quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

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Não consigo encontrar em mim tamanho suficiente para viver uma dor de perder um filho por desaparecimento. Não consigo de resto conceber a perca de forma alguma, sinto-me pequena, enquanto o assunto trata sentires do mais profundo que conseguimos experimentar. Os filhos são sempre, e em situações normais, muito mais do que nós mesmos. Transformam-se na nossa razão, na nossa existência, na nossa ambição, no nosso sentido. Estou cansada de ler sobre o Rui Pedro, e sobre uma mãe que não encontra na vida mais razão alguma do que procurá-lo a ele, ou a razão do seu desaparecimento. São as razões que hoje possui. E estou cansada não dela, ou de lhe saber a dor, mas sim do seu sentimento sofrido, que nunca mais tem fim, e deveria. Penso nisto com alguma frequência, até porque o assunto continua na ordem do dia. Será por certo necessária alguma análise interna, para nos inteirarmos mais profundamente no que será esta ausência. Muitos especialistas já se debruçaram sobre estes factos, e já se inquiriram sobre o que será mais difícil, se uma dor definitiva de um fim fatal, se um desaparecimento no mundo, que pode ser um mundo grande ou ali do lado, um mundo bom ou um mundo mau, ainda que se possa manter a esperança. Há tanto mundo por ai. E o coração de uma mãe é sempre um coração aflito quando trata os filhos, um coração pessimista capaz de construir por dentro horrores, dúvidas, suposições. Somos tão fáceis de nos deixar embalar pelo mal. É uma realidade, uma fraqueza nossa. Todos nós experimentamos, em diversas circunstâncias, a preocupação de uma espera demorada, a angústia de um atraso infundado, que são na maioria das vezes nadas, obras do acaso, mas que são suficientes para nos amargurar os momentos que antecedem a chegada de quem esperamos. Ora agora então transportemos isto a uma vida, e a uma ausência de fundamento ou justificação, e pior, a uma duvida do que se possa ter passado com o nosso bem mais precioso. Não arrisco dizer que uma é melhor do que a outra, pois não existem coisas boas na desgraça. Ainda assim, um luto implica um fim e uma organização interna, um desaparecimento uma angústia eterna. As duas uma mágoa sem fim.

( E também era chegada a hora de deixarem de expor os rostos de sofrimento que o caso acarta, em revistas de rigor duvidoso, utilizadas pela mãe com o único objectivo de buscar ajuda, e que assim vendem um bocadinho mais.)

2 comentários:

  1. Subscrevo tudo - é aterrador o medo da perda de um filho, é um pânico de horror que não tem igual. Tb desejava que o sofrimento da mãe do Rui Pedro acabasse. Ela é o rosto estampado de um sofrimento em que nem sequer quero pensar. A melhor coisa são os nossos filhos, só por eles damos literalmente tudo. Bjinhos

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  2. É esse rosto dela que me perturba tanto. É mesmo uma imagem de sofrimento. Um terror...

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