terça-feira, 30 de novembro de 2010

Dos mistérios quase perfeitos

Há muito me debruço por perceber tal fenómeno, sendo que o mesmo continua a constituir-me, um dos mistérios da nossa existência. Dona Flor, numa história verídica mas de nome fictício, sendo que conto esta, como podia contar outra, que muitas conheço desta dimensão, ocupou-se do filho largos meses, enquanto um malvado de um câncer o consumia aos poucochinhos, por dentro e por fora, quase parecendo, que se regalava com o padecimento de quem levava para si, tal o requinte malvado com que lentamente se regozijava, numa implacabilidade certeira mas calma. Um horror. Durante esse tempo, Dona Flor correu o mundo que se apresentava na envolta, não tendo corrido mais, porque os seus fracos recursos não lho permitiam, mas ainda assim, e no que estava ao seu alcance, correu a bom correr, socorrendo-se de médicos, homeopatas e curandeiros, sendo que nenhuma sabedoria ousava deixar de fora do seu encalço, poderia ser, que de onde menos se esperasse, viesse a cura para o seu bem mais precioso, que tomou tudo o que havia para tomar, desde produtos naturais, a químicos, a mezinhas, a rezas de fé. Nada lhe valeu, que a malvada da doença, por lenta que fosse, foi eficaz no seu propósito, e o seu propósito, era levar-lhe o filho, e assim aconteceu, numa tarde de Outono, em que o céu desabou em chuva, exactamente na altura, em que ele a deixou. Este desabamento do céu, nada foi quando comparado ao desabamento de Dona Flor, que no final do dia, manhã seguinte, vá, já o tempo tinha reestabelecido, as nuvens dissipado, o sol voltado. Mas Dona Flor quebrou para não mais levantar. Numa entrega desmedida a uma tristeza sem fim, quase parecendo que a força que emitiu, enquanto alguém dela precisou, se esgotou de repente no ar, e se esfumou para sempre, junto com quem não mais voltou. Talvez deixasse de ser precisa. Não deixa de me intrigar, essa durabilidade. Exactamente igual à necessidade. Uma das coisas onde roçamos a perfeição.

5 comentários:

  1. Vivi, de muito perto, uma história semelhante. A mãe seguiu a filha, muito pouco tempo depois.

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  2. Arrepia ler... por imaginar... ou tentar!
    Beijinho! Bom feriado!

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  3. Labirinto de Emoções1 de dezembro de 2010 às 14:01

    Perdi um irmão do mesmo modo e a minha mãe não foi atras porque ficamos mais dois, e cerramos fileiras para a levantar, mas nada voltou a ser como antes...já lá vão 26 anos e parece que foi ontem!
    Hoje, com ela debilitada e tambem eu a beira de uma intervenção cirurgica algo complicada, vejo nos olhos dela o medo, e recordo sempre as suas palavras..."se algo te acontece, bastam-me meia duzia de dias para resolver a minha vida...e vou ter contigo"
    Deus não devia permitir que os filhos partissem na frentes dos pais...mas ELE lá sabe o que faz!
    Espero recuperar rapido e puder continuar a le-la. ..))))

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  4. Labirinto, que tudo corra pelo melhor. Volte sempre, e muito depressa :):)

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  5. Labirinto de Emoções1 de dezembro de 2010 às 14:51

    Obrigada..)))*****

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