quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Histórias de vida

Deu-se pela manhã este episódio. Estava fresco, que os dias de Outono a isso se prestam, que nos presenteiam com dias mornos, pespontados por manhãs e noites de ares frios e fortes, numa inconstância que em tudo nos influência, embora muitas vezes, nem atinjamos a consciência de tal. Limitações que nos cercam, que somos toldados por realidades circundantes, fortaleza delas, fraqueza nossa, nem bem sei que diga, que por externas que pareçam, em nada o são, e podem ser a estação do ano, como refiro, ou tantas outras coisas, por aqui e por ali. Somos de uma sensibilidade exacerbada, chego a julgar, que a termos uma existência mais coesa, menos branda e vacilante, por certo conseguiríamos caminhos mais lineares, que ou éramos bem dispostos ou eramos mal, considerando para isso apenas e só, as pulsões internas, já por si poderosas qb, que por isso, bem nos chegavam. Mas adiante.

Saio da porta e aperto o casaco, que nem me tapa o pescoço, por demais ao relento para o frio que se fazia sentir. Ela passa, sem me ver, ainda gosto da sensação, pouco sentida na pequena cidade, onde por norma quem olha, olha com sentido. É a filha, alta e cheia, de ar forte e decidido que me vê a sério e manda abrandar a mãe, por demais dentro do mundo interior, para ver quem quer que fosse, e como a percebo, que há mundos e mundos e o mundo dela dá que fazer. O seu ar nem engana, que de resto, de há muito sou conhecedora da história, e bem sei o que lhe amarga os dias, lhe desperta as noites, lhe corrói a alma. A filha segue, já em atraso para a escola, e ela queixa-se do mesmo que a atenta, já desde há uns meses. Nem bem sabe que faça à moça, em apoio lá na escola, mas que apesar disso, nas horas vagas, lhe escapa de casa, muitas das vezes na ausência dela, que trabalha em limpeza de sol a sol, e o marido, nem bem se aquieta com o assunto. Ultimamente por lá, até já há quem lhe diga, que anda na má vida, que a filha se deita com Homens por dinheiro, explica-me a medo, não vá ofender-me. Não me ofendi.
Ouvi-a, arrisquei alguns caminhos, longe do ideal, que quando as mentes jovens entram em ambição desmedida, sem suporte interior para lutar com coerência, nem por isso é fácil inverter-lhes o caminho, e é com uma debilidade angustiante, que assistimos a percursos perigosos, por demais perigosos.

Já há algum tempo, que não me sentia impotente, assim, tão ao perto. Nem por isso gosto, e para além disso o dia por cá continua frio, recheado de um sol enganador e fraco. Um desconforto.

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