uns, poderosos e manipuladores. Ao ponto de ter estado toda a manhã, em pleno exercício de controlo sobre mim mesma, numa resistência directa ao chocolate. Que acabou, agora mesmo, de me saltar para a boca. É impossível. Não basta eu a quere-lo, agora, também ele me quer. Demasiados quereres, para a minha fraca pessoa, é isso.

Revoluções

Estes primeiros dias de sol, têm um efeito um tanto ou quanto estranho em mim. Alegram-me, claro que sim. Mas despertam-me a minha energia a um estado limite. Não sou amante de acomodações, é um facto. Tento agir, seguir, impulsionar-me. Mas como em qualquer vida, de uma qualquer gente, tenho situações de adaptação e alguma resignação. Por factores impostos, onde me é limitado mexer. É na Primavera que a sensação de revolta acende o meu Eu. Como que uma vontade suprema de girar, mudar, seguir. No que posso, e no que posso um bocadinho menos. No fundo, julgo sermos todos assim. Talvez também por isso, nos revolucionamos em Abril. Ou então foi só uma coincidência.

Momentos sinceros


Pequeno J., hoje pela manhã, mal me põe os olhos, a respeito das minhas calças de pinças, deveras subidas:
- Mãããeeeee, que calças tão altas. Mais um bocadinho e estavas toda lá dentro. Já viste que giro que era? Não falavas mais, nem nada...

Perante isto, estou em análise.

domingo, 21 de março de 2010

Momentos

Pela manhã, bem cedo, muni-me da Máxima e da Nós Melancólicos, de imediato afiambrada, por alguém que vai passar o Domingo de papo para o ar, o que não é o meu caso. Ainda não me dediquei a sério a ela, fica para o serão, que vou reivindicá-la, pois claro. Gostei deste primeiro dia de Primavera, como quem gosta de um beijo doce que já não recebe à muito. Aproveitei-o, é isso. Levei com o sol na testa, beberiquei um sumo lith de ananás e coco, e junto ao lago do jardim, no meio da relva, senti-me tranquila. No fundo, sou uma alma satisfeita com as pequenas coisas. Pena que ás vezes, essas pequenas coisas tão importantes, nos fujam ao alcance quase sem darmos por isso. Não pensem que estamos ilibados da culpa no cartório. Muitas das vezes, as pequenas fogem-nos, porque nos preocupamos excessivamente, com as grandes que tanto queremos. Erro. Erro crasso, e terrivelmente castrador de momentos felizes. O tempo. O tempo, esse conceito abstracto e relativo, é um bem daqueles preciosos, que trocamos amiúde por isto e por aquilo, sem percebermos, na nossa ingenuidade humana, que quando o ganhamos, ou aproveitamos, conseguimos ser quase felizes.

Amar é...

Bastaram-me fazer uns escassos 20 quilómetros pelo interior, que logo me deparo com cenários dignos de serem vistos. E digo isto, não com desprimor de quem os protagoniza, mas pelo carácter de singularidade que julgo terem. Um pastor a pastar cabras, recheou a minha manha de sorrisos, logo após ter passado na clínica, para atender uma miúda que ainda não sabe o que gosta, a pobre. Faz parte da adolescência, e de resto, já me traz saudades, esta coisa magnífica de não se saber o que se quer e andar ao sabor do vento.
O almoço teve o tal do pudim, que me adoçou a boca para o resto da tarde, juntamente com a tranquilidade do meu sofá, e com a colher de mel no chá. Já no entrar da noite, sinto-me com vontade de ir. Para nenhum lado em concreto, mas ir, porque a solidão é boa mas cansa. Fui. Escolhi um do qual andava, digamos que a fugir. Amar é complicado, como se eu não soubesse isso. Já tinha feito uma incursão pela história, por me sentir tentada; pensei para mim, não vais vê-lo, pode cair-te mal. Até comigo teimo, e fui. Ainda bem que fui. Ri, é uma boa comédia dentro de género, e aposto que o realizador é divorciado, ou então, não sei como, percebe muito do assunto.
O senão da noite, foi a dispensa das pipocas, pelos pecados cometidos desde ontem à tarde. Ainda por cima, quando mesmo a meu lado, alguém fazia questão de as mascar com veemente intensidade. Cheguei a pensar que seria um afronta. Mas isso foi logo no início. Depois, revi-me tanto no filme, que me distraí.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Arroz doce


Não sei se já vos disse que amo arroz doce. Mas o que decerto não disse, é que hoje comi duas taças ao lanche. Logo hoje, véspera de anos da minha querida avó. Que faz um pudim de ovos de morrer, e que eu vou comer amanhã ao almoço. Também ainda não tinha dito, que hoje não vou jantar. Auto proibi-me. E só irei tomar pequeno almoço amanha, porque se não caio para o lado, e não consigo chegar ao pudim.

Do dia...

Digo que não ligo muito a datas, mas no fundo acho que isso nem é bem verdade. Existem aquelas, que não consigo passar, sem assinalar de alguma forma. Ele deveria ter uns 23 quando eu nasci. Nem saberia decerto, o que o esperava, o pobre. Habituado a irresponsabilidades, surge-lhe de repente, uma berrona lá por casa, que desde cedo foi reinvindicativa. Diz-se, claro, que eu não confirmo nada disso. Nunca se assumiu, com aquela imagem de pai que eu via lá na aldeia. Uns pais austeros, sérios, com funções definidas e rigorosas. Sempre foi um Pai à moderna. Mudava-me a fralda, brincava, não ralhava, não impunha ordens, e tudo quanto fosse regras, era com a minha mãe. Ensinou-me a andar de bicicleta, a correr atrás dela, e a segurar no banco, não fosse a sua menina cair no chão, e espatifar o seu lindo nariz. Fez-me um baloiço, numa oliveira, mesmo ao pé do canil, onde eu passava horas a fio. Levava-me a pescar, ou melhor, a tentar fazê-lo, que os peixes do lago eram tramados.
Na altura da minha Escola primária, fazia cartões com desenhos e dizeres lamechas, que lhe ofertava com um enorme carinho e alguma vergonha. O meu Pai nunca foi muito dado a manifestações de afecto. Beijos, abraços, e essas coisas assim. Talvez por isso, ficava um pouco acanhada, quando lhe dava prendas. Ele guardava estas ofertas, numa gaveta da cozinha, juntamente com as da minha mãe, que eram por norma muito mais melosas.
Hoje, o meu pai é o tal lutador, do qual já por cá falei algumas vezes. E a data, por instituída que seja, acaba por me levar a dar-lhe o tal do beijo envergonhado, que entretanto já não é. Aos trinta, já não temos vergonha de nada, muito menos com as nossas gentes. No saco, vai uma gravata azul forte. Gosto de ver o meu Pai de gravata. Ficam bem em todos os Homens, e melhor ainda no meu Pai. Se calhar nota-se muito, que tenho um imenso orgulho nele. E um orgulho de filha, que é um orgulho maior.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Desejos

Hoje merecia um desejo. Queria que fosse, amanha a esta hora.

Sítios

O desfecho era incerto. No local, uma urgência de um qualquer Hospital Distrital, funciona-se num contentor. Ciente da sua necessidade, não deixo de pesar. Julgo que não conseguia trabalhar um dia inteiro dentro de um contentor de lata cinzenta, sem janelas, e que abana quando andamos. As pessoas apinham-se, claro, como em qualquer urgência. O assunto, que me leva ali é delicado. Com jeito e paciência consigo o pretendido. Enquanto esperava, vejo de tudo um pouco. A cigana de olhos verdes, lindos de morrer, que fala do irmão que morreu no mês passado, com um à vontade supremo. O enfermeiro da triagem, com ar de enfado, que me encaminha. A Médica da ala de Psiquiatria, que se destaca pela simpatia. Quem lida com gente diminuída, desenvolve, por norma, uma doçura incrível. Vai ficar um tempo, numa tentativa expressa de controlar as crises psicóticas, que põem em causa a sua estabilidade. No internamento, tudo é estranho. Alterna entre gente que ri e gente que chora, num desespero angustiante. Venho embora, e ele fica lá. São só uns dias, vocifero-lhe ao ouvido. Ele acena-me que sim. Venho, e trago comigo a sensação de que o abandono, no meio da desgraça. Junto com o sentimento, de que talvez pudesse ser diferente. Condeno o sistema, por falta de alternativas viáveis. Condeno a sociedade, ou parte dela, pela frieza e desrespeito com que se trata a fragilidade, que era suposto proteger. Já falei disto por cá duas vezes. Estou chata com o assunto, eu sei. Não volto a fala-lo tão cedo. E não tenham receio, sou boa a cumprir palavras.

Vocações

Em incursão pela igreja católica, assunto de ordem, por motivos em nada abonatórios, entra-se, inevitavelmente em pontos chave. O casamento dos padres, a obrigatoriedade de oração, e outros. Diz-se com voz de exalto, que são coisas ultrapassadas, com necessidade de adaptação e modernização, se é que se pode utilizar o termo, em questões religiosas. Não deixo de concordar, que em tudo na vida existe a evolução dos tempos. A adequação à sociedade do momento, a fusão das regras, dos usos, dos costumes. Julgo porém, e generalizando a outros temas, que o seguimento de regras e princípios do género, não é por imposição, é sempre e só, por opção. A igreja, é por si só tradicionalista, moralista, manipuladora. Mas não me obriga a segui-la, pratica-la, e muito menos prega-la. Quem segue os seus desígnios, segue porque o quer fazer. Nada obriga, nada impõe. Assim como ninguém me obriga a pertencer a qualquer associação, fundação, ou confraria, em campos mais brandos.
Voltando a frisar, que a evolução é necessária, pareceria-me prudente, que quem não se encontra vocacionado, a seguir as normas impostas, por determinada ordem ou classe, o melhor, seria desviar caminho. Salvaguarda-nos, como gente, esta nobre capacidade do Ser Humano, de fazer escolhas, e relegar o que não se encaixa em nós. E escolhermos outra, ou outras coisas, que nos satisfaçam como gente. Nesta linha de pensamento, encaixa-nos muito bem, honrarmos as escolhas que fazemos. Ou partirmos para outra, se assim entendermos. Eu, por exemplo, sou boa pessoa. Até poderia ter sido religiosa, que seria decerto uma boa samaritana. Não fosse, o simples facto de não encaixar, nas leis que por lá se pregam, incluindo, obviamente, o celibato. A mim, parece-me simples. Mas encaro a possibilidade, de ser eu que sou demasiado prática.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Back to Black



Back to Black, de Amy Winehouse, é, para mim, um dos melhores álbuns dos últimos tempos. Marcou-me uma fase específica, o que também o eleva, na minha organização interna. Mas ainda assim, vale por si só. Hoje, ouvi-o seguramente, umas quatro vezes. Uma voz fabulosa, traída pela vida, ou vice versa, que isto nestas coisas é sempre relativo. Estes casos de grandes Artistas, com carreiras arruinadas por isto ou aquilo, intriga-me. Era Mulher, para me debruçar a sério sobre o assunto.

Particularidades minhas

Ontem comprei uma revista de Moda, coisa que já não fazia há muito. Isso e um Português Suave azul. Revistas de Moda, compro sempre no inicio de qualquer estação. Português Suave, compro de vez em quando. Ambos fazem falta ao meu bem estar e organização. Principalmente o Português Suave, claro. Quase nunca lhe pego, mas tenho de ter um em casa. Dá-me tranquilidade saber que está lá. Uma fraqueza, como outra qualquer. Que se assume, em todo o seu esplendor, quando o dito me falta. É exactamente aí, que me apetece com uma vontade de morte.

terça-feira, 16 de março de 2010

Crescimentos

A Dona A, teve quatro filhos. Agora tem dois, porque um morreu afogado, e uma foi dada para adopção. Dos dois que lhe restam, ambos com oligofrenia grave, um está com ela, o outro não. O que está, leva-a ás lágrimas a toda a hora. Envergonha-a na praça pública, e envolve-se em rixas e afins. O receio maior, porque já nem há lugar para outros, é que seja expulso do trabalho camarário, e inserido numa Escola de apoio, perdendo assim, o parco salário que recebe, e que faz falta ao governo da casa. O pai, é alcoólico. A Dona A, socorre-se dos Serviços de Segurança Social da zona, que não fazem milagres, nem ela os espera, porque já não acredita neles. As suas vestes, transparecem-me, todas elas, fragilidade. Umas calças que caem, uma camisola de lã gasta, com um fino casaco por cima. Varre ruas por conta da Câmara. Enquanto fala, as lágrimas correm, e ela limpa-se no lenço de pano, já em fio. Traz um nico de pão no bolso, que entretanto põe na boca. Sempre mexeu comigo ver gente que sofre, comer. Nem sei explicar porquê, mas também não importa. Há coisas que não sei explicar e pronto. Já me fez confusão isso. Agora já não faz.
Confusão, continua a fazer-me a inutilidade extrema, que sinto, por não ter solução para problemas alheios. Desenganem-se os que pensam que a rotina tira sensibilidades. Que quem vê morrer já não chora, e que quem vê padecer, já não sofre. Chego a pensar que seria bom. Uma imunidade protectora do nosso psíquico, que nos tornasse impenetráveis. Se há quem lá chegue, eu não sou o caso. De resto, também, nem sei se queria. A minha avó dizia que o que nos faz doer, faz-nos crescer. Eu hoje, sinto-me grande pra caraças.

Aprendizagens

Hoje, para não variar, enfiei os saltos na Calçada Portuguesa. O desastre foi tal, que obrigou a ida ao sapateiro rápido, em estado de emergência. A menina não aprende, diz-me, com o sorriso habitual.
Não, não aprendo. E constata-se em outras coisas também.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Reportagens.

Apanho, já a meio, um Sinais de Fogo com D. Januário Torgal Ferreira. E já a meio, porque me perdi, com a Judite de Sousa, numa reportagem a um cego, do caso Santa Maria. Casos distintos se tratam, ambos abrigados pela controvérsia. A cegueira de alguém que não era cego perturba-me. Como me perturbam todas as cegueiras, ou ausências de qualquer um dos sentidos. A fragilidade que acarta, a ausência da visão, é um tanto ou quanto dramática. A imagem de alguém, de mão na bengala, sem coordenação e equilíbrio, deixou-me inerte. Não me cabe julgar erros médicos, nem os ponho em causa. Fico no entanto sensibilizada com a situação, eu, que nem sou de emoção fácil. Vejo até ao fim, e sigo. Dou com um Miguel Sousa Tavares muito igual a ele próprio. Admiro-o, embora já me tenha desiludido, quase tudo, pré Equador. Hoje, a meu ver, esteve à altura da situação. O Bispo, ficou aquém, como de resto, já esperava. Um Bispo um tanto ou quanto Psicanalista, com umas análises um tanto ou quanto incoerentes, sobre um tema simplesmente medonho. Numa postura estranha, intercalada entre justificações e acusações, revelando uma clara confusão interna ( Eu sim, posso analisar personalidades). Confirmo para mim mesma, o porquê da decadência da Igreja Católica. Mestre em pecado interno, castradora e irredutível quanto ao externo. Só pode estar em decadência. Não vai mais fundo, porque a Sociedade precisa dela. E vai precisar sempre. Dela, ou de qualquer outra, que lhe aliene o espírito. E nisso, ela desenrasca-se na perfeição.

Homens prevenidos, bem hajam!

Existem bons fins de dia. Vou buscar o pequeno aos avós. Trago jantar, dentro de um tupperware. Os trabalhos de casa, já vêm feitos, com a preciosa ajuda do avô. Chego a casa, e abro a lancheira, a fim de constatar o costume. Tudo marchou, como sempre. Encontro no fundo, um lenço perfumado. Não um qualquer lenço, de marca conhecida, de cor lilás, e cheiro a alfazema. Nada disso. Um lenço colorido, e deveras bem cheiroso.

- Que é isto J.?

- Um lenço perfumado.

- Sim, eu sei. Mas de onde surgiu?

- Foi o JP, claro. O F tirou os ténis e íamos morrendo com o cheiro. Então o JP distribuiu lenços perfumados por todos, para ficarmos a cheirar.

Claro, óbvio. Só não sei, como não cheguei logo lá.

( No meu tempo (sim, outro parêntesis, para anunciar que estou velha, e já posso usar este termo hediondo), não existiam lenços perfumados. Nem Geox, e assim. Terrível. Ainda estou para saber que cheiraríamos nós. )

Horas de sofá

Leio um artigo sobre uma das medidas do PEC. Desemprego, subsídios e afins. Um problema atroz, e verdadeiro para muitos. Uma escapadela, para muitos, também. Num dos meus projectos passados, abracei uma parceria com a Junta de Freguesia da minha área de Residência, e o Centro de Emprego da região. O objectivo, era criar uma bolsa de Empresas disponíveis para empregar os DLD ( Desempregados de Longa Duração, mais de um ano, leia-se), com direito a alguns apoios na contratação. As Empresas, com alguma dificuldade, é um facto, foram surgindo. Supermercados, maioritariamente, mas também algumas outras, do sector fabril da zona, que pretendiam, pessoal indiferenciado. Os DLD, é que escasseavam. Apareciam, alguns, munidos do postal do IEFP, e de muito pouca vontade em deixar de receber o rendimento social, ou o subsídio de desemprego. Que era parco, mas permitia horas de sofá. E as horas de sofá, por mal pagas que sejam, são horas de sofá. Vinham ainda por vezes, e logo à partida, sem conhecimento prévio do que lhes ia propor, na posse de um qualquer atestado médico, que referia a sua incapacidade para desempenhar determinadas funções. O espírito era do contra, especialmente, nas gentes mais necessitadas, e com menor qualificação. Fiquei esclarecida quanto ao desemprego. Existe, claro. É real e dramático, para uma grande fatia da população. Mas tem vicissitudes estranhas. Muito estranhas ás vezes. Alvissaras a quem der cabo delas.

domingo, 14 de março de 2010

Estranhos...

Oiço a frase, e quase tremo, tal a verdade que acarta. Nascemos a ouvir que os estranhos, são isso mesmo, estranhos. Devemos evitá-los, não lhes falar, não aceitar dádivas, rebuçados ou outros artefactos. A palavra estranho, é por si só, de conotação negativa. Estranho, é desconforto, é esquisito, é anormal. É algo que não é nosso. Talvez o cerne esteja aí. É tão fácil, desabafar com estranhos. Dizer-lhes o que nos vai na alma, mesmo o mais intrínseco, mesmo a arca escondida, mesmo o que mais nos dói. Razões, serão várias. Pode começar, pelo simples facto do estranho, passar por nós, e nada mais. Não mais o iremos ver, não mais lhe iremos falar. O segredo, esse, segue com ele para onde for. Que é longe, ou nem tanto. Não sabemos para onde. Por outro lado, não há censura. O estranho ouve-nos, pode até escutar-nos. Mas não nos conhece, não nos lê. Não nos vai nunca dizer grande coisa, pois só conhece o ali, e o agora.
Utilizo esta estratégia, e engraçado, quase sem dar por isso. Porque ás vezes, o meu íntimo é, também ele, estranho. Pouco me importa o que acham dele, mas não me apetece, por vezes, ouvir opiniões, que se sentem no direito de ser dadas. Por gentes que me rodeiam, e que fazem parte de mim. Fazem-no a bem, não duvido.
Como qualquer pessoa, ás vezes, não muitas, mas algumas, preciso de deixar sair a minha alma. Faço-o por norma com pessoas que encontro em meu redor, que não sendo estranhos, são quase. Porque eles, não são estranhos para mim, mas eu, sou estranha para eles, que já nada conhecem. E é isso que interessa. Ás vezes, fico a pensar no que pensam, se é que ainda o fazem. No que julgam aquelas cabeças velhinhas, dos disparates que digo. Está a brincar, pensarão elas? No final, sorrimos sempre. Elas para mim, eu para elas. No outro dia, está tudo igual outra vez.

Tardes de bola

Regressei. Nos entretantos joguei à bola, pois claro. Esta, era a parte do verão que dispensava. Ainda não descobri porque é que sou sempre eu, a melhor adversária do meu filho (será porque perco sempre? Hum...). Isto é ele que acha, claro. Ainda levei o livro do Draguin, a ver se as leituras o seguravam, mas nada. Ok, reclamo, mas amo. Faz parte, e de resto, nem é uma reclamação séria.

De hoje...

Hoje pus literalmente a mão na massa, e o pequeno teve de ceder. Sim, porque isto de se comer sempre e só, cozidinhos e grelhadinhos e coisinhas assim, é muito saudável, sim senhor, mas enfim. Ás vezes apetece estravazar. Estou por ora deliciada, enquanto ele se emputica em uvas, porque o repasto não lhe agradou. Nos entretantos, vou ver se apanho sol. Está vento, é um facto, mas gosto dele também. Recebi ainda há pouco uma visita da C, e da pequena R. Gosto delas. São das poucas que gosto sempre que apareçam, mesmo sem se fazerem anunciar. Posso estar em pijama, despenteada, óculos na ponta do nariz, e com uma borbulha na testa. Não faz mal. Elas são minhas, e eu delas. Fico sempre com uma agradável sensação de conforto.
Esta noite os sonhos povoaram o meu inconsciente. Aquele, que teimoso, insiste em aparecer. Como que a dizer-me, arrumas-me, empurras-me, mas não penses que te deixo. Não penses que fazes o que queres, e eu fico assim, impávido e sereno. Estou aqui. Vês? Vejo. Claro que sim. Só que ás vezes finjo que não. Não me leves a mal, vá lá.

sábado, 13 de março de 2010

Alma de viajante

Na Nós viajantes, encontro um espírito indescritível. Sempre achei que quem se dispõe a largar tudo para correr mundo, é alguém arrojado, destemido, curioso. A alma dos viajantes que conheço de perto, é sempre uma alma cheia. Uma que não conheci, mas da qual muito ouvi, foi a alma do meu bisavô. Diz quem o conheceu, que era um Homem grande, e de espírito livre. Estas almas, as de viajante, tenho para mim que serão sempre umas almas puras, libertas, cheias de boas intenções, e completamente desprovidas de materialismo, censuras e limites. Talvez seja isso que me fascina nelas. Um dia, ainda vou ter uma alma assim.

Futilidades

Uma das coisas que abomino, são salões de cabeleireiro. Não os de beleza em geral, que existem uns, que amo de paixão. Onde as massagens, os cremes, e umas mãos competentes, tomam conta de mim, e me deixam num estado pacífico e quase inatingível. Só esses escapam. Tudo o mais, onde pouso por obrigação, em nome da minha vaidade, são um suplício. Ceras que me puxam pelos, pinças que me arrancam sobrancelhas, e outros pelos indesejados, limas que me esfregam pés, enfim, dispensava tudo. Decerto dirão, que nos cabeleireiros, por si só, não existe tamanha angústia. O mote, é ficar linda, moldar o rosto, e sair revigorada. Tenho pena, mas não compactuo. Para começar, a espera, sempre maior que o desejável, mesmo que seja, na realidade, muito curta. O mulherio empilha-se por ali, lê revistas cor de rosa, fala mal, ou menos bem vá, da vida alheia, e assim passa um bom bocado. Elas, não eu, que vou bufando, enquanto tudo isso decorre. Na lavagem, menos mal. A R, é um doce, tem umas mãos divinas, e eu adoro-a. Passamos entretanto para o corte em si, altura em que só vejo cabelos de mais a cair no chão. A minha apreensão é desmedida, tal o receio que tenho da S, se influenciar, e deixar-me a modos que um pouco depenada. Enquanto não termina, transpiro um bocadito, roo as unhas, abano as pernas, e outros sinais de stress, que tão bem conheço. Na secagem, a coisa nunca corre muito bem. Não suporto secadores muito perto de mim. Um jeitinho, balbucio sempre. Só um jeitinho. Que normalmente vai um pouco além do desejável, o que me leva muitas vezes ao duche, mal chego a casa.
Concluí hoje, pela enésima vez, que não nasci para isto. Em vez de espalhar a mosca, acentua-me a neura.
Hoje, e após a tortura, valeu-me o sol. A esplanada, o néctar light que ingeri, o jornal, e o café. Gosto da primavera. Puxa, haja alguma coisa que me encha as medidas. Nem eu me aturo, com tanta esquisitice. Cá para mim, é por isso que ninguém me pega :)

Bom fim de semana. Com sol, boa disposição, e tudo o que vos aprouver.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Muito mais à frente

Olho para ela, do alto dos seus 18, com os seus enormes olhos pretos, e oiço-a, com particular atenção. Diz que primeiro está ela, para depois estar ele. A amiga ouve, e vocifera entredentes que não é assim. Que primeiro está ele, e as suas vontades. Só depois vem ela. Admiro a primeira, revejo-me na segunda. Eu também já fui assim. Primeiro, sempre, estava ele. As suas vontades e os seus desejos, aos quais eu acudia, prontamente. Para depois crescer, e perceber, que Nós, e as nossas vontades, devem vir antes, ou quando muito a par e passo. Com cedências e partilhas, mas sem perder objectivos, personalidades, princípios.

Ela chegou lá mais cedo. Vai longe, tenho para mim. Costumo dizer em tom de graça, que para a próxima nascerei Homem. Mas estou quase, quase a mudar. Acho que serei Mulher de novo. Vou ser é muito mais à frente.

Sinais do tempo


Há dias assim. Em que me sinto raiar a insanidade. Acontece normalmente ás sextas, dia de cansaço de final de semana. Foi o caso de hoje, mais ou menos ás 9. Tudo começou, pelas minhas infidelidades. Eu era fiel a dois perfumes, até o apelo ser forte, e apaixonar-me por outros. Alguns, paixões antigas, é um facto. Nomeadamente o Chanel N 5. Eu sei, eu sei que pouca gente gosta. Mas gosto eu, e é quanto basta. Toda a perfumaria que por ora povoa a minha mesinha, deixa-me alguma margem de manobra. Os habitués Pleasures e Eternity, estão agora em pleno sossego. Merecem, merecem, que me aturavam há anos, os pobres. Adiante. Eram 9 horas. Rebento na porta, prestes a sair, já a sentir-se atrasado. Pego nos promenores, que como sempre, deixo para o fim. Anéis, pulseiras, relógio, lenço, enfim, o apanágio, digno de uma Senhora. No final de tudo, toca a borrifar-me com um Hugo Boss. Para logo após me lembrar, que já tinha postado o Chanel 5, logo após o duche.
Sinto-me nos entretantos, deveras perfumada. Deveras misturada, e deveras enjoada. Coisas. De sexta, dos inta, e por aí fora.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Do respeito

Tinha um ar cadavérico a Dona C. Deambulava por entre os miúdos, do alto dos seus 90, e dos seus chinelos altos, que ainda hoje estou para saber, como a aguentavam. E ela a eles, vá. Vestia, logo pela matina um robe vermelho sangue, punha os seus óculos à Amália Rodrigues, e ia assim, Lar a fora. Era a benemérita. A rapaziada, mais do que treinada para lhe ter respeito, obedecia. Abria-lhe a porta, leva-lhe chá com bolachas, e endireitavam-se na sua presença. Uma presença árida, seca que nem palha, fruto de uma vida rica e soberba. Imponente de facto. Existem pessoas imponentes. Por nada em particular, mas por postura, por hábito, por berço.
Lá na Quinta era assim. Eles veneravam, com o rigor de uma Instituição. Ela, era venerada, com o rigor de uma vida, vivida a mandar, e servida por criadagem.
Não simpatizo com esses exageros. Nem sou muito de compactuar com eles, e chegam a soar-me a patético. Mas confesso que, por vezes, sinto saudades dos tempos em que os novos respeitavam os velhos. Por instituição, por regra, por educação, o que fosse. Hoje assisti a um espectáculo deplorável e lembrei-me da Dona C e do seu ar austero e amargo. E dos miúdos, obedientes, e singelos, mesmo que só por fora, mesmo que só, por obrigação.
Eu sei, eu sei que sou do ser, e não do parecer. Mas existem excepções que confirmam a regra.

Por uma questão de respeito.

Sol


Hoje, deixei-me aquecer pelo sol.

Não há sol que melhor me saiba, do que este. Que se insurge, de mansinho, a fugir ao Inverno.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Constatações

Fico revoltada com algumas constatações. Expressões como igualdade de direitos, de oportunidades e outras que tais, são proferidas de boca cheia. Com orgulho barato. Para depois se perceber, nas atitudes, essas sim, valiosas, que o que se quer mesmo, é discriminar as gentes, por algo diminuídas. Que podem ser diminuições de diversas ordens, claro. O Mundo, este lugar imperfeito, criado não sei por quem, e à semelhança de não sei o quê, é por si só, injusto. Contrariá-lo qualquer coisa, fica-nos bem. Procurar um equilíbrio, atenuar algumas diferenças. Trilhar caminhos egoístas, e aprimorar a dureza que já existe, é uma tarefa ignóbil. Surge-me o assunto, aliado à deficiência. Como se o J., um amor de pessoa, com 45 anos, tivesse a culpa de ser portador de uma debilidade mental severa. Adorado e protegido, por quem o entende, e resolve que este mundo é um local de irmãos. Odiado e desprezado, por quem se acha maior, e pleno de direitos, sob os mais fracos. Por quem por cá passa, sem olhar em redor com humildade. Por quem não desce do estatuto e do conforto, para estender uma mão.
É por gente assim, que o Mundo não é um lugar melhor. E é por gente assim, que o J., um amor de pessoa, não sorri mais, mas sim menos. Muito menos.

Curtas do PEC

A propósito do PEC e das novas medidas, não me urge falar muito. Estou longe de entendida na matéria, e o que o fisco cobra, aqui e ali, ou os benefícios que dá a este e aquele, pouco me interessam. Como boa cidadã que sou, pago o que há a pagar, beneficio do que há a beneficiar, e pronto, caso arrumado. Mas apraz-me dar, porque me parece digno, sim Senhor, um bem haja à igualdade nas idades das reformas. Não sei o que fazia a mais um funcionário público, para se cansar mais cedo. E olhem que já procurei a resposta com afinco. Levantam-se os sindicatos, claro. Hábitos destes são bons de ganhar, bons de manter, e difíceis de perder. São gente, ora pois.

Choro

Tenho por vezes, a estranha sensação que habito num mundo estranho. A minha relação com o choro, é distante. Não me sinto chegada a ele por tudo e por nada, e quando lhe chego irrito-me. Dizem que alivia, que atenua. A mim, só me faz mal. O que me alivia, é comer chocolate. Ir ás compras, assistir a um Concerto. Deixo-o para graves situações. Onde a tristeza me pega, e não o consigo de todo evitar. Respeito, claro, quem tem choro fácil. Por ossos do ofício, tenho por vezes, de lhe dar a mão. Mas defeito meu, ou o que for, não consigo deixar de, por vezes, e excluindo obviamente situações patológicas, o achar uma pieguice. Ou ainda um meio para atingir um fim. Um peguem-me ao colo, que eu preciso. Um desfazer despropositado e egoísta. Um sou fraco, segurem-me lá. Tenho um pouco de asco a isto. Volto a frisar que pode ser defeito meu. Mas ainda assim, não sei se será.

terça-feira, 9 de março de 2010

Homens

Ontem, final de dia:
-Mãe, és linda. Hoje vou-me portar bem, porque é o dia da Mulher.
-Que querido amor. Então e amanhã?
-Amanhã é um dia normal. Já não é preciso. Mas gosto de ti na mesma.

Começamos cedo. E eu juro que tento inverter a tendência todos os dias. Das duas uma, ou sou eu que sou fraca a ensinar. Ou é a sociedade que é forte, e ele aprende depressa.

Mentes criminosas

Diz por aí, na Imprensa, que o violador de Telheiras namora. Não fuma e não bebe. Como se as pulsões internas e as personalidades patológicas, não surgissem muitas vezes, de aparências ditas normais. Aqui reside um dos factores pelo qual a mente humana me fascina. Pode ser estranha, manipuladora, incoerente, falsa e animalesca. Mas é Doutorada em transmitir mentiras, que conseguem encobrir verdades vergonhosas e patológicas. Ás vezes brinca-se quando se educa o Ser Humano. Não se devia. Temos um poder infindável, que necessita de molde. Mal trabalhados, podemos resultar em aberração.
Quando leio as políticas sobre alguns temas, concluo que por vezes, se banaliza o crescimento. E se trabalha de forma ligeira e irresponsável. Mau principio, maus resultados. É uma relação causal, claro, daquelas que se aprende na escola.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Papalagui

Por meandros da minha biblioteca, descubro um livro fantástico. Faço estas descobertas, quando não tenho nada de novo para ler, e me apetece pegar em algo, que me distraia o espírito. Vou aos montes mais distantes, e desta feita, peguei num que já esquecera. Por muito que ame determinadas coisas, por vezes esqueço-as, se houver afastamento e distância. Também sou assim noutras coisas, o que é fantástico.
Mal lhe pego, a paixão reacende. Porque também tenho essa particularidade. Arrumo no recôndito, mas fica lá. Lembro-me de algumas passagens lidas, que me vieram à memória, quase completas. Passagens essas, que não lia há muito. Formidável esta capacidade do Homem, de relembrar coisas intactas.
Falo do Papalagui. Um livro sobre um chefe de uma tribo Indígena, em viagem por terras Europeias, que discursa sobre nós com uma sapiência humana, se é que posso utilizar este termo, e uma simplicidade invejável. Estou a relê-lo, claro, e aconselho vivamente.

"Que pensaríeis vós, irmãos, de um homem que, possuindo uma cabana suficientemente grande para lá caber toda a aldeia de Samoa, recusasse o seu tecto, por uma noite que fosse, ao viandante que passa?"

E digam-me então, que pensareis???

Dia da Mulher

Já me têm dado flores, neste dia. Hoje, pela manhã, abriram-me a porta na pastelaria, com uma simpatia adicional. Não atribuindo especial atenção a este tipo de datas, não posso deixar de referir, que o que acarta, me faz sentir bem. Não tenho qualquer pudor em assumir que gosto de ser mimada. Que gosto de simpatia, de gestos bonitos. Que gosto de cavalheirismo, há muito em desuso, e que gosto de atenção. Não deixo no entanto de sentir, uma inutilidade no dia. Sou da naturalidade, do gesto inesperado, dos gestos nobres, sempre. Não sendo de princípo, soa a imposição. Como em tudo, de resto. A hora marcada, é sempre a hora marcada.
Ainda assim, que se celebre. Que se defendam causas úteis, que se percorram caminhos. Um feliz dia a todas.

domingo, 7 de março de 2010

Regressos

Gosto de adivinhar futuros, de planear, de seguir. Não obstante, por vezes regresso. Ontem senti-me voltar à minha adolescência. Quase à minha revelia, que o misto do que acarta é grande. Lembro-me, como se fosse hoje, por volta dos meus quinze anos. Saía de casa, por volta das 10, e tinha hora marcada para o regresso. Que nem sempre era cumprida à risca, porque no meio do namoro, da dança, e da noite, o tempo fugia, e eu fugia com ele. Sou perita em fugir ao tempo. Esqueço-me da sua existência, e com uma ligeireza irrepreensivel, abstenho-me das horas e vivo, como se não houvessem. Como quando tenho fome, durmo quando tenho sono, e sinto uma liberdade inigualável quando o posso fazer. Ontem, o incurso foi por terreno conhecido. As mesmas gentes, uns anos mais velhos. Algumas remodelações de espaço, bem vindas, claro, que as modas mudam, e o Ikea traz ideias luminosas, baratas e práticas. A casa de banho já tem cestos de flores, e cheiram bem. O bar mudou de sítio, está mais central. O papel de parede, conforta o ambiente, cheio, mas agradável. Gente nova, claro, e ainda bem, porque os novos fazem a alegria da casa. E gente assim como eu. Uns que já tiveram companhia e agora não têm. Outros que nunca tiveram. Outros que já tiveram uma e agora têm outra, ou outras. Os que têm sempre a mesma.
Não sei ainda, se gostei da sensação com que fiquei.
Dantes, percorria-me um conjunto de projectos, sonhos, metas. Agora, percebo que os projectos, uns concluem-se, outros não. Os sonhos, continuam por cá, e as metas, fogem-nos, traiçoeiras. Como que para nos fazer lembrar, que a vida corre. E nós perseguimo-la, sempre, mas é veloz a bandida.
No fundo vivi outras emoções. Tive saudades das antigas. Da ingenuidade da época, aliada à magia do quem tudo quer, tudo pode. Nessa altura, abraçava o mundo, e agora, também o abraço. Mas apercebi-me que o meu abraço, é muito mais pequenino.

sábado, 6 de março de 2010

Quedas

Ontem, resolvi enfiar-me, mais uma vez, no pavilhão onde pousa a cidade inteira. Comi bem. Comi sim senhor, numa tasca do sabugueiro, com alheira de caça e queijo da serra, pelo qual sou capaz de sei lá o quê. A noite estava de inverno, e o ambiente cheio. Vi gente amiga de há muito, alguns voltados à terra, após longa ausência. Bem vindos, claro. Tudo corria bem, até ao momento em que a minha bota me traiu. Faltava-me ela, a ingrata. Que tanto estimo, e tanto zelo. Resolveu esbarrar numa rampa, e levar-me com ela. E foi ver-me desaparecer, por entre as gentes, para de imediato se me estenderem mãos em forma de auxilio. A menina está bem?
No meio do sentimento de vergonha, sorri, e fiquei feliz da prontidão da ajuda. Não me magoei, vá lá, valha-nos isso.
Só quem riu a bom rir, foram as parolas. Aquelas cabras da pior espécie, que não mais pararam a chacota, pela noite dentro. Estão marcadas, minhas lindas, percebem? Estão marcadas.
Só uma coisa não percebi. A minha querida caçula, tinha acabado de pisar o local. É a ela que, por norma, acontecem estas desgraças familiares. Ela, passou ilesa, e eu, esbarrundei-me à grande.
Estou deveras apreensiva com o facto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Conversas

Hoje estou de escritas, ou é o tempo que não me deixa espaço para trabalhar. O tempo paga com tudo, coitado. Tem costas largas, o pobre. Acabo de ver as mulheres que por cá trabalham, lanchar. No intervalo da labuta, que é trabalhar com gente. Sentam-se na mesa redonda, bebem café com leite, e comem pão com manteiga. Enquanto comem, conversam, claro. As mulheres fazem conversa de tudo. Encontro muitas vezes o mesmo tema, que se acalma embaraçado, quando surjo, sem me esperarem. A vida sexual das Portuguesas tem muito que se lhe diga. Falam dela, como do tempo. Como se interessa-se ás outras, a frequência, forma, e local, onde se entregam ao desaire. Ou se calhar interessa, concluo, pelos risos que emitem entre dentes, deste ou daquele pormenor que vão dizendo. Aqui reside uma diferença fulcral entre nós, mulheres, e os homens. Os homens falam de futebol, de negócios, do tempo. Da política, e de Mulheres, mas não falam de sexo. Pelo menos do intimo, e em mesa redonda. E fica-lhes bem, claro.

Bullying

Ando a fugir do caso, mas o seu poder insurge. Não é possível indiferença perante o cenário, e o culminar da situação. O caso Leandro amargura-me. A adolescência é um período atribulado. Felizmente transitório, mas sensível a inúmeros factores, quer de origem interna, quer de origem externa. Na sociedade actual, com a consequente evolução económica, assistimos a alterações familiares importantes, que fazem com que a Mãe, como figura protectora e sempre disponível, esteja muito mais ocupada. Pode enquadrar-se o facto dentro dos parâmetros da normalidade. É o dia a dia, o lugar comum, e julgo não se poder imputar culpas a essa ausência. Pior, é que a sociedade não consegue encontrar soluções à medida, para as alterações que cria. E daqui surgem problemáticas sérias, como consequência quase certa. É fácil, em momentos chave, como este, procurar bodes expiatórios. É fácil procurar culpados, descobrir pequenas falhas, que possam ter possibilitado a desgraça. Mas ninguém fala de forma abrangente. Não se percebe que a culpa, a verdadeira, está no sistema. Num sistema que não pensa a fundo as necessidades dos jovens, e enfia professores a fazer relatórios e registos de forma continuada, e lhes tira o tempo para os alunos. Num sistema em que funcionários auxiliares da escola, não possuem formação adequada, nem ninguém lhes ensina a detectar sinais de alarme, por detrás de uma briga entre jovens. De um sistema que não investe adequadamente no apoio técnico nas escolas. Que existe sim, mas escasso para as necessidades crescentes, que decorrem das mudanças dos tempos.
Num sistema ultrapassado, desadequado, e em crise profunda.

Por ora, trabalha-se com afinco naquela escola. Onde o bullying fez uma vitima mortal, pobre dela, e onde urge encontrar culpados.
Que se ponha a mão no sistema, e se faça algo para evitar outras.
Não falo mais. É uma desgraça por demais grande. Nem se devia falar mais dela.

Aparatos

Já a noite ia alta, quando ouço o aparato. Algo incontrolável, decerto, pois resido mesmo em frente ao Posto local da GNR, e o assunto durou. Envolvia Homem e Mulher, e mais alguns, que me pareciam suporte. A discussão estava acesa, com ofensas de ambas as partes, troca de galhardetes, e palavrões à mistura. Parece-me, do que ouvi, que foi muito, tal o volume de som, que se tratava de uma acesa discussão familiar. Talvez empolgada pelo ambiente de festa e de excessos, que atinge a minha cidade por estes dias. Pôs-me a pensar, claro. Nos excessos, que nunca são saudáveis. Na sem vergonhice das gentes, que troca o recato do lar, pela rua, para lavar roupa suja. Na falsidade que por aí anda, pois não duvido da possibilidade, de por esta hora, já terem feito as pazes, e andarem de mão dada pela rua como se nada fosse, quase após se terem esmurrado (se é que não esmurraram mesmo), ontem a meio da noite. Sendo apenas e só possibilidade, é real. E concreta, em casos que conheço.
Não tenho nada a ver, claro que não. Cada um vive como quer. São formas de vida, só isso. Dignas de estudo, digo eu. A pulsão e impulsão do Ser Humano, é sempre estranha. Não se generaliza, é imprevisível e inexplicável. Talvez por isso me fascine tanto.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Compensações



E hoje o dia findou-se assim. Para compensar as moelas, a ameijoa, e o queijo do jantar de ontem. E o polvo à lagareiro, acompanhado de batata a murro e migas. E o vinho e a torta de Azeitão. E não foi mais porque não cabia. Acreditem. Nos entretantos passava a Bandinha da Alegria e uma qualquer tuna feminina. De dançar ritmado, apesar de, já bem regado.
Encantos da minha cidade, é isso.
Mas ainda dou um salto em Óbidos. Diz que há por lá chocolate...

Nós, Mulheres

Abro o I on line, com frequência. Tudo, porque a minha vida profissional agitada, nem sempre me deixa tempo, para o ler em papel, coisa que prefiro mil vezes. Para já, porque jornal é de papel, e pronto. É daquelas coisas ancestrais. Depois, porque tem um genial agrafo no meio, que lhe vale por si só, a minha simpatia. Acabou de vez com as minhas peregrinações aflitas na areia da praia, época em que leio com assiduidade, em busca de folhas soltas ao vento, enquanto com a outra mão agarrava o chapéu. Nada condigno com uma Senhora, convenhamos.
Fico porém desiludida. Patetice, talvez, pois é só um número que traduz factos que todos nós, tão bem conhecemos. Em média, a Mulher recebe menos 240 Euros mensais do que o Homem. Aprazia-me, saber porquê. Trabalhamos menos? Errado. Na maioria das vezes, trabalhamos igual, ou então mais. Trabalhamos pior? Não. Trabalhamos com o mesmo afinco, dedicação, vontade e competência. Trabalhamos em cargos inferiores? Não, nada disso. Partilhamos cargos de poder e chefia, com os Homens. Que nos leva aqui? O que nos leva aqui, digo eu, numa linha de pergunta e resposta, são tradições de séculos, de subestimação e inferiorização feminina. Se houve mudanças? Houve, claro que sim, mas estamos longe, muito longe. Se existem culturas piores? Claro, mas falo da minha que é a que conheço melhor. Se fico satisfeita com as constatações? Nada. Não tenho qualquer dúvida, de que desempenho o meu cargo com toda a competência, e que nenhum Homem o faria melhor do que eu. Não tenho qualquer duvida também, de que se o meu lugar fosse ocupado por um, teria uma remuneração superior.
Fico peada, e não gosto. Sinto uma impotência tamanha nestes fenómenos sociais, que se entranham nas mentes, e se perpetuam por gerações. A culpa é deles, oiço, por vezes dizer.
A culpa é deles e a culpa é nossa. Em suma, é uma culpa social, logo imputável aos dois. Para mim, ligadas de perto a outras questões, como a Mulher ser da casa e o Homem ser da rua.
Apesar de se caminhar para alguma evolução neste sentido, ainda assisto com frequência a discursos do tipo ( normalmente proferidos por Senhoras):


- A Maria farta-se de trabalhar.
- Pois, mas não faz mais que é a sua obrigação.
- Olha ali o Manel a estender roupa, enquanto a mulher passeia.
- Tens razão. É um desgraçado, coitadinho.

O bom, seria o caminho para a igualdade, com o respeito pelas diferenças. Isso sim, seria bom. Talvez impossível, mas ainda assim, bom.

Ilusões

Ás vezes, não raras, desiludo-me com alguém. Desilusões estranhas, que surgem amiúde, ás vezes direccionadas ao mesmo alvo. Seria suposto, numa linha de evolução e aprendizagem, chegarmos ao ponto onde a desilusão já não surgisse. Onde captássemos de vez, que dali não podemos esperar muito, porque esse muito nunca virá. Estranho como em certas situações, ainda esperamos mudanças profundas. Eu, de plena consciência de que personalidades se controem cedo e não tarde, que traços de carácter surgem no crescimento, não na idade adulta, que valores vêm da infância, e não se adquirem aos intas, ou entas, ou o que for. Julgo no fundo, e estando sapiente do que atrás descrevo, que o que me persegue nestes casos, não é a ilusão da mudança tardia. É antes uma esperança forte, de que o que está mal se altere. Soa a patético, eu sei. Soa a utopia, a sonho, a terra do nunca. Tem motivos fortes, acreditem. Para mim, já nem desejo tais coisas. Em mim, a realidade é a realidade, sem mascaras ou ficções. Mas ainda há coisas que me transcendem. Não são fraquezas, não julguem. Surgem apenas e só, do meu instinto de protecção. Um dia, se calhar passa. Mas há quem diga que não.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Suspiros

Seguindo numa de estilos, refiro por ora, um Senhor que por mim passou, logo pela manhã. Sim, porque o dia foi denso, tenso, e outras coisas assim, e eu necessito de amainar o espírito. Meia idade, cabelo grisalho, óculos finos. Pasta na mão, chapéu de chuva preto na outra. Calça vincada, camisa clara, gravata em tom verde forte. Blazer aos quadrados, irrepreensível, como remate. Não tinha uma boina, mas eu tive pena, porque sou fã. De boinas, chapéus, e outros que tais. Fez-me lembrar este Senhor aqui ao lado, que já me fez suspirar forte em tempos de adolescência. Tempos idos, portanto, que agora, já não suspiro assim tão fácil, e muito menos à distância. É uma das coisas que tenho saudade, é pois. A capacidade de sonhar acordada, suspirar, rir, construir, imaginar patetices tamanhas, que chegam ao cúmulo de quase parecer reais. Confesso que cheguei a traçar planos quase viáveis ( na altura, eram mesmo) de conhecer o dito. Que logo ficaria apaixonado por mim, claro. De qualquer forma, e ainda que na ausência da boina, posso dizer que o dia teve um bom começo. Decorreu com algum stress, mas enfim, vinha feliz e de objectivos conseguidos.
Assusto-me porém, quando já noite entrada, cumprimento tudo e todos com um sorriso rasgado (sempre), e com um doce bom dia. Coisas. Assustadoras, estas. Ainda por cima, porque obtenho, quase invariavelmente como resposta, o tradicional é da idade.
Gente mázinha esta.

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