sábado, 28 de janeiro de 2012

Amélia, esperando muitas felizes

Não me quero querer que o nome que nos deram à nascensa possa significar os azares da nossa vida. Mas não quero querer apenas porque me parece absurdo tal ajuntamento, uma vez que poderíamos ter, e por obra de alguma alteração de humor circunstancial de um dos nossos progenitores, vindo com um outro nome, que nada tivesse a ver com o que de facto temos. Eu por cá já vos falei do meu problema sério com uma Nazaré Cristina, que ia sendo eu, um horror no qual já não vou debruçar-me mais por cá, sob pena de um dia o nome pegar, assim género alcunha, pseudónimo forçado, o que for. Mas de qualquer forma e a ter sido essa a minha graça, ou desgraça, não sei bem, não me parece que por isso, e apenas e só por isso, fosse detentora de uma outra sorte diferente da que tenho. Digo eu, sem forma alguma de vir a provar tal afirmação, claro está. Mas tudo isto para dizer que conheço muitas Amélias com azar na vida. Poderá ser uma mera casualidade, um facto sem qualquer ligação, mas não deixa de me soar a estranho a carga de Amélias que eu conheço abandonadas, adoentadas, azaradas, amarguradas. Abandonadas por um marido, adoentadas fora do tempo, azaradas nas escolhas, amarguradas por consequência. E a verdade é que nem conheço tão poucas Amélias quanto isso, são algumas, várias até. A última que me chegou às mãos perdeu a fala. Chega-me muita gente que perdeu a fala, que vive dentro do corpo que apenas se esvai em lágrimas e silêncios. De vez em quando esboça um sorriso tímido, de imediato apagado por um semblante carregado, sempre igual. Assusta-me esta prisão do silêncio. O querer pedir sem conseguir, o querer dizer sem que nada saia. Seria provável que se outro nome lhe tivessem chamado, tal ocorrência também se tivesse dado, isto seguindo o raciocínio que atrás refiro. Mas por obra do acaso é Amélia, e engrossa-me o rol das Amélias sem sorte na vida.
Hoje sorriu-me, por entre um rosto rosado pelo calor dos afagos de quem lhe está perto. Disse-lhe bom dia Dona Amélia. E aquele nome soou-me tão mal.

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