quarta-feira, 24 de março de 2010

Sons

Há coisas que nos perseguem, e os sons, são uma delas. Na vinda, apanho numa qualquer rádio, os meus James, com Born of Frustration. Diz-me tanto, mas tanto. Como outras, ou outros sons apenas, que nem só de música vivem os meus ouvidos. Como o som do meu baloiço, quando pequena, no qual passava horas a fio; o som do miar da minha gata; o som do balde a bater no fundo do poço, de onde a minha mãe tirava água; o som dos pedais da minha bicicleta; o som da máquina de costura da minha avó, ritmado e melancólico, como ela. O som do fado, ouvido horas a fio no gira discos velhinho do meu avô, grande responsável pela minha aficção; o som do corvo lá de casa, chamado Jacob; o som das árvores do jardim; o som do mar; o som do meu filho a mamar. O primeiro choro, quando ele nasceu; o som do meu cão a abanar a cauda, quando chego; o som da mota do meu primeiro namorado; o som da porta, por onde fugia de noite, só para lhe dar um beijo, que rangia em demasia, no meio do silêncio. O som da minha flauta, por demais desafinada, perante as outras. A voz da minha mãe a chamar-me; a voz da minha professora primária; a voz de gentes, que não oiço há muito. O som das cascatas dos Olhos d'água. O barulho dos mergulhos na piscina da casa dos meus amigos. O som das panquecas que frito para o nosso lanche; o som dos teus passos, inconfundíveis. E outros sons, imensos sons.
Por ora, o silêncio reina no espaço. No meu consciente, todos os que descrevi, já soaram um a um, como de resto, soam muitas vezes. A memória, é uma capacidade fantástica, que nos aconchega tremendamente. Perder qualquer faculdade, será sempre situação dramática. A perda da memória será das piores, diria eu.

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