terça-feira, 7 de setembro de 2010

Do dia

Foi à uns anos, lembrei-me agorinha mesmo. Até podem pensar, que a nóia do dia, se é que ela é perceptível, a isto se deve, mas não. Nada disso, antes fosse, que a ser já teria passado.

Levantei-me bem cedo, certa de que seria para sempre. Rumei à cabeleireira que me armou o cabelo num penteado mais ou menos e regresso a casa, bem a tempo de me enfiar no vestido escolhido a dedo para o dia. Era lindo, é um facto, e eu, assentei-lhe bem, modéstia à parte. As jóias que o compuseram ainda hoje me fazem as delícias. Um colar de lágrimas em prata e cinza, e uma coroa a condizer, porque caso não saibam, fui Rainha nesse dia. A minha amiga Cláudia chorou baba e ranho, a pobre, que há muito queria um dia daqueles para ela, e não lhe via jeito, e por isso, nunca percebi claramente, se chorava de alegria por mim, se de tristeza por ela, não gosto nada destas dúvidas. As restantes amigas sorriam, e ajudaram-me com a cauda gigantesca, que o caminho para a Igreja foi feito a pé, ou não morasse eu, bem na sua beira. O avô foi outro dos que chorou sem destino, mas esse, tenho certo, que foi de alegria. Vestiu-se de preto, que a viuvez a mais não permitia, e acompanhou-me de perto, com um sorriso que surgia no meio do choro, em tom amarelo. Tive direito a marcha, tocada ao vivo e ao piano, que não me venham cá com tretas, de músicas assim e assado, que casamento é com a marcha nupcial de Mendelssohn. No final de cerimónia, tudo bateu palmas, excepto os que já tinham saído, que levar com um casório até ao fim, só é giro para os noivos e pouco mais. Saímos, fotografamos, e rumamos para uma Quinta. O Senhor Vasco, animou a festa, com uma Música ao vivo um pouco morna, mas que chegou bem para aquecer toda a gente, que a boa disposição reinava por lá. Dancei até às cinco da manhã, praticamente não dormi, e no dia seguinte a festa continuou.
Tenho ali numa gaveta os álbuns de fotos, e uns vídeos em VHS, que já não tenho onde ver. Tenho também uns sapatos que pintei de preto, e que já me acompanharam a outras cerimónias. Tenho um coração que já se refez da cacetada, que já se meteu noutras e que não aprende, apre, que é burro.

1 comentário:

  1. Coitado, não queiras que aprenda, que não fez mal a ninguém para ficar indiferente ao calor e ao frio...

    ResponderEliminar

Deixar um sorriso...


Seguidores