quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Clics e pensamentos



É frequente parar para a ver, que senão paro é difícil, dado que é quase sempre ali que está. Costuma fumar um cigarro na churrasqueira, e eu faço-lhe companhia enquanto a oiço falar, no pequeno cubículo com cheiro a frango assado, febra, ou o que for, depende da ementa do dia. Estava no computador a jogar um qualquer jogo onde tinha de salvar umas galinhas de uns ursos, nem bem sei o que aquilo era. Perguntei. Olha é um jogo, responde-me. Quando paro, preciso de fazer algo que não me deixe pensar, diz-me. O que se passa?, pergunto. O olhar mortiço diz-me quase tudo. Nada, não se passa nada, eis o problema. Oiço-a uma boa hora, no calor da churrasqueira. Saio de lá directa a casa, onde o duche me salva do cheiro que se entranhou em mim, e onde tento, a todo o custo, que a alma também se liberte, do amargo sentimento que se me pegou. Não libertou. Pena que nestas coisas da alma, não exista uma água, doce, benta ou salgada, que nos lave por dentro com a mesma eficácia com que nos lava por fora, seria tudo tão mais fácil.
O medo do pensamento inquieta-me, e bem perto, perto de mais, chego a encontrá-lo. Quem foge de pensar, foge de reflectir, de planear, de imaginar. Foge da intenção, do propósito, no fundo, quase que foge da vida que tem. Como se a abstracção, o esquecimento, a algo nos levasse, erro tremendo de quem perde a confiança, e como tal, acha que o melhor é esquecer, e assim indrominar a existência. Um desperdício.
Nem me posso entregar à impotência que por vezes sinto, perante gentes assim. O cerne, está no clic inicial, que parece nunca chegar, ou que chega tarde. Quem não lida com mentes de perto, nem bem percebe a sua importância. Importantíssimo, vos digo. É quando se dá, que o percurso se inverte, que a alma se sacode, e que volta o pensamento.

Aguardo ansiosamente o clic dela, e quem sabe alguns outros clics. Tento liga-los, numa inocência estapafúrdia, pela qual peco por vezes, pois bem sei, que a dar-se, tem de ter móbil interno e não externo. Deveria ser mais fácil para quem foge de pensar, perceber que o clic da mudança urge. Mas quem me disse um dia, que viver podia ser fácil, enganou-me bem enganada.

2 comentários:

  1. O pior é quando os clics nunca mais acontecem...

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  2. Às vezes é difícil darem-se os "clics". Mas, mais tarde ou mais cedo, eles lá acabam por se dar.

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