domingo, 1 de janeiro de 2012

Desafios

Era manhã. Enquanto a cidade ainda dormia, sonolenta e cansada, ela acordou. Dos restos na noite guardou uns olhos maquilhados, demasiado cansados para se olharem ao espelho. Do ano transacto, guardou um conjunto de vivências gastas, translúcidas, nada concretas. Da janela entra-lhe uma névoa ténue e fria. Deveria gastar tempo em analisar o que foi, planear o que vem, mas prefere o silêncio da alma. A maldita teima acordar, pincelar-lhe o consciente de coisas difíceis, motes dolorosos, realidades corcundas, quase a roçar o chão. Faz força e consegue empurrar tudo aquilo. Não gosta de avaliações. Tenta então concentrar-se nos planos, que ainda que difíceis de pensar, deixam-na envolta numa aura de esperança. A esperança é talvez uma das grandezas do Homem. Envolve-o, impulsiona-o, transporta-o. Pode chegar a ser incómoda, se mal interpretada, mas cabe ao próprio não deixar entrar a ilusão. Ninguém no mundo está isento de esperança. Já a ilusão, e a deixar-mos que entre, pode manter-nos imersos em enganos internos, terrenos muito alagadiços. A dificuldade afigura-se séria se deixarmos de perceber a fraca linha que as distingue. Uma linha fina e agitada que parece saltitar de um lado para o outro, difícil de acompanhar. Pudéssemos nós agarra-la, e acredito que não mais a largaríamos. Mas é esguia, fugidia, quase desvanecida. Um desafio.

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