segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Modernices

Na mesa eles eram quatro. Mais ou menos todos da mesma idade, mais coisa, menos coisa, o meu um pouco mais velho. Ficaram sentados à parte, numa mesa perto da nossa. Enquanto a noite corria ao som de conversas já antigas, vivência idas e saudosas que sempre surgem quando nos juntamos, das bocas dos pequenos saltavam considerações sobre isto ou aquilo, enquanto trincavam gulodices de chocolate. Na televisão, a casa dos segredos, e não, não consegui evitá-la, perante a vontade geral dos intervenientes. De repente, levantei-me e escutei um dos mais pequenos, vociferar qualquer coisa como, fulano fez sexo à força com cicrana. Arregalei os olhos, olhei para o meu que me fixou com um olhar curioso, e balbuciei qualquer coisa a ver se os distraía. Não me considero nada retrógrada, a sério que não. Percebo que hoje os putos aprendem aos dez o que eu aprendia aos doze, mas também acho que isto terá de ter um limite, ao senão, daqui a uns anos, as bebedeiras que a minha geração apanhou aos catorze e aos quinze, vão saltar para o primeiro ciclo, coisa que me parece de gravidade considerável. E partindo do mesmo raciocínio, chegamos ao que aprendemos precocemente. Bem sei que as vivências de cada um estão cercadas do que cada um vive e experimenta, do que lhe é ensinado e dado a aprender, e muitas horas a ver determinados programas, tem de dar nisto. Mas ainda assim, e mesmo admitindo estes factos, um fedelho de oito a falar de sexo, e ainda para mais à força, perto do pai e de uma mesa de gente adulta, como se de uma coisa banal se tratasse é coisa para me deixar preocupada. Mas onde é que andam as consolas, os bakugans, os jogos, e outras coisas inofensivas que a rapaziada deveria fazer? E os limites, do dizer o quê, onde e ao pé de quem? Julgo que existem por aí pais que devem andar distraídos. Atarefados, absorvidos, pode ser isso. Temo porém onde isto nos poderá levar. Encarando as teorias do desenvolvimento, e nas mais diversas vertentes, o mesmo deverá ser feito de forma faseada, por etapas, arrumações, sempre tendo em conta o que a criança poderá albergar e digerir. E aos oito parece-me altura de ainda corarem ao ver um beijo na boca, ou quando muito, de acharem graça à coisa e até quererem experimentar. Longe dos olhos indiscretos, com a amiguinha de saia rosa, muito coquete. Aquilo até parece que é bom.
E também é boa a aprendizagem feita amiúde, com a magia certa na hora certa. Julgo tratar-se também disso mesmo, sendo que a magia do crescimento, parece-me muito abalada. E não sei o que será do futuro sem ela.

1 comentário:

  1. é também uma coisa que me preocupa - como conseguir o equilíbrio entre ter uma mente aberta, e não deixar que eles descambem. e o acesso á informação (via tv, internet, etc.) é cada vez mais facilitado, e não vamos conseguir nunca controlar o que eles ouvem/vêem. e há coisas que não se conseguem explicar em determinadas idades.
    mas enfim, desafios da maternidade, seguramente!

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