terça-feira, 16 de março de 2010

Crescimentos

A Dona A, teve quatro filhos. Agora tem dois, porque um morreu afogado, e uma foi dada para adopção. Dos dois que lhe restam, ambos com oligofrenia grave, um está com ela, o outro não. O que está, leva-a ás lágrimas a toda a hora. Envergonha-a na praça pública, e envolve-se em rixas e afins. O receio maior, porque já nem há lugar para outros, é que seja expulso do trabalho camarário, e inserido numa Escola de apoio, perdendo assim, o parco salário que recebe, e que faz falta ao governo da casa. O pai, é alcoólico. A Dona A, socorre-se dos Serviços de Segurança Social da zona, que não fazem milagres, nem ela os espera, porque já não acredita neles. As suas vestes, transparecem-me, todas elas, fragilidade. Umas calças que caem, uma camisola de lã gasta, com um fino casaco por cima. Varre ruas por conta da Câmara. Enquanto fala, as lágrimas correm, e ela limpa-se no lenço de pano, já em fio. Traz um nico de pão no bolso, que entretanto põe na boca. Sempre mexeu comigo ver gente que sofre, comer. Nem sei explicar porquê, mas também não importa. Há coisas que não sei explicar e pronto. Já me fez confusão isso. Agora já não faz.
Confusão, continua a fazer-me a inutilidade extrema, que sinto, por não ter solução para problemas alheios. Desenganem-se os que pensam que a rotina tira sensibilidades. Que quem vê morrer já não chora, e que quem vê padecer, já não sofre. Chego a pensar que seria bom. Uma imunidade protectora do nosso psíquico, que nos tornasse impenetráveis. Se há quem lá chegue, eu não sou o caso. De resto, também, nem sei se queria. A minha avó dizia que o que nos faz doer, faz-nos crescer. Eu hoje, sinto-me grande pra caraças.

1 comentário:

  1. É por estas e por outras que eu gostava de ser Robin dos Bosques, vai lá ver o meu post de hoje.

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