sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Da morte

Um Senhor que não importa o nome foi parar ao Hospital. Ontem, a meio da tarde, sacudia-se com uma força tremenda, estendido na sua cama de grades, sem ninguém o conseguir sossegar. Chamaram por mim, como se eu de algo lhe valesse. Olho para o Senhor a lutar pela vida com uma força tamanha, e para os filhos, que por um mero acaso se encontram no quarto, e que me dizem entredentes, que têm de ir regar o milho. Peço-lhes que aguardem um minuto, para que eu chame o 112, que demorou bem mais do que o minuto que lhes solicitei. Tive de soletrar o nome do Lar duas vezes, repetir a morada, e explicar o que se passava tudo ao mais ínfimo pormenor, a fim da situação chegar a quem de direito, algum tempo depois. Chego ao quarto, e os filhos saíram, não se fizesse tarde, e o milho se esvaísse ressequido. Ai que se calhar ele morre.
Não morreu, pelo menos ali. Se tivesse morrido, teria apenas e só, a minha mão a segura-lo. Mórbido? Não diria. Ciclo, vida, percurso, do qual todos parecem fugir como se as horas do fim, não fossem horas de vida.
Aos filhos, fiquei-lhes com um asco de morte. Espero bem que isto me passe.

6 comentários:

  1. ...

    Conheci este blog há pouco e logo me tocou, como aqueles amores à primeira vista, q podem durar o não, não importa.
    ...
    Lembrei-me do meu avô, q morreu a 11.04.09 e da minha mão a segurar a dele. Não sei se tive coragem se medo. Ambos talvez, coragem sim e medo sim, medo de qdo morrer não ter ninguém a segurar a minha mão com ternura.

    ...

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  2. Vague, um grande sorriso. Tenho exactamente o mesmo medo, talvez por lidar de perto com a morte, e ver que quem cá fica, lhe foge a medo. Sorrisos, e volta sempre. Serás bem vinda:)

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  3. : )Um sorriso tb pelo acolhimento caloroso

    Obrigada...

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  4. Um magnífico texto. Muito bem escrito, parabéns

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