quinta-feira, 11 de março de 2010

Do respeito

Tinha um ar cadavérico a Dona C. Deambulava por entre os miúdos, do alto dos seus 90, e dos seus chinelos altos, que ainda hoje estou para saber, como a aguentavam. E ela a eles, vá. Vestia, logo pela matina um robe vermelho sangue, punha os seus óculos à Amália Rodrigues, e ia assim, Lar a fora. Era a benemérita. A rapaziada, mais do que treinada para lhe ter respeito, obedecia. Abria-lhe a porta, leva-lhe chá com bolachas, e endireitavam-se na sua presença. Uma presença árida, seca que nem palha, fruto de uma vida rica e soberba. Imponente de facto. Existem pessoas imponentes. Por nada em particular, mas por postura, por hábito, por berço.
Lá na Quinta era assim. Eles veneravam, com o rigor de uma Instituição. Ela, era venerada, com o rigor de uma vida, vivida a mandar, e servida por criadagem.
Não simpatizo com esses exageros. Nem sou muito de compactuar com eles, e chegam a soar-me a patético. Mas confesso que, por vezes, sinto saudades dos tempos em que os novos respeitavam os velhos. Por instituição, por regra, por educação, o que fosse. Hoje assisti a um espectáculo deplorável e lembrei-me da Dona C e do seu ar austero e amargo. E dos miúdos, obedientes, e singelos, mesmo que só por fora, mesmo que só, por obrigação.
Eu sei, eu sei que sou do ser, e não do parecer. Mas existem excepções que confirmam a regra.

Por uma questão de respeito.

1 comentário:

  1. Existem hábitos que merecem ser entranhados, mesmo que comecem por só parecer, depois acabam por ser, e faz todo o sentido que assim seja - o respeito é um deles.

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