Nem me ocorre falar dela, que de tão badalada já me ensurdece. Sou selectiva, é um dom que possuo, esqueço muito do que não me interessa e não escuto o que não quero ouvir, numa fantástica característica sacada aos Homens, mestres neste género de surdez. Já em tempos idos ouvia falar da crise, quase como se ela fosse uma constante na existência, nem sei que dirá agora, que dela falou outrora. Já pouco de bom se lê, que os jornais os telejornais e as revistas vocacionadas ao ramo, nem bom têm que se diga, devem pelo menos vender, que por norma o povo gosta de ler desgraça, embora me pareça, que na generalidade, já por cá anda tudo farto.
Latejaram-me porém os olhos perante uma conversa do pequeno Homem lá de casa, que me conta em confidência que divide o lanche com um amigo, porque ele nunca tem. Sempre houve, sempre há-de haver, por certo que sim que os males do mundo nunca se extinguiram, não será portanto agora em tempos de crise, que tal fenómeno se dará. Em tempos idos, minha mãe, levava um queijo azedo dentro de um pão, que lhe servia de almoço, aviado por minha doce avó, que nada mais tinha que lhe dar. Havia quem tivesse os gordos lanches, dos quais minha mãe diz ainda recordar o cheiro, e bem acredito, que o que nos causa cobiça, seja o que for, quando for e onde for, raramente se esquece, talvez até seja castigo divino por tamanho pecado. Ainda assim, dá que pensar.
Olha-me de olhos bem abertos e espera a aprovação, que só podia surgir, pelo que partilha por hoje, pão com fiambre e bolo de cenoura. E sorrimos os dois com um sorriso muito grande.
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