sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Da espontaneidade

Só a propósito do poste abaixo, venho deixar uns pensamentos meus. Se há exercícios que faço com gosto é imaginar impossibilidades. Coisas que nos poderiam ocorrer, mas que à luz da realidade tal e qual a conhecemos, seriam completamente impossíveis, não teriam execução. E estas imaginações podem ser de carácter diverso, sendo que podem entrar na existência de homenzinhos verdes a povoar a terra, só porque isso seria engraçado em termos de distracção, quando o espírito anda pesado, e a alma pede sorrisos, até a algumas simples variâncias que poderíamos introduzir na educação, no crescimento, na vivência dos dias. Não posso deixar de me inquirir como seria o mundo sem censura, e inundado de espontaneidades e genuinidades. Sem aquela coisa chata e castradora do não posso fazer isto porque parece mal, do não posso dizer aquilo porque posso ferir susceptibilidades, ou do não posso gostar de fado porque o meu grupo de amigos não gosta. E diz que é chato, logo o melhor é eu dizer que é chato também, ainda que a melodia do mesmo me embale pelas ruas de calçada Lisboeta. E então ouço-o escondidinho no meu quarto, no calor da noite, ou quando muito no sossego da tarde, de estores fechados até abaixo não vá o som escapulir e invadir as ruas, coisa terrível seria, com todos os outros a chacotear o som que me entra nos ouvidos, estranhos e obsoletos.
Bem sei que se ela existe, a censura, é porque provavelmente é coisa para ser mesmo necessária, porque nos barra os exageros, nos molda os actos, nos segura as entranhas, que a agirem livres poderiam até deixar-nos à mercê de algum sarilho, que o ser humano é bem capaz de se envolver neles, têm até uma especial graça, um jeito muito próprio, de nos espreitarem da soleira da porta exactamente onde iremos passar. Mas ainda assim, ainda que a sabê-la precisa, até talvez organizadora, para balizar uma mente gigantesca onde tudo pode caber, não consigo deixar de imaginá-la ausente, ou ainda pouco trabalhada, especialmente quando encontro olhos ingénuos, crentes, sinceros. São normalmente tão felizes.

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